Comunicado sobre a reunião com o MCTES a 02/​05

A di­re­ção da ABIC reu­niu no dia 02 de maio, a pe­di­do da tu­te­la, com o Ministro da Ciência Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor (MMH), e o ju­ris­ta Pedro Barrias. Para além das ques­tões so­bre a Norma Transitória (NT) do DL57/​2016 e do PREVPAP, le­vá­mos ou­tras ques­tões que pre­o­cu­pam os in­ves­ti­ga­do­res bolseiros.

A ABIC co­me­çou por ex­por pre­o­cu­pa­ções re­la­ti­va­men­te à apli­ca­ção da NT (atra­so, con­cur­sos não fi­nan­ci­a­dos pe­la FCT, con­cur­sos ao abri­gos de ins­ti­tui­ções de ges­tão pri­va­da). Salientámos a per­ver­são de os con­cur­sos ao abri­go da NT se­rem aber­tos por ins­ti­tui­ções de ges­tão pri­va­da com as quais os bol­sei­ros nun­ca ti­ve­ram ne­nhu­ma re­la­ção (es­pe­ci­fi­ca­men­te na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e no Instituto Superior Técnico). Foi com sur­pre­sa que ve­ri­fi­cá­mos que o MMH não ti­nha co­nhe­ci­men­to das im­pli­ca­ções des­te ti­po de con­tra­ta­ção (que pre­vê um con­tra­to a ter­mo in­cer­to) ten­do-se com­pro­me­ti­do a reu­nir com o Reitor da Universidade de Lisboa pa­ra dis­cu­tir es­te as­sun­to. Ainda que a FCT já te­nha en­vi­a­do o Contrato-Programa pa­ra as ins­ti­tui­ções (que não é obri­ga­tó­rio, co­mo o MMH su­bli­nhou), é com pre­o­cu­pa­ção que en­ca­ra­mos to­do es­te pro­lon­ga­men­to de des­cul­pas pa­ra os con­cur­sos não abri­rem. O go­ver­no tem de obri­gar as ins­ti­tui­ções a abrir os con­cur­sos e é tam­bém res­pon­sá­vel por es­te atra­so. Apelamos a to­dos os bol­sei­ros que nos co­mu­ni­quem se to­dos os con­cur­sos aos quais têm di­rei­to es­tão a ser abertos.

Sobre o PREVPAP e a in­te­gra­ção na car­rei­ra, o mi­nis­tro re­fe­riu três ti­pos de si­tu­a­ções: 1) fal­sos bol­sei­ros (i.e., BGCTs e, após a nos­sa in­sis­tên­cia, os bol­sei­ros de pro­je­tos): es­tão a ser in­te­gra­dos; 2) do­cen­tes con­vi­da­dos: al­guns es­tão a ser in­te­gra­dos mas há mui­tos que, do pon­to de vis­ta da tu­te­la, não de­ve­ri­am ter pe­di­do re­gu­la­ri­za­ção do vín­cu­lo por­que es­tão a 50% ou me­nos; 3) in­ves­ti­ga­do­res: es­tão ape­nas a ser con­si­de­ra­dos aque­les que so­mam dois con­tra­tos (Ciência + IFCT) na mes­ma ins­ti­tui­ção. Ora es­te não é o pa­no­ra­ma que tem si­do di­vul­ga­do pe­los sin­di­ca­tos e dei­xa de fo­ra mui­ta gen­te que es­tá há mui­tos anos a tra­ba­lhar em Ciência.

O MMH des­co­nhe­cia que a FCT es­tá a pe­dir aos seus bol­sei­ros, em no­me da ex­clu­si­vi­da­de exi­gi­da pe­lo Estatuto do Bolseiro de Investigação (EBI), o elen­co de ati­vi­da­des não re­mu­ne­ra­das, co­mo ser di­ri­gen­te de as­so­ci­a­ções ou ter per­ten­ci­do à or­ga­ni­za­ção de even­tos ci­en­tí­fi­cos, pe­din­do se­gui­da­men­te que se des­vin­cu­le des­sas ati­vi­da­des. O MMH dis­se que iria con­fron­tar a FCT com es­tas prá­ti­cas re­fe­rin­do que se­ri­am, com cer­te­za, “ex­ces­so de ze­lo dos serviços”.

Sobre os atra­sos da FCT, o MMH co­me­çou por afir­mar que a FCT não es­ta­va atra­sa­da em na­da. Sobre os re­sul­ta­dos dos pro­je­tos, re­fe­riu que a FCT não tem au­to­ri­za­ção pa­ra di­vul­gar os re­sul­ta­dos e que não há ne­nhum atra­so; hou­ve foi um adi­an­ta­men­to so­bre o re­sul­ta­do de al­guns pro­je­tos [sa­be­mos que à ho­ra em que es­cre­ve­mos es­te co­mu­ni­ca­do, há mais re­sul­ta­dos a se­rem co­nhe­ci­dos]. Destacámos o fac­to de os re­sul­ta­dos dos re­cur­sos de 2016 ain­da não se­rem co­nhe­ci­dos e o MMH dis­se que não ti­nha co­nhe­ci­men­to dis­so [No dia 3 de maio, um dia após a reu­nião, saí­ram os re­sul­ta­dos des­tes recursos].

Deixámos cla­ro que, pa­ra a ABIC, o ver­da­dei­ro com­ba­te à pre­ca­ri­e­da­de pas­sa pe­la re­vo­ga­ção do EBI e pe­la in­te­gra­ção de to­dos na car­rei­ra. “Contratos-re­men­do” não fun­ci­o­nam. Há, nes­te mo­men­to, cen­te­nas de bol­sei­ros cu­jas bol­sas já fi­na­li­za­ram, in­ves­ti­ga­do­res cu­jo con­tra­to já ter­mi­nou e que con­ti­nu­am a tra­ba­lhar nas ins­ti­tui­ções por­que têm ori­en­ta­ções em cur­so, ar­ti­gos a sub­me­ter, e ou­tras fun­ções, co­mo a do­cên­cia, que não são in­ter­rom­pi­das por res­pon­sa­bi­li­da­de pro­fis­si­o­nal. O fi­nan­ci­a­men­to da ci­ên­cia po­de ter di­ver­sas ori­gens, per­mi­tin­do a exe­cu­ção de pro­je­tos de in­ves­ti­ga­ção de mo­do in­ter­mi­ten­te ou des­con­tí­nuo, mas as fun­ções exer­ci­das pe­los in­ves­ti­ga­do­res são per­ma­nen­tes, co­mo é fá­cil de per­ce­ber. Sem in­ves­ti­ga­do­res não há ci­ên­cia. Sem ci­ên­cia o país com­pro­me­te o seu futuro.