Regulamento Bolsas 2016


Posição ofi­ci­al da ABIC fa­ce ao Regulamento do Concurso de Bolsas Individuais 2016

1. Critérios de exclusão

a) BD:

- “Não ter si­do selecionado/​a pa­ra atri­bui­ção de qual­quer bol­sa, in­de­pen­den­te­men­te da sua ti­po­lo­gia (bol­sa de in­ves­ti­ga­ção, dou­to­ra­men­to ou dou­to­ra­men­to em em­pre­sas) e du­ra­ção, no âm­bi­to de qual­quer Programas de Doutoramento FCT.(Guião de Avaliação FCT 2016)

Problema: Bolseiros com bol­sa de in­ves­ti­ga­ção (BI) pa­ra o 1º ano de pro­gra­ma dou­to­ral não têm pas­sa­gem ne­ces­sa­ri­a­men­te as­se­gu­ra­da a bol­sa de dou­to­ra­men­to (BD) pa­ra os 3 anos se­guin­tes de pro­gra­ma dou­to­ral. A não se­le­ção das su­as te­ses pa­ra con­ti­nu­a­rem a ser fi­nan­ci­a­das no âm­bi­to de um pro­gra­ma dou­to­ral não es­tá ne­ces­sa­ri­a­men­te re­la­ci­o­na­da com a qua­li­da­de das mes­mas, mas de­ve-se pe­lo con­trá­rio a um di­fe­ren­ci­al no nú­me­ro de BIs (em mai­or nú­me­ro) e BDs (em me­nor nú­me­ro) de um pro­gra­ma dou­to­ral. A ex­clu­são do con­cur­so de bol­sas in­di­vi­du­ais FCT ne­ga-lhes por is­so qual­quer ti­po de aces­so a fi­nan­ci­a­men­to pa­ra con­ti­nu­ar ou pa­ra re­co­me­çar os seus tra­ba­lhos de doutoramento.

A ABIC con­tes­ta es­te cri­té­rio, par­ti­cu­lar­men­te no que se re­fe­re à in­ter­di­ção a bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção (BIs) acei­tes em pro­gra­mas dou­to­rais, de­cla­ran­do que es­te é um cri­té­rio ma­ni­fes­ta­men­te in­jus­to. De fac­to, no âm­bi­to de pro­gra­mas de dou­to­ra­men­to FCT, exis­tem can­di­da­tos que ob­ti­ve­ram fi­nan­ci­a­men­to du­ran­te um ano (por meio de BI), ten­do fi­ca­do sem qual­quer ti­po de fi­nan­ci­a­men­to pa­ra pros­se­guir os seus es­tu­dos nos anos se­guin­tes de pro­gra­ma dou­to­ral. A ques­tão é que o nú­me­ro de BIs é ge­ral­men­te su­pe­ri­or ao nú­me­ro de Bolsas de dou­to­ra­men­to (BDs) pa­ra os anos se­guin­tes (i.e. não há bol­sas su­fi­ci­en­tes de 3 anos em al­guns pro­gra­mas dou­to­rais pa­ra as­se­gu­rar fi­nan­ci­a­men­to a to­dos os alu­nos que ti­ve­ram bol­sas de in­ves­ti­ga­ção pa­ra o 1º ano do dou­to­ra­men­to). Desta for­ma, a ABIC in­ter­ce­de pa­ra que, ou se al­te­re es­ta po­lí­ti­ca nos pro­gra­mas dou­to­rais, con­fe­rin­do a es­tes o mes­mo nú­me­ro de BDs que BIs de 1 ano, ou se re­vo­gue es­te cri­té­rio de ex­clu­são no con­cur­so de bol­sas FCT.

De qual­quer das for­mas, vis­to que os atu­ais can­di­da­tos acei­tes em pro­gra­mas dou­to­rais que go­zam ou go­za­ram de BI no 1º ano não es­ta­vam in­for­ma­dos acer­ca des­te no­vo cri­té­rio de ex­clu­são pa­ra con­cur­so de bol­sas FCT, se­rá do in­te­res­se dos can­di­da­tos a graus de dou­to­ra­men­to, co­mo da pró­pria FCT, que já efe­tu­ou um in­ves­ti­men­to nes­tes pro­je­tos pe­lo me­nos por um ano, que es­ta re­gra se­ja re­vo­ga­da, per­mi­tin­do as­sim que es­tes bol­sei­ros tam­bém pos­sam con­cor­rer a bol­sas in­di­vi­du­ais FCT.

