A Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) vem a público manifestar a sua posição em relação às recentes notícias divulgadas sobre a insuficiência de verbas da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) para o pagamento de bolsas de investigação e salários.
Conforme relatado pelo jornal Público, e segundo fontes do Governo, a FCT enfrenta uma crise financeira que compromete a continuidade de diversos projectos de investigação e o pagamento de bolsas e salários aos investigadores. Assim apresentada, esta situação teria um impacto directo e severo na comunidade científica nacional, podendo afectar milhares de investigadores que dependem destes rendimentos para prosseguir com os seus projectos de investigação.
A ABIC considera inaceitável que a ciência e a investigação sejam relegadas a uma posição de precariedade e insegurança financeira, como se verifica. A falta de financiamento adequado não só prejudica o progresso científico como também desmotiva aqueles que pretendam seguir carreiras na investigação, um sector crucial para o desenvolvimento do país.
O subfinanciamento não é uma novidade e é resultado de escolhas políticas partilhadas por sucessivos governos ao longo dos anos, que têm consistentemente negligenciado a ciência e os seus profissionais. Não ignoramos por isso que esta situação não é nova e que estas declarações visam desviar a atenção pública da falta de soluções que este governo tem para apresentar (e eventualmente justificar medidas futuras no sentido contrário ao investimento necessário), através da crítica à governação anterior.
Importa sublinhar que o subfinanciamento do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN) é um problema que tem assolado o sector da ciência e do ensino superior em Portugal há décadas. Nos últimos anos, continuou-se a verificar o estrangulamento financeiro das instituições de Ensino Superior e do SCTN, acompanhado por um desinvestimento público significativo. Paralelamente, observa-se um reforço da gestão empresarial das universidades, a ampliação do recurso a mecanismos fundacionais e a instituições de direito privado e o crescente recurso ao outsourcing. Além disso, há uma degradação das formas de participação e democracia institucional.
A ABIC apela à mobilização de todos os investigadores, instituições académicas, e sociedade civil para exigir soluções concretas e urgentes que assegurem o financiamento contínuo e adequado para a ciência em Portugal.