Bolseiros de investigação: à procura de novo estatuto

Bolseiros de in­ves­ti­ga­ção: à pro­cu­ra de no­vo es­ta­tu­to

In Diário de Notícias, 24 de Julho 2002

    Os bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca quei­xam-se de fal­ta de pro­tec­ção so­ci­al e de um re­gi­me re­mu­ne­ra­tó­rio in­jus­to e in­com­pa­tí­vel com a sua qua­li­fi­ca­ção e de­sem­pe­nho pro­fis­si­o­nal. Não têm di­rei­to a fé­ri­as, nem ao res­pec­ti­vo sub­sí­dio. Segurança Social, só em re­gi­me vo­lun­tá­rio. E o va­lor efec­ti­vo das bol­sas de­cres­ceu ao lon­go dos úl­ti­mos anos. Há 3400 des­tes bol­sei­ros pa­gos pe­la Fundação pa­ra a Ciência e a Tecnologia, mas o nú­me­ro glo­bal, que in­clui jo­vens que re­ce­bem bol­sas das mais di­ver­sas fun­da­ções e mui­tos ou­tros agre­ga­dos a pro­jec­tos ou a cen­tros de in­ves­ti­ga­ção, é uma in­cóg­ni­ta. Ontem, seis re­pre­sen­tan­tes dos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção, cons­ti­tuí­dos nu­ma pla­ta­for­ma em Novembro do ano pas­sa­do, es­ti­ve­ram na Assembleia da República. Recebidos pe­la Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, os bol­sei­ros en­tre­ga­ram aos de­pu­ta­dos um ca­der­no rei­vin­di­ca­ti­vo, no qual apre­sen­tam al­gu­mas pro­pos­tas de al­te­ra­ção à lei que re­ge o Estatuto de Bolseiro de Investigação Científica (EBIC).

    O do­cu­men­to, subs­cri­to por cen­te­nas de bol­sei­ros, faz uma re­se­nha dos pro­ble­mas e di­fi­cul­da­des que es­tes jo­vens en­fren­tam na sua ac­ti­vi­da­de e na sua in­ser­ção no te­ci­do social.

    “Tal co­mo su­ce­deu nos en­con­tros que man­ti­ve­mos an­te­ri­or­men­te com ca­da um dos gru­pos par­la­men­ta­res aos quais já tí­nha­mos apre­sen­ta­do os nos­sos pro­ble­mas, hou­ve tam­bém ago­ra aber­tu­ra e dis­po­ni­bi­li­da­de dos de­pu­ta­dos pa­ra in­ter­vir no Parlamento, na pró­xi­ma ses­são le­gis­la­ti­va, no sen­ti­do de se al­te­rar o Estatuto de Bolseiro de Investigação Científica em al­guns pon­tos”, dis­se ao DN João Ferreira, um dos re­pre­sen­tan­tes dos bol­sei­ros que on­tem fo­ram re­ce­bi­dos na AR.
    Sem te­rem fi­ca­do de­fi­ni­dos “quais­quer ca­len­dá­ri­os” ou “ques­tões es­pe­cí­fi­cas”, os de­pu­ta­dos da co­mis­são “mos­tra­ram-se so­bre­tu­do sen­sí­veis à ques­tão da pro­tec­ção so­ci­al, mas não foi ex­pli­ci­ta­da ne­nhu­ma me­di­da con­cre­ta”, ex­pli­cou ain­da o jo­vem investigador-bolseiro.

    Os bol­sei­ros quei­xam-se de ser “mão-de-obra ba­ra­ta”, as­se­gu­ran­do em mui­tos ca­sos o nor­mal fun­ci­o­na­men­to de ins­ti­tui­ções de I&icom;D (in­ves­ti­ga­ção e de sen­vol­vi­men­to) sem a re­mu­ne­ra­ção e as re­ga­li­as com­pa­tí­veis, co­mo ex­pli­cam no ca­der­no rei­vin­di­ca­ti­vo, a que o DN te­ve aces­so.
    Além dis­so, es­tes jo­vens pro­fis­si­o­nais es­tão li­mi­ta­dos a um re­gi­me de se­gu­ran­ça so­ci­al vo­lun­tá­rio e não têm di­rei­to a fé­ri­as e res­pec­ti­vo sub­sí­dio. Com um re­gi­me de de­di­ca­ção ex­clu­si­va im­pos­to pe­lo mes­mo es­ta­tu­to, e o va­lor das bol­sas es­tag­na­do há vá­ri­os anos, vi­ram, por ou­tro la­do, o va­lor re­al das su­as re­mu­ne­ra­ções de­cres­cer nos úl­ti­mos anos.

    Junto da Comissão Parlamentar re­a­fir­ma­ram a sua in­sa­tis­fa­ção por ain­da não te­rem si­do re­ce­bi­dos pe­lo mi­nis­tro da Ciência e do Ensino Superior, ape­sar de te­rem fei­to um pe­di­do nes­se sen­ti­do já há dois meses.