Associação dos Bolseiros de Investigação Cientifica

Associação dos Bolseiros de Investigação Cientifica

 In Avante, 19 de Fevereiro 2004

    ENTRE O ESTUDO E O TRABALHO

    Os bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca unem a for­ma­ção ao tra­ba­lho, mas mui­tas ve­zes só lhes é re­co­nhe­ci­da a pri­mei­ra. As con­sequên­ci­as são gra­ves: os bol­sei­ros não têm di­rei­to a pro­tec­ção so­ci­al ou bai­xa mé­di­ca, não re­ce­bem sub­sí­dio de Natal e de fé­ri­as, e mui­tos de­les sa­tis­fa­zem ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes das ins­ti­tui­ções. Estas são si­tu­a­ções que a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica quer ver al­te­ra­das, co­mo ex­pli­cam João Ferreira, Luísa Mota e Paulo Silva.
    Não se sa­be exac­ta­men­te quan­tos bol­sei­ros exis­tem em Portugal. A úni­ca cer­te­za é que a Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia con­ce­de 4 mil bol­sas. Para além des­ses, cal­cu­la-se que exis­tam ou­tros qua­tro mil bol­sei­ros. No to­tal, se­rão cer­ca de oi­to mil.
    Estes mi­lha­res de pes­so­as têm pro­ble­mas co­muns, por is­so for­ma­ram uma as­so­ci­a­ção há me­nos de um ano, a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), que tem vin­do a fa­zer um le­van­ta­men­to da si­tu­a­ção e a apon­tar as prin­ci­pais di­fi­cul­da­des dos bol­sei­ros por­tu­gue­ses.
    Mas o que é um bol­sei­ro? João Ferreira, pre­si­den­te da ABIC, res­pon­de: “É al­guém que de­sen­vol­ve uma ac­ti­vi­da­de de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca as­so­ci­a­da a um pla­no de for­ma­ção ob­ti­da com tra­ba­lho. Encarar-se o bol­sei­ro uni­ca­men­te co­mo es­tan­do em for­ma­ção é o pon­to de par­ti­da de uma sé­rie de dis­cri­mi­na­ções. A pri­mei­ra é não o con­si­de­rar um tra­ba­lha­dor.”
    Para a ABIC, a fi­gu­ra de bol­sei­ro tem ra­zão de ser, pois não se tra­ta de um tra­ba­lha­dor igual aos ou­tros. A sua for­ma­ção faz-se es­sen­ci­al­men­te com tra­ba­lho. “O tra­ba­lho que o bol­sei­ro pro­duz tem de ser re­co­nhe­ci­do. Esse re­co­nhe­ci­men­to pas­sa por uma equi­pa­ra­ção em di­rei­tos (já que no pla­no dos de­ve­res ela es­tá em lar­ga me­di­da fei­ta) aos res­tan­tes tra­ba­lha­do­res. Tem, por­tan­to, uma du­pla na­tu­re­za – for­ma­ção e tra­ba­lho – e ho­je só se re­co­nhe­ce a for­ma­ção”, es­pe­ci­fi­ca.
    A as­so­ci­a­ção re­fe­re a exis­tên­cia de mui­tos “fal­sos bol­sei­ros”, que sa­tis­fa­zem vá­ri­as ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes das ins­ti­tui­ções, co­mo a in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca ou as­so­ci­a­das, o que in­clui pres­ta­ção de ser­vi­ços. “Os Laboratórios do Estado, por exem­plo, es­tão chei­os de si­tu­a­ções des­tas. São ac­ti­vi­da­des que re­que­rem uma qua­li­fi­ca­ção téc­ni­ca e ci­en­tí­fi­ca”, ex­pli­ca João Ferreira.
    Estes “fal­sos bol­sei­ros” de­vem ser in­te­gra­dos nos qua­dros das ins­ti­tui­ções ou ter um con­tra­to de tra­ba­lho. “As ins­ti­tui­ções não po­dem abrir va­gas e um bol­sei­ro fi­ca mui­to mais ba­ra­to. As bol­sas são pe­que­nas, não há pro­tec­ção so­ci­al, não re­ce­be­mos sub­sí­dio de Natal ou de fé­ri­as, não te­mos di­rei­to a bai­xa mé­di­ca. Isto é ter um tra­ba­lha­dor qua­li­fi­ca­do ao pre­ço da chu­va”, es­cla­re­ce Luísa Mota, mem­bro da di­rec­ção da ABIC.
   