No mí­ni­mo, a ABIC exi­ge que a FCT não apli­que es­ta re­gra re­tro­a­ti­va­men­te uma vez que se es­tá a pre­ju­di­car quem con­cor­reu a bol­sas de in­ves­ti­ga­ção (in­cluin­do mui­tos que o fi­ze­ram por­que não con­se­gui­ram BD em an­te­ri­o­res con­cur­sos de bol­sas FCT) sem sa­ber que is­so os co­lo­ca­ria de par­te em fu­tu­ros concursos.

b) BPD:

- “Ter con­cluí­do, até à da­ta de sub­mis­são da can­di­da­tu­ra, o grau aca­dé­mi­co de dou­tor(Guião de Avaliação FCT 2016)

Problema: Dada a tí­pi­ca mo­ro­si­da­de do pro­ces­so, sig­ni­fi­ca que, ti­pi­ca­men­te, os can­di­da­tos te­rão de es­tar um ano no desemprego.

A re­gra de ter con­cluí­do o grau à da­ta de sub­mis­são de can­di­da­tu­ra já con­sis­tia uma con­di­ção de ad­mis­si­bi­li­da­de a con­cur­so no ano pas­sa­do. No en­tan­to, a ABIC re­cor­da que es­ta re­gra foi ob­je­to de dis­cus­são pú­bli­ca. Sabemos que gran­de par­te da pro­du­ção ci­en­tí­fi­ca em Portugal é cons­truí­da por bol­sei­ros pre­cá­ri­os e jul­ga­mos que a in­tro­du­ção des­ta re­gra vem au­men­tar ain­da mais a pre­ca­ri­e­da­de do tra­ba­lho em ci­ên­cia, uma vez que quem não con­si­ga con­cluir o grau até à da­ta de sub­mis­são (o que acon­te­ce na mai­or par­te dos ca­sos por ques­tões de for­ça mai­or e não por von­ta­de dos bol­sei­ros) fi­ca­rá con­de­na­do a es­pe­rar mais um ano pe­lo pró­xi­mo con­cur­so. Mais uma vez, é do in­te­res­se de to­dos aque­les que cons­tro­em o sis­te­ma ci­en­tí­fi­co no dia-a-dia que es­ta re­gra se­ja re­vo­ga­da, já que a con­ti­nui­da­de do tra­ba­lho ci­en­tí­fi­co que vai sen­do de­sen­vol­vi­do é con­di­ção ne­ces­sá­ria pa­ra a sua qualidade.

- Impossibilidade de go­zar de BPD pa­ra quem can­ce­lou ou in­ter­rom­peu an­te­ri­or BPD (“Não ter be­ne­fi­ci­a­do de uma BPD di­re­ta­men­te fi­nan­ci­a­da pe­la FCT, in­de­pen­den­te­men­te da sua du­ra­ção.” (Guião de Avaliação FCT 2016))

Problema: Há si­tu­a­ções de in­ter­rup­ção for­ça­da de uma bol­sa (por exem­plo, por ques­tões de as­sis­tên­cia pro­lon­ga­da su­pe­ri­or a 1 ano, em ca­so de do­en­ça de ter­cei­ro) que não são ti­das em con­ta e que aca­bam por pre­ju­di­car in­jus­ta­men­te o candidato.

A FCT de­ve­ria re­ver es­te cri­té­rio e pos­si­bi­li­tar a ida a con­cur­so a to­dos os candidatos.

2. Critérios de co­ta­ção ou penalização

a) co­ta­ção (BD):

- Não equi­pa­ra­ção de li­cen­ci­a­tu­ra de 5 (ou mais) anos com te­se a mes­tra­do integrado 

- Favorecimento os mes­tra­dos in­te­gra­dos so­bre as li­cen­ci­a­tu­ras (e.g. li­cen­ci­a­tu­ra pré-Bolonha com 16 va­lo­res tem me­nos pon­tu­a­ção ba­se do que um mes­tra­do in­te­gra­do de 15 va­lo­res), e que si­mul­ta­ne­a­men­te se equi­pa­rem os mes­tra­dos pré- e pós-Bolonha, bem co­mo li­cen­ci­a­tu­ras pré- e pós-Bolonha.

Problema: há li­cen­ci­a­tu­ras pré-Bolonha com du­ra­ção de 5 ou 6 anos e com te­se fi­nal. Sendo os mes­tra­dos pós-Bolonha na sua mai­o­ria com du­ra­ções de 5 anos e com te­se, não de­ve­ria ser fei­ta equi­pa­ra­ção? A equi­va­lên­cia pa­ra a mes­ma no­ta che­ga a dar uma di­fe­ren­ça de 1.5 pon­tos no sub­cri­té­rio Percurso Académico.

