Concorreram mais investigadores mas a FCT atribuiu menos bolsas

Candidatos au­men­ta­ram às bol­sas de in­ves­ti­ga­ção da Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia.

 

Concorreram mais in­ves­ti­ga­do­res mas a FCT atri­buiu me­nos bolsas

Lusa, 02 de Abril 2013

 

 

O nú­me­ro de can­di­da­tos a bol­sas de in­ves­ti­ga­ção de dou­to­ra­men­to e pós-dou­to­ra­men­to da Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT) au­men­tou, ten­do con­cor­ri­do mais 1205 in­ves­ti­ga­do­res em re­la­ção ao ano an­te­ri­or, em­bo­ra até ao mo­men­to te­nham si­do atri­buí­das me­nos bolsas.

 

Há “jo­vens in­ves­ti­ga­do­res” por­tu­gue­ses que são pais de fa­mí­lia e es­tão per­to dos 40 anos. A mai­o­ria re­ce­be uma bol­sa, mas tam­bém há quem tra­ba­lhe sem ser re­mu­ne­ra­do ou sem qual­quer re­co­nhe­ci­men­to, aler­ta a as­so­ci­a­ção que os representa.

 

Apesar da ins­ta­bi­li­da­de, o nú­me­ro de can­di­da­tos a bol­sas de in­ves­ti­ga­ção da FCT não pá­ra de au­men­tar: es­te ano con­cor­re­ram mais 1205 in­ves­ti­ga­do­res do que no ano pas­sa­do a bol­sas de dou­to­ra­men­to e pós-dou­to­ra­men­to mas, até ao mo­men­to, fo­ram atri­buí­das me­nos 303 do que em 2011.

 

Segundo da­dos avan­ça­dos à Lusa, em 2011 a FCT con­si­de­rou vá­li­das 5285 can­di­da­tu­ras. No en­tan­to, mais de me­ta­de das pro­pos­tas não re­ce­beu apoio fi­nan­cei­ro. No to­tal, fo­ram atri­buí­das 2157 bol­sas (1469 pa­ra dou­to­ra­men­tos e 688 pa­ra pós-doutoramento).

 

Este ano, a FCT con­si­de­rou que ha­via 6490 can­di­da­tu­ras vá­li­das e, até me­a­dos de Março, de­ci­diu apoi­ar 1854 pro­jec­tos (1186 re­la­ti­vos a dou­to­ra­men­tos e 668 a pós-dou­to­ra­men­tos), nú­me­ros que po­de­rão au­men­tar, já que ain­da es­tá a de­cor­rer o pe­río­do de re­cur­so, su­bli­nha a as­ses­so­ra da FCT.

 

Apesar de ha­ver ca­da vez mais gen­te a con­cor­rer, a vi­da des­tes “jo­vens bol­sei­ros é mui­to ins­tá­vel”, re­fe­re Tiago Lapa, da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC). Para o re­pre­sen­tan­te, a ex­pres­são “jo­vem bol­sei­ro” é uma “fa­lá­cia”: “Há in­ves­ti­ga­do­res de to­das as ida­des e há quem te­nha bol­sas du­ran­te anos e anos. Tenho um co­le­ga que é bol­sei­ro des­de 1996 e não é ca­so raro”.

 

Na re­a­li­da­de, a de­sig­na­ção abar­ca “des­de re­cém-li­cen­ci­a­dos até aos in­ves­ti­ga­do­res que já têm fa­mí­lia e fi­lhos”, su­bli­nha o re­pre­sen­tan­te da ABIC, lem­bran­do que o es­pí­ri­to do le­gis­la­dor que cri­ou o “Estatuto do Bolseiro de Investigação” era que es­te es­ta­do fos­se provisório.

 

No en­tan­to, se­gun­do a ABIC, a úni­ca coi­sa pro­vi­só­ria é a si­tu­a­ção la­bo­ral: “Têm as mes­mas obri­ga­ções que qual­quer tra­ba­lha­dor, mas sem con­tra­to de tra­ba­lho. Muitos fa­zem um tra­ba­lho im­pres­cin­dí­vel pa­ra o fun­ci­o­na­men­to das ins­ti­tui­ções on­de tra­ba­lham, mas não há uma certificação”.

 

Tiago Lapa lem­bra que es­tes in­ves­ti­ga­do­res aca­bam por ser vis­tos co­mo um gru­po “que an­da a brin­car à ci­ên­cia”, já que “o con­tra­to de tra­ba­lho é um sím­bo­lo de adultês”.

 

Apesar de a vi­da de um bol­sei­ro ser ins­tá­vel, exis­tem si­tu­a­ções ain­da mais gra­vo­sas, co­mo a dos in­ves­ti­ga­do­res que “tra­ba­lham sem re­ce­ber qual­quer re­mu­ne­ra­ção nem re­co­nhe­ci­men­to”. Segundo Tiago Lapa, uns fa­zem-no na es­pe­ran­ça de vir a con­se­guir fi­nan­ci­a­men­to pa­ra os seus pro­jec­tos e ou­tros fi­cam sem bol­sa an­tes de ter­mi­nar os tra­ba­lhos de in­ves­ti­ga­ção. Uns e ou­tros aca­bam por tra­ba­lhar sem receber.

 

Por ou­tro la­do, há ins­ti­tui­ções on­de al­guns tra­ba­lhos que ha­bi­tu­al­men­te eram fei­tos por bol­sei­ros es­tão “ago­ra a ser fei­tos por alunos”.

 

A ABIC é a an­fi­triã dos cer­ca de 300 par­ti­ci­pan­tes es­pe­ra­dos pa­ra o con­gres­so eu­ro­peu dos jo­vens in­ves­ti­ga­do­res ci­en­tí­fi­cos – Eurodoc, a Federação Europeia dos Doutorandos e Jovens Investigadores, que de­cor­re quin­ta e sex­ta-fei­ra e que tem co­mo te­ma prin­ci­pal “Os Grandes Desafios Societais Europeus: o pa­pel dos jo­vens investigadores”.

 

Em 15 anos, hou­ve um au­men­to de fi­nan­ci­a­men­to de bol­sas de dou­to­ra­men­to e pós-dou­to­ra­men­to, que pas­sa­ram de pou­co mais de dez mi­lhões de eu­ros (em 1995) pa­ra cer­ca de 155 mi­lhões em 2011, se­gun­do da­dos da FCT. No en­tan­to, Tiago Lapa su­bli­nha que “des­de 2002 que o va­lor das bol­sas não é ac­tu­a­li­za­do”. Segundo a ABIC, as bol­sas de dou­to­ra­men­to ron­dam os 980 eu­ros e as de pós-dou­to­ra­men­to os 1400 euros.

 

Depois de qua­se du­as dé­ca­das em que o nú­me­ro de bol­sas atri­buí­das es­te­ve sem­pre a cres­cer, a ten­dên­cia co­me­ça ago­ra a in­ver­ter-se, aler­tou a ABIC.