    Incerteza e angústia

    Muitas ve­zes, o lon­go per­cur­so de bol­sas fun­ci­o­na co­mo uma al­ter­na­ti­va à fal­ta de saí­das pro­fis­si­o­nais. A pre­ca­ri­e­da­de do vín­cu­lo dos bol­sei­ros e a in­cer­te­za em re­la­ção ao fu­tu­ro tem gra­ves im­pli­ca­ções na sua vi­da pes­so­al. “A mai­o­ria dos bol­sei­ros são jo­vens tra­ba­lha­do­res que es­tão nu­ma fa­se de au­to­no­mi­za­ção e de cons­ti­tui­ção de fa­mí­lia. Temos sen­ti­do de mo­do mui­to vi­vo uma an­gús­tia e uma pre­o­cu­pa­ção por par­te de mui­tas pes­so­as”, co­men­ta João Ferreira.
    Um dos pro­ble­mas mais co­muns é a ob­ten­ção de cré­di­to ban­cá­rio pa­ra com­pra de ha­bi­ta­ção. Luísa fa­la do seu ca­so pes­so­al: “Se não ti­ves­se apoio fa­mi­li­ar, ja­mais po­de­ria com­prar ca­sa. Daqui a dois anos a bol­sa aca­ba e o que é que eu di­go ao ban­co? Vivemos sem­pre no ara­me, não sa­be­mos o dia de ama­nhã.”
    Sair do País é a so­lu­ção en­con­tra­da por mui­tos bol­sei­ros. “Ir pa­ra o es­tran­gei­ro é ali­ci­an­te do pon­to de vis­ta pro­fis­si­o­nal, mas ser­mos “em­pur­ra­dos” pa­ra a emi­gra­ção não é uma coi­sa bes­ti­al. Muitas ve­zes não pas­sa por uma op­ção pes­so­al, é uma ne­ces­si­da­de pa­ra so­bre­vi­ver. É um ti­po par­ti­cu­lar de emi­gra­ção, mas não dei­xa de ter as con­tin­gên­ci­as e pre­o­cu­pa­ções da emi­gra­ção em ge­ral”, sa­li­en­ta Luísa.
    Outra saí­da é exer­cer uma pro­fis­são que não tem a ver com a for­ma­ção e pa­ra a qual os bol­sei­ros são so­bre­qua­li­fi­ca­dos. Para João Ferreira, “is­so é um des­per­dí­cio. Investe-se na for­ma­ção de re­cur­sos hu­ma­nos, mas os be­ne­fí­ci­os não re­ver­tem pa­ra Portugal. Se fo­rem pa­ra o es­tran­gei­ro, a mais-va­lia que es­sas pes­so­as pro­du­zem é dei­xa­da num país que não te­ve cus­tos ne­nhuns com a sua formação”.

