Se os bolseiros tivessem alternativas,…
In Público, 1 de Fevereiro 2003
“nao o seriam por tanto tempo”: entrevista com Fernando Ramôa Ribeiro
Conseguir empregar os jovens investigadores nas empresas continua a ser difícil, mas tem havido progressos, diz o responsável pela principal instituição financiadora da investigação em Portugal.
O presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), principal instituição financiadora do sistema científico nacional e responsável pela atribuição do maior número de bolsas em Portugal, é o alvo das maiores críticas feitas pelos bolseiros. O professor universitário defende-se dizendo que nem todas as soluções estão nas suas mãos.
PÚBLICO – Acha que a falta de emprego científico é a razão pela qual os bolseiros têm de encarar a bolsa como um emprego?
FERNANDO RAMÔA RIBEIRO – Penso que, de facto, se tivessem alternativa, não seriam bolseiros tanto tempo. Mas friso mais uma vez que é necessário que se candidatem aos programas de inserção de mestres e doutores nas empresas e no sistema científico.
P – Mas já disse que não estava satisfeito com o programa de inserção de mestres e doutores nas empresas, que apenas empregou 150 investigadores desde que foi criado…
R – Começo a ficar mais entusiasmado. Nos últimos meses, a procura tem aumentado progressivamente. E as empresas também procuram. Acho que é importante passar a mensagem de que um doutorado em física é bem vindo numa empresa. A Bolsa, nos Estados Unidos, está a empregar preferencialmente matemáticos.
P – Se não existissem bolseiros, a produção científica nacional estaria assegurada?
R – Eles têm razão quando dizem que a investigação nacional está baseada nos bolseiros. Em projectos cobertos pelo financiamento plurianual às unidades de investigação temos 6000 investigadores empregados. E temos 4000 bolseiros, apesar de alguns desses serem bolseiros no estrangeiro.
P – O que levou a FCT a optar pelo lançamento de um concurso em Janeiro, em vez de dois por ano, como era costume?
R – Anunciei que esse concurso abriria em Junho, mas ouvi muita gente e considerei que seria mais justo abrir em Janeiro e prolongar até Maio, para atribuir depois as bolsas em Outubro. Penso que é uma solução que não prejudica ninguém.
P – Já reconheceu que o estatuto do bolseiro poderia ser revisto em alguns aspectos. Quais?
R – Reconheço que o seguro social voluntário é baixinho. O que for possível mudar, para que se torne mais justo, poderá ser negociado. Não depende só de mim, mas farei o que estiver ao meu alcance.