UMinho: BGCT

Universidade do Minho

ABIC re­pu­dia abu­sos ao Estatuto do Bolseiro

A Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) tem acom­pa­nha­do com mui­ta pre­o­cu­pa­ção as re­cen­tes me­di­das da Universidade do Minho (UM) re­la­ti­va­men­te aos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção. Depois da pu­bli­ca­ção de um des­pa­cho que pre­vê a cri­a­ção de uma no­va ta­xa de 300€ pa­ra en­tre­ga do dou­to­ra­men­to, o Reitor da UM, António Cunha, pu­bli­cou no iní­cio des­te mês um des­pa­cho que pre­vê que os Bolseiros de Gestão de Ciência e Tecnologia (BGCT) pas­sem a obe­de­cer às mes­mas re­gras que os tra­ba­lha­do­res não do­cen­tes da ins­ti­tui­ção, ape­sar de não usu­fruí­rem de um con­tra­to de tra­ba­lho.
Num do­cu­men­to que con­si­de­ra­mos ser abu­si­vo quan­to à fi­gu­ra do bol­sei­ro de in­ves­ti­ga­ção, o tam­bém pre­si­den­te do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) re­fe­re que “a Universidade do Minho tem re­gis­ta­do uma evo­lu­ção sig­ni­fi­ca­ti­va na sua ca­pa­ci­da­de de atra­ção e ges­tão de fun­dos ex­ter­nos pa­ra a sua ati­vi­da­de de in­ves­ti­ga­ção, de­sen­vol­vi­men­to tec­no­ló­gi­co e ino­va­ção. A es­te de­sem­pe­nho re­le­van­te da co­mu­ni­da­de ci­en­tí­fi­ca tem cor­res­pon­di­do o in­ves­ti­men­to em Recursos Humanos qua­li­fi­ca­dos pa­ra apoio à ges­tão da Ciência, ao abri­go do Estatuto do Bolseiro de Investigação”.
É des­ta for­ma que a UM jus­ti­fi­ca a mais re­cen­te me­di­da que vi­sa os bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção, des­ta fei­ta os BGCT. Consideramos que es­ta de­li­be­ra­ção é con­trá­ria ao ex­pli­ci­ta­do no Estatuto do Bolseiro de Investigação (EBI), que re­fe­re que “é proi­bi­do o re­cur­so a bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção pa­ra sa­tis­fa­ção de ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes dos ser­vi­ços” (ca­pí­tu­lo I, art. 1º, alí­nea 5). Ora, ao as­su­mir uma evo­lu­ção sig­ni­fi­ca­ti­va da uni­ver­si­da­de em ter­mos de cap­ta­ção de fun­dos des­ti­na­dos à in­ves­ti­ga­ção, de­sen­vol­vi­men­to e ino­va­ção, e con­se­quen­te “in­ves­ti­men­to em re­cur­sos hu­ma­nos”, é pa­ra nós cla­ro que a UM tem vin­do a re­cor­rer à fi­gu­ra do bol­sei­ro de in­ves­ti­ga­ção pa­ra sa­tis­fa­zer ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes da ins­ti­tui­ção.
Esta si­tu­a­ção é tan­to mais gra­ve quan­to a pre­sen­te de­li­be­ra­ção pre­vê que os BGCT pas­sem a obe­de­cer às mes­mas re­gras que os fun­ci­o­ná­ri­os não do­cen­tes da UM, no que diz res­pei­to aos ho­rá­ri­os de tra­ba­lho, aten­di­men­to, as­si­dui­da­de, e mar­ca­ção de fé­ri­as, pa­ra no­me­ar al­gu­mas. O re­gis­to e con­tro­lo da as­si­dui­da­de se­rá fei­to atra­vés de re­gis­to bi­o­mé­tri­co, es­tan­do já os bol­sei­ros a ser con­tac­ta­dos pa­ra for­ne­ce­rem os seus da­dos e im­pres­sões di­gi­tais. Novamente, re­al­ça­mos que o EBI, quan­to à na­tu­re­za do vín­cu­lo dos bol­sei­ros, re­fe­re que “os con­tra­tos de bol­sa não ge­ram re­la­ções de na­tu­re­za ju­rí­di­co-la­bo­ral nem de pres­ta­ção de ser­vi­ços, não ad­qui­rin­do o bol­sei­ro a qua­li­da­de de tra­ba­lha­dor em fun­ções pú­bli­cas”.
Parece-nos, pois, inad­mis­sí­vel que os bol­sei­ros se­jam cha­ma­dos a pres­tar os mes­mos de­ve­res que os de­mais tra­ba­lha­do­res da uni­ver­si­da­de sem, no en­tan­to, usu­fruí­rem dos mes­mos di­rei­tos, no­me­a­da­men­te o di­rei­to a um con­tra­to de tra­ba­lho e ao re­gi­me com­ple­to da Segurança Social.