    Número crescente

    Até ao fim dos anos 90, o per­cur­so ha­bi­tu­al de um bol­sei­ro se­ria fa­zer uma li­cen­ci­a­tu­ra, um mes­tra­do e um dou­to­ra­men­to. “A par­tir des­sa al­tu­ra, a mai­o­ria das pes­so­as pas­sa­ram a fa­zer dou­to­ra­men­tos de­pois da li­cen­ci­a­tu­ra”, afir­ma Paulo Silva, tam­bém mem­bro da di­rec­ção da ABIC.
    Terminada a li­cen­ci­a­tu­ra, mui­tos bol­sei­ros con­cor­rem a uma bol­sa de ini­ci­a­ção ci­en­tí­fi­ca, re­no­vá­vel anu­al­men­te, até três anos. O li­cen­ci­a­do po­de ter vá­ri­as bol­sas, sem atin­gir ne­nhum grau aca­dé­mi­co. Muitas ve­zes, faz-se o mes­tra­do ou o dou­to­ra­men­to. Ganhando bol­sa, fi­ca-se a fa­zer o dou­to­ra­men­to du­ran­te qua­tro ou cin­co anos, sem­pre com re­no­va­ção anu­al.
    “Depois, mui­tas ve­zes, não há saí­das pro­fis­si­o­nais e pe­de-se uma bol­sa de pós-dou­to­ra­men­to. Nestes ca­sos, é-se bol­sei­ro qua­se até aos 40 anos, sal­tan­do de umas bol­sas pa­ra as ou­tras, nuns ca­sos ad­qui­rin­do graus aca­dé­mi­cos”, re­fe­re Paulo Silva.
    Ao lon­go da úl­ti­ma dé­ca­da, o nú­me­ro de bol­sei­ros au­men­tou mui­to. Os bol­sei­ros mais ve­lhos, com 40 anos, são uma mi­no­ria, por­que até há al­guns anos não era co­mum fa­zer o per­cur­so até ao pós-dou­to­ra­men­to. Actualmente, cres­ceu o nú­me­ro de pes­so­as que se tor­na bol­sei­ro de­pois de con­cluir a li­cen­ci­a­tu­ra e há mais pes­so­as a per­ma­ne­cer nes­ta con­di­ção.
    “Ainda não sa­be­mos qual vai ser a evo­lu­ção des­ta si­tu­a­ção. É uma gran­de in­ter­ro­ga­ção o que vai acon­te­cer a es­ta enor­me mas­sa de bol­sei­ros – e nun­ca exis­ti­ram tan­tos co­mo ho­je”, diz João Ferreira.

    Objectivos ini­ci­ais alcançados

    Formada em Fevereiro de 2003, a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica já al­can­çou os ob­jec­ti­vos ini­ci­ais a que se propôs, en­tre eles cha­mar a aten­ção da so­ci­e­da­de e dos ór­gãos de po­der pa­ra a si­tu­a­ção da in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca e dos bol­sei­ros. “Hoje, o Governo e os de­pu­ta­dos co­nhe­cem os nos­sos pro­ble­mas, fru­to da nos­sa ac­ti­vi­da­de. É um pas­so ne­ces­sá­rio pa­ra po­der al­te­rar a si­tu­a­ção”, co­men­ta João Ferreira.
    Com um nú­me­ro cres­cen­te de as­so­ci­a­dos, a ABIC con­se­guiu con­cre­ti­zar ou­tro pro­pó­si­to: es­cla­re­cer os bol­sei­ros so­bre os seus di­rei­tos. Como afir­ma Luísa Mota, “ca­da um de nós tem pro­ble­mas es­pe­cí­fi­cos, mas ques­tões co­mo as saí­das pro­fis­si­o­nais, as con­di­ções de tra­ba­lho, o sub­sí­dio ou a fal­ta de se­gu­ran­ça so­ci­al são co­muns a to­dos, o que nós não sa­bía­mos. Os pas­sos que va­mos dan­do são pe­que­nas vi­tó­ri­as.”
    “Há si­tu­a­ções abu­si­vas de que as pes­so­as não se da­vam con­ta”, acres­cen­ta, re­fe­rin­do que há bol­sei­ros que so­li­ci­tam o acom­pa­nha­men­to da as­so­ci­a­ção, em ge­ral de­vi­do ao atra­so do pa­ga­men­to das bol­sas. “Quando as pes­so­as sa­bem que exis­te uma es­tru­tu­ra que de­fen­de os seus di­rei­tos, es­tão me­nos su­jei­tas a ar­bi­tra­ri­e­da­des”, de­cla­ra João Ferreira.

