Comunicado • Inquérito da ABIC relativo aos pedidos de bolsas excepcionais

Perante a ine­xis­tên­cia de in­for­ma­ção ofi­ci­al por par­te da FCT, na sequên­cia da co­mu­ni­ca­ção par­ci­al dos re­sul­ta­dos dos pe­di­dos de bol­sas ex­cep­ci­o­nais ao abri­go do Regulamento de Atribuição de Bolsas Excecionais de Mitigação de Impactos da COVID-19 nas Atividades de Investigação, a ABIC pro­mo­veu um ques­ti­o­ná­rio com o ob­jec­ti­vo de per­ce­ber a si­tu­a­ção dos/​as bolseiros/​as.

 

Responderam ao inqué­ri­to 741 bol­sei­ros, dos quais 672 so­li­ci­ta­ram a atri­bui­ção de uma bol­sa ex­cep­ci­o­nal ao abri­go des­te re­gu­la­men­to. As jus­ti­fi­ca­ções apre­sen­ta­das pe­los 69 bol­sei­ros que in­di­ca­ram não ter so­li­ci­ta­do es­ta bol­sa ex­cep­ci­o­nal, pren­de­ram-se, na mai­o­ria dos ca­sos, com: si­tu­a­ções em que se en­ten­de que o con­fi­na­men­to não con­di­ci­o­nou o tra­ba­lho (27,7%); a bol­sa não se en­con­trar den­tro das si­tu­a­ções pre­vis­tas pa­ra o pe­di­do – bol­sa de projecto/​indirectamente fi­nan­ci­a­da pe­la FCT (20%); não ter ti­do co­nhe­ci­men­to ou tem­po pa­ra so­li­ci­tar o pe­di­do de bol­sa (10,8%); o ori­en­ta­dor ci­en­tí­fi­co não es­tar de acor­do com o pe­di­do (9,2%). 

 

De en­tre os bol­sei­ros que so­li­ci­ta­ram bol­sa ex­cep­ci­o­nal, 572 (85,1%) con­ti­nu­am sem res­pos­ta ao seu pe­di­do. Este da­do é par­ti­cu­lar­men­te gra­ve, se con­si­de­rar­mos  que 26,3% dos bol­sei­ros que so­li­ci­ta­ram es­ta bol­sa ex­cep­ci­o­nal ter­mi­na­rão a sua bol­sa até ao fi­nal des­te ano e 17,4% já vi­ram a sua bol­sa ter­mi­nar. De en­tre es­tes dois gru­pos, res­pec­ti­va­men­te 62,7% e 70,9% dos bol­sei­ros ain­da não ti­nham ti­do qual­quer res­pos­ta, a que se so­mam to­dos os bol­sei­ros cu­ja bol­sa ter­mi­ne a par­tir de Janeiro de 2022. No ca­so dos in­ves­ti­ga­do­res que já não têm bol­sa, a lar­ga mai­o­ria (78,6%, 92 bol­sei­ros) ter­mi­nou-a há mais de 4 me­ses, sen­do de as­si­na­lar a exis­tên­cia de bol­sei­ros cu­ja bol­sa ter­mi­nou há, pe­lo me­nos, 10 me­ses e até há mais de 1 ano.

 

São par­ti­cu­lar­men­te pre­o­cu­pan­tes as si­tu­a­ções dos 110 bol­sei­ros que en­tre­tan­to fi­ca­ram sem bol­sa e pre­ci­sa­ram de se sus­ten­tar atra­vés de mei­os al­ter­na­ti­vos. Destes, 51,8% tem re­cor­ri­do às su­as pou­pan­ças ou à aju­da fi­nan­cei­ra de fa­mi­li­a­res e ami­gos, sen­do que 29,1% co­me­çou mes­mo a tra­ba­lhar nou­tra área ou nou­tra bol­sa, ape­sar do re­gi­me de de­di­ca­ção ex­clu­si­va, que é, aliás, a ra­zão apon­ta­da por 19,1% dos bol­sei­ros pa­ra não te­rem pro­cu­ra­do um tra­ba­lho al­ter­na­ti­vo, ape­sar de ne­ces­si­ta­rem. Como a ABIC aler­tou an­te­ri­or­men­te, a FCT tem in­for­ma­do os bol­sei­ros de que po­de­rá não per­mi­tir a atri­bui­ção da bol­sa ex­cep­ci­o­nal ca­so es­tes ar­ran­jem ou­tro tra­ba­lho após o tér­mi­no das su­as bol­sas, es­cu­dan­do-se no re­gi­me de de­di­ca­ção ex­clu­si­va, vis­to que a bol­sa ex­cep­ci­o­nal te­rá iní­cio no dia ime­di­a­ta­men­te se­guin­te ao úl­ti­mo dia da bol­sa anterior.

 

Quanto à du­ra­ção das bol­sas so­li­ci­ta­das, ape­sar de uma gran­de par­te dos bol­sei­ros in­qui­ri­dos (44,7%) con­si­de­rar que o seu tra­ba­lho so­freu um atra­so de até 6 me­ses, hou­ve um nú­me­ro as­si­na­lá­vel de pe­di­dos com du­ra­ção su­pe­ri­or a 10 me­ses (27,4%) (Fig.1). 