A ABIC pe­de pa­ra que es­tes cri­té­ri­os de ava­li­a­ção se­jam re­vis­tos e se­jam atri­buí­das pon­tu­a­ções ten­do em con­ta se a li­cen­ci­a­tu­ra e o mes­tra­do é pré- ou pós-Bolonha. As li­cen­ci­a­tu­ras pré-Bolonha não de­ve­ri­am ser uni­ver­sal­men­te con­si­de­ra­das in­fe­ri­o­res a mes­tra­dos pós-Bolonha.

- Subcritério cur­rí­cu­lo pes­so­al em can­di­da­tu­ras a BD com sub­je­ti­vi­da­de na ava­li­a­ção:A pon­tu­a­ção a atri­buir tra­du­zi­rá a con­clu­são do ava­li­a­dor so­bre a glo­ba­li­da­de do cur­rí­cu­lo” (Guião de Avaliação FCT 2016)

Problema: sub­je­ti­vi­da­de do processo.

A ABIC exi­ge que a ava­li­a­ção do cur­rí­cu­lo in­di­vi­du­al não de­ve­rá ser dei­xa­da ao cri­té­rio do ava­li­a­dor, pois tal co­mo es­ti­pu­la­do pe­lo Código Civil Português, faz par­te da trans­pa­rên­cia de qual­quer con­cur­so pú­bli­co que os cri­té­ri­os de ava­li­a­ção en­vol­vi­dos na pon­de­ra­ção dos vá­ri­os ele­men­tos das can­di­da­tu­ras se­jam de­fi­ni­dos e tor­na­dos pú­bli­cos. Sabemos que exis­tem sem­pre vá­ri­os ava­li­a­do­res en­vol­vi­dos no pro­ces­so de se­le­ção das can­di­da­tu­ras. Se a ava­li­a­ção do CV de­pen­der do cri­té­rio de ca­da um de­les, as si­tu­a­ções de in­jus­ti­ça nos re­sul­ta­dos da se­le­ção se­rão mui­to mais pro­vá­veis. Por um la­do, pen­sa­mos que o ava­li­a­dor de­ve pos­suir um guião pa­ra o seu tra­ba­lho de for­ma a di­ri­gir e ga­ran­tir a qua­li­da­de da sua ava­li­a­ção e, por ou­tro, os can­di­da­tos têm o di­rei­to de sa­ber co­mo se­rão ava­li­a­das as su­as candidaturas.

b) pe­na­li­za­ção (BPD):

- “Será atri­buí­da uma bo­ni­fi­ca­ção de va­lor equi­va­len­te a 20% da pon­tu­a­ção atri­buí­da ao cri­té­rio “cur­rí­cu­lo pes­so­al”, aos can­di­da­tos que te­nham ob­ti­do o dou­to­ra­men­to nu­ma uni­ver­si­da­de por­tu­gue­sa e que, si­mul­ta­ne­a­men­te, pre­ten­dam fa­zer o pós-dou­to­ra­men­to:
– nu­ma ins­ti­tui­ção de aco­lhi­men­to di­fe­ren­te da que lhes con­fe­riu o grau;
ou,
– num dis­tri­to do ter­ri­tó­rio na­ci­o­nal di­fe­ren­te da­que­le em que se lo­ca­li­za­va a ins­ti­tui­ção on­de ob­ti­ve­ram o grau de dou­tor, ain­da que a ins­ti­tui­ção de aco­lhi­men­to per­ten­ça à mes­ma uni­ver­si­da­de que lhe con­fe­riu o grau de dou­tor;
ou,
– na mes­ma ins­ti­tui­ção on­de ob­ti­ve­ram o grau de dou­tor após um per­cur­so pro­fis­si­o­nal ou ci­en­tí­fi­co de, pe­lo me­nos, 2 anos fo­ra de­la.
(Guião de Avaliação FCT 2016)

Problema: mo­bi­li­da­de traz instabilidade.