    Investigação ci­en­tí­fi­ca em Portugal

    Ligação ao sec­tor pro­du­ti­vo é fun­da­men­tal
    Segundo um es­tu­do do Comunity Innovation Survey, Portugal é o país da União Europeia me­nos ino­va­dor em ter­mos de in­dús­tria trans­for­ma­do­ra. Faz-se in­ves­ti­ga­ção em to­dos os do­mí­ni­os de co­nhe­ci­men­to e a pro­du­ção ci­en­tí­fi­ca em de­ter­mi­na­das áre­as – co­mo as ci­ên­ci­as da saú­de – tem cres­ci­do ao lon­go dos anos.             “Capacidade ci­en­tí­fi­ca tê­mo-la, mas a pro­du­ção ci­en­tí­fi­ca é mui­to con­di­ci­o­na­da pe­la es­cas­sez de mei­os fi­nan­cei­ros”, de­cla­ra João Ferreira. Os la­bo­ra­tó­ri­os de Estado es­tão ain­da mais con­di­ci­o­na­dos, com pou­co di­nhei­ro e pou­cos qua­dros. A in­ves­ti­ga­ção fei­ta no sec­tor pri­va­do é re­si­du­al.
    Uma das gran­des de­fi­ci­ên­ci­as da in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca em Portugal é a fal­ta de li­ga­ção ao sec­tor pro­du­ti­vo. “O te­ci­do em­pre­sa­ri­al não tem uma cul­tu­ra de in­te­gra­ção do co­nhe­ci­men­to ci­en­tí­fi­co na sua ac­ti­vi­da­de. Para is­so ser fei­to, é ne­ces­sá­rio fa­zer in­ves­ti­men­tos que não têm um re­tor­no ime­di­a­to”, re­fe­re o pre­si­den­te da ABIC.
    Esta si­tu­a­ção traz pre­juí­zos pa­ra as em­pre­sas e pa­ra o País. Integrar a in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca nas em­pre­sas sig­ni­fi­ca pos­si­bi­li­da­des de op­ti­mi­za­ção e mo­der­ni­za­ção dos pro­ces­sos pro­du­ti­vos, bem co­mo a res­pos­ta ino­va­do­ra a ne­ces­si­da­des so­ci­ais com re­fle­xos no au­men­to da qua­li­da­de de vi­da. “O mer­ca­do da tec­no­lo­gia de pon­ta sur­ge exac­ta­men­te da apli­ca­ção da in­ves­ti­ga­ção pe­las em­pre­sas”, exem­pli­fi­ca Luísa Mota.
    “Em ge­ral, há em­pre­sas que uti­li­zam tec­no­lo­gi­as ul­tra­pas­sa­das, mas exis­tem ou­tras que se mo­der­ni­za­ram e que es­tão a su­pe­rar a cri­se. Estas são a ex­cep­ção”, con­si­de­ra Paulo Silva. A re­gra é a não in­te­gra­ção de co­nhe­ci­men­to ci­en­tí­fi­co.
    A ABIC de­fen­de que o Estado de­ve in­cen­ti­var a in­te­gra­ção da in­ves­ti­ga­ção na in­dús­tria e às ins­ti­tui­ções on­de é fei­ta in­ves­ti­ga­ção – na mai­o­ria, pú­bli­cas – ca­be mos­trar a uti­li­da­de e a ne­ces­si­da­de de o fa­zer. Isso po­de­rá ser fei­to atra­vés de in­ter­fa­ces com o sec­tor pro­du­ti­vo, em que o co­nhe­ci­men­to es­te­ja mais pró­xi­mo das em­pre­sas. “Isto só se faz com ins­ti­tui­ções pú­bli­cas vi­vas e ac­tu­an­tes, não se faz com la­bo­ra­tó­ri­os no es­ta­do em que se en­con­tram ac­tu­al­men­te, nu­ma len­ta e pro­gres­si­va ago­nia em ter­mos ma­te­ri­ais e hu­ma­nos”, cri­ti­ca João Ferreira. A apos­ta na in­ves­ti­ga­ção nas áre­as de ci­ên­cia e tec­no­lo­gia foi ga­nha em vá­ri­os paí­ses eu­ro­peus, com re­sul­ta­dos no de­sen­vol­vi­men­to económico.