Figura 1 – Percentagem de pe­di­dos de bol­sa ex­tra­or­di­ná­ria, por in­ter­va­los de duração

 

De en­tre os 100 bol­sei­ros que ob­ti­ve­ram res­pos­ta (ape­nas 14,9%, 34% dos quais já não ten­do a bol­sa ori­gi­nal), as­si­na­la­mos que a cla­ra mai­o­ria (88%) re­ce­beu uma res­pos­ta po­si­ti­va ao seu pe­di­do. Contudo, 35,2% não viu ser atri­buí­do o pe­río­do ex­cep­ci­o­nal so­li­ci­ta­do – a mai­o­ria (61,3%) in­di­ca que fo­ram atri­buí­dos me­nos 1 a 3 me­ses do que o in­di­ca­do no re­que­ri­men­to, sen­do que aos res­tan­tes fo­ram cor­ta­dos en­tre 4 a 9 me­ses ao seu pe­di­do. Assim, as bol­sas ex­tra­or­di­ná­ri­as até ago­ra atri­buí­das te­rão em mé­dia en­tre 4 a 6 me­ses de du­ra­ção, sen­do que 73,3% du­ra­rão en­tre 1 e 6 me­ses (Fig. 2). Dos 12 pe­di­dos re­cu­sa­dos, foi re­fe­ri­do em 3 ca­sos que o pai­nel de ava­li­a­ção não con­si­de­rou ou não re­ce­beu do­cu­men­tos e jus­ti­fi­ca­ções de­ta­lha­das que os bol­sei­ros in­di­cam ter en­vi­a­do, e em 4 ca­sos os pe­di­dos fo­ram re­en­ca­mi­nha­dos pa­ra a pror­ro­ga­ção nor­mal, vis­to se­rem bol­sas ori­gi­nal­men­te de 36 me­ses. Esta úl­ti­ma si­tu­a­ção re­ve­la-se ina­cei­tá­vel, pre­ci­sa­men­te por­que es­tas bol­sas, tal co­mo o no­me in­di­ca, são ex­cep­ci­o­nais, atri­buí­das de­vi­do a cons­tran­gi­men­tos es­pe­cí­fi­cos, e por­tan­to de­ve­ri­am ser acu­mu­lá­veis com a pos­si­bi­li­da­de de pror­ro­ga­ção pre­vis­ta pa­ra as bol­sas de du­ra­ção in­fe­ri­or a 4 anos. A ABIC in­ci­ta a que to­dos os bol­sei­ros que não ve­jam os seus pe­di­dos acei­tes, ou cu­ja du­ra­ção da bol­sa atri­buí­da con­si­de­rem não per­mi­tir o cum­pri­men­to do seu pla­no de tra­ba­lhos, con­tes­tem a de­ci­são pe­ran­te a FCT.

Figura 2 – Percentagem de bol­sas atri­buí­das, por in­ter­va­los de duração

 

Duas se­ma­nas pas­sa­ram des­de o iní­cio da di­vul­ga­ção a con­ta-go­tas dos re­sul­ta­dos. A ABIC la­men­ta uma vez mais a mo­ro­si­da­de e in­ter­mi­tên­cia de um pro­ces­so que se exi­gia cé­le­re, e re­for­ça a ne­ces­si­da­de de res­pos­ta ur­gen­te por par­te da FCT a to­dos os bol­sei­ros cu­jos pe­di­dos de bol­sa ex­cep­ci­o­nal ain­da se en­con­tram por di­vul­gar. Como se a au­sên­cia de res­pos­tas à ge­ne­ra­li­da­de dos bol­sei­ros não fos­se su­fi­ci­en­te­men­te gra­ve, so­mam-se tam­bém os bol­sei­ros que já não têm bol­sa nem ren­di­men­tos e aos quais a FCT as­se­gu­rou uma res­pos­ta pri­o­ri­tá­ria que, con­fir­ma­mos ago­ra, con­ti­nua sem ser da­da. A ur­gên­cia das inú­me­ras si­tu­a­ções des­cri­tas pe­los bol­sei­ros à ABIC não se co­a­du­na com os atra­sos e a des­res­pon­sa­bi­li­za­ção da FCT e do MCTES, pro­te­gen­do-se em pra­zos le­gais pas­sí­veis de pror­ro­ga­ções ex­tra­or­di­ná­ri­as, quan­do ex­tra­or­di­ná­ria e ur­gen­te se man­tém a si­tu­a­ção dos bol­sei­ros que es­pe­ram por res­pos­tas sem­pre adiadas. 

 

A pror­ro­ga­ção au­to­má­ti­ca de to­das as bol­sas (di­rec­ta e in­di­rec­ta­men­te fi­nan­ci­a­das pe­la FCT) em 3 me­ses e em mai­or du­ra­ção nos ca­sos apli­cá­veis – po­si­ção des­de o iní­cio de­fen­di­da pe­la ABIC –, com­pro­va-se co­mo o úni­co ca­mi­nho que te­ria da­do res­pos­ta atem­pa­da às rei­vin­di­ca­ções dos bol­sei­ros. Proposta que te­ria si­do exequí­vel, co­mo ago­ra se con­fir­ma atra­vés de re­cen­tes no­tí­ci­as a res­pei­to da (não) exe­cu­ção (em 100 mi­lhões de eu­ros) do or­ça­men­to de 2021 da FCT.

 

Depois de re­cu­sa­das reu­niões com a ABIC, vi­mos des­ta for­ma ape­lar à res­pos­ta ur­gen­te por par­te da FCT a to­dos os pe­di­dos de bol­sas ex­cep­ci­o­nais e exi­gir que FCT e MCTES ga­ran­tam, mais do que pro­mes­sas, con­di­ções la­bo­rais e so­ci­ais dig­nas aos tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos em Portugal.