Para além dos fa­to­res que são do co­nhe­ci­men­to pú­bli­co que con­tri­bu­em pa­ra a pre­ca­ri­e­da­de da pro­du­ção ci­en­tí­fi­ca em Portugal, em gran­de par­te apoi­a­da no tra­ba­lho pre­cá­rio de bol­sei­ros, a ABIC con­si­de­ra que a bo­ni­fi­ca­ção da mo­bi­li­da­de irá con­tri­buir pa­ra o au­men­to des­sa mes­ma pre­ca­ri­e­da­de. Os in­ves­ti­ga­do­res e bol­sei­ros têm vi­da pes­so­al e fa­mi­li­ar num de­ter­mi­na­do ter­ri­tó­rio. Consideramos que o fac­to de te­rem de se des­lo­car pa­ra ou­tro cen­tro com o fim de te­rem mais pos­si­bi­li­da­des de con­se­guir fi­nan­ci­a­men­to pa­ra pros­se­guir os seus es­tu­dos, irá con­tri­buir pa­ra a ins­ta­bi­li­da­de das su­as vi­das pes­so­ais e fa­mi­li­a­res, as­sim co­mo pa­ra a que­bra de re­des pro­fis­si­o­nais im­por­tan­tís­si­mas pa­ra con­ti­nui­da­de e a acu­mu­la­ção de sa­ber na sua área ci­en­tí­fi­ca de tra­ba­lho. Salientamos aqui que, com es­ta re­gra, as mu­lhe­res in­ves­ti­ga­do­ras e bol­sei­ras que te­nham fi­lhos a seu car­go, se­rão as pri­mei­ras a ser pre­ju­di­ca­das no pros­se­gui­men­to da sua car­rei­ra, o que nos pa­re­ce in­jus­to. Por ou­tro la­do, pen­sa­mos que os in­ves­ti­ga­do­res e bol­sei­ros que não se en­con­trem a tra­ba­lhar em Lisboa (on­de exis­tem vá­ri­as ins­ti­tui­ções e cen­tros de in­ves­ti­ga­ção por ca­da área ci­en­tí­fi­ca) tam­bém sai­rão pre­ju­di­ca­dos, pois se qui­se­rem con­se­guir a bo­ni­fi­ca­ção pe­la mo­bi­li­da­de, te­rão ne­ces­sa­ri­a­men­te de sair da sua ci­da­de pa­ra pros­se­gui­rem os seus es­tu­dos. Por ou­tro la­do, a ABIC con­tes­ta que a bo­ni­fi­ca­ção atri­buí­da à mo­bi­li­da­de se apli­que aos dou­to­ra­dos em uni­ver­si­da­des por­tu­gue­sas, mas não se apli­que aos dou­to­ra­dos que que­rem vol­tar do es­tran­gei­ro pa­ra fa­zer ci­ên­cia em Portugal. Por vá­ri­as ra­zões, pa­re­ce-nos que es­te pon­to de­ve­ria ser re­vo­ga­do ou, no mí­ni­mo, corrigido.

3. Períodos no estrangeiro

a) BPD:

- “As BPD po­dem, a tí­tu­lo ex­ce­ci­o­nal e de­pen­den­do de dis­po­ni­bi­li­da­de or­ça­men­tal da

en­ti­da­de fi­nan­ci­a­do­ra, in­cluir pe­río­dos de ati­vi­da­de no es­tran­gei­ro, com a duração

má­xi­ma de um ano pa­ra dou­to­ra­dos em Portugal e de seis me­ses pa­ra dou­to­ra­dos no

es­tran­gei­ro.” (Guião de Avaliação FCT 2016)

A ABIC pe­de pa­ra que as du­ra­ções pa­ra BPD no es­tran­gei­ro se­jam re­vis­tas e pos­sam ser pro­lon­ga­das ten­do em con­ta o pla­no de tra­ba­lhos do candidato.

4. Documentação necessária

a) BPD:

- Carta de Motivação e de Recomendação

Perante a no­va exi­gên­cia da FCT de apre­sen­ta­ção de 1 car­ta de mo­ti­va­ção e de 2 car­tas de re­co­men­da­ção, a ABIC con­cor­da que a car­ta de mo­ti­va­ção po­de­rá dar uma vi­são abran­gen­te do pro­je­to de in­ves­ti­ga­ção, com­ple­men­tan­do o mes­mo e fo­can­do os pon­tos mais im­por­tan­tes. No en­tan­to, o pe­di­do adi­ci­o­nal e obri­ga­tó­rio de car­tas de re­co­men­da­ção vem acres­cen­tar bu­ro­cra­cia des­ne­ces­sá­ria. No pas­sa­do, as car­tas de re­co­men­da­ção No pas­sa­do, as car­tas de re­co­men­da­ção fo­ram eli­mi­na­das do con­cur­so (du­ran­te os man­da­tos do Ministro da Ciência Mariano Gago), no es­pí­ri­to do pro­gra­ma ‘sim­plex’. A ABIC pe­de as­sim que se ex­clua a obri­ga­to­ri­e­da­de de apre­sen­tar car­tas de recomendação.