    Mais in­ves­ti­men­to, precisa-se

    Portugal tem o mais bai­xo ní­vel de in­ves­ti­ga­ção e de­sen­vol­vi­men­to na ac­ti­vi­da­de em­pre­sa­ri­al da União Europeia. Em per­cen­ta­gem, a con­tri­bui­ção pú­bli­ca pa­ra a in­ves­ti­ga­ção é a mais al­ta, mas em nú­me­ros ab­so­lu­tos é in­su­fi­ci­en­te. Aliás, es­sa ta­xa só é ele­va­da por­que o in­ves­ti­men­to pri­va­do é o mais bai­xo em to­da a UE.
    “Para al­guns res­pon­sá­veis po­lí­ti­cos, is­to não é evi­den­te e con­si­de­ram que o Estado já in­ves­te o su­fi­ci­en­te e o que é pre­ci­so é au­men­tar a con­tra­par­ti­da pri­va­da. De fac­to, é pre­ci­so fo­men­tar o in­ves­ti­men­to pri­va­do, mas ac­tu­al­men­te o in­ves­ti­men­to pú­bli­co não che­ga”, con­si­de­ra João Ferreira.
    Há uma con­tra­di­ção en­tre as re­co­men­da­ções e re­so­lu­ções dos mi­nis­té­ri­os, se­cre­ta­ri­as de Estado e ou­tros or­ga­nis­mos e as de­ci­sões to­ma­das. Esta si­tu­a­ção só po­de ser con­tor­na­da se o Governo ti­ver von­ta­de po­lí­ti­ca pa­ra im­ple­men­tar me­di­das que dêem sequên­cia às in­ten­ções ma­ni­fes­ta­das. “Existiram pro­gra­mas pa­ra re­sol­ver a fal­ta de em­pre­go ci­en­tí­fi­co nas em­pre­sas. Agora in­te­res­sa per­ce­ber por­que é que fa­lha­ram, se­não cor­re­mos o ris­co de acon­te­cer a mes­ma coi­sa”, de­fen­de.
    Luísa Mota su­bli­nha que, “mes­mo com to­dos es­tes pro­ble­mas, con­ti­nu­a­mos a pro­du­zir tra­ba­lho de gran­de qua­li­da­de. Não é por aca­so que os in­ves­ti­ga­do­res por­tu­gue­ses são bem su­ce­di­dos no es­tran­gei­ro. Têm ba­ses só­li­das e uma boa formação.”

    Principais reivindicações

    Direito efec­ti­vo à se­gu­ran­ça so­ci­al em to­das as su­as com­po­nen­tes, com in­te­gra­ção no re­gi­me ge­ral: o exer­cí­cio do di­rei­to à se­gu­ran­ça so­ci­al é li­mi­ta­do pe­lo Regime do Seguro Social Voluntário, con­si­de­ra­do “in­su­fi­ci­en­te e dis­cri­mi­na­tó­rio” pe­la ABIC, que acres­cen­ta que mui­tas ins­ti­tui­ções se re­cu­sam a as­su­mir os en­car­gos com o se­gu­ro so­ci­al vo­lun­tá­rio. Este re­gi­me pre­vê o des­con­to so­bre o or­de­na­do mí­ni­mo. Os bol­sei­ros com um ren­di­men­to su­pe­ri­or ao or­de­na­do mí­ni­mo são pre­ju­di­ca­dos fa­ce ao sis­te­ma na­ci­o­nal de se­gu­ran­ça so­ci­al, pois o pe­río­do em que é bol­sei­ro re­pre­sen­ta uma di­lui­ção for­ça­da na sua car­rei­ra con­tri­bu­ti­va.
    O re­gi­me abran­ge as pres­ta­ções de in­va­li­dez, ve­lhi­ce e mor­te e as pres­ta­ções de do­en­ça e ma­ter­ni­da­de e de do­en­ça pro­fis­si­o­nal, fi­can­do ex­cluí­das as pres­ta­ções fa­mi­li­a­res. A ABIC apon­ta a “pro­fun­da con­tra­di­ção” de uma si­tu­a­ção que pre­vê si­tu­a­ções de ma­ter­ni­da­de e cons­ti­tui­ção de fa­mí­lia, mas não as pres­ta­ções fa­mi­li­a­res.
    O Direito ao sub­sí­dio de de­sem­pre­go e re­co­nhe­ci­men­to le­gal do di­rei­to a fé­ri­as: um bol­sei­ro po­de tra­ba­lhar con­ti­nu­a­men­te du­ran­te anos. O pe­río­do de des­can­so é dei­xa­do ao cri­té­rio das ins­ti­tui­ções. Os bol­sei­ros tam­bém não têm di­rei­to a sub­sí­di­os de fé­ri­as e de Natal, uma “ina­cei­tá­vel dis­cri­mi­na­ção”, es­pe­ci­al­men­te se es­tes se en­con­tram a exer­cer ac­ti­vi­da­des idên­ti­cas à dos tra­ba­lha­do­res do qua­dro, por uti­li­za­ção abu­si­va da fi­gu­ra do bolseiro.

    Progressiva equi­pa­ra­ção do mon­tan­te das bol­sas às re­mu­ne­ra­ções dos tra­ba­lha­do­res com ha­bi­li­ta­ções equi­pa­ra­das das car­rei­ras téc­ni­cas, téc­ni­ca su­pe­ri­or, in­ves­ti­ga­ção e do­cên­cia uni­ver­si­tá­ria.
o Equiparação aos res­tan­tes tra­ba­lha­do­res no usu­fru­to de to­dos os sub­sí­di­os es­ta­be­le­ci­dos por lei, no­me­a­da­men­te sub­sí­di­os de fé­ri­as, Natal, al­mo­ço, tur­no e risco.

    Contagem do pe­río­do de du­ra­ção da bol­sa pa­ra efei­tos de re­for­ma e con­cur­sos públicos.

    Alteração do re­gi­me de ex­clu­si­vi­da­de: a ABIC con­si­de­ra que o re­gi­me de de­di­ca­ção ex­clu­si­va não de­ve ser obri­ga­tó­rio. Nos ca­sos em que es­te se apli­que, os bol­sei­ros de­vem go­zar dos di­rei­tos que nes­te ca­pí­tu­lo es­tão pre­vis­tos pa­ra os mem­bros da car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção abran­gi­dos por re­gi­me de de­di­ca­ção exclusiva.

    Fiscalização re­gu­lar por par­te das en­ti­da­des com­pe­ten­tes da fi­na­li­da­de das bol­sas de in­ves­ti­ga­ção, com o ob­jec­ti­vo de não per­mi­tir a uti­li­za­ção de bol­sei­ros pa­ra as­se­gu­rar ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes das instituições.

    Abertura de va­gas nas car­rei­ras (ad­mi­nis­tra­ti­va, téc­ni­ca, de in­ves­ti­ga­ção, do­cên­cia uni­ver­si­tá­ria, etc.), que per­mi­ta a in­te­gra­ção con­tí­nua e pro­gres­si­va de pes­so­al com di­fe­ren­tes ní­veis de habilitações.

    Actualização anu­al das bol­sas: Em 2003 não se pro­ce­deu à ac­tu­a­li­za­ção do mon­tan­te das bol­sas e, até ao mo­men­to, o mes­mo se pers­pec­ti­va pa­ra 2004. Os va­lo­res ac­tu­al­men­te em vi­gor são os de 2002. No ca­so de bol­sas fi­nan­ci­a­das por pro­jec­tos, o atra­so no fi­nan­ci­a­men­to pro­vo­ca mui­tas ve­zes atra­sos no pa­ga­men­to das bolsas.

    Protecção do bol­sei­ro e da sua vi­da pes­so­al: a pre­ca­ri­e­da­de do vín­cu­lo de bol­sei­ro cria di­fi­cul­da­des, co­mo a ob­ten­ção de cré­di­to ban­cá­rio pa­ra com­pra de habitação.