Nota de imprensa: Sobre o vazio do estímulo ao emprego científico e tecnológico promovido pelo MCTES e FCT

Hoje, 13 de de­zem­bro de 2017, cum­prem-se 100 di­as úteis da en­tra­da em vi­gor da Lei 57/​2017 (que al­te­rou o DL57/​2016), des­ti­na­da a es­ti­mu­lar o em­pre­go científico e tecnológico. Cumprem-se cem di­as sem apli­ca­ção da Lei, cem di­as de es­va­zi­a­men­to da es­pe­ran­ça que mi­lha­res de bol­sei­ros dou­to­ra­dos ti­nham de ter fi­nal­men­te um con­tra­to de tra­ba­lho, em vez de uma bol­sa de in­ves­ti­ga­ção. Cem di­as di­as pas­sa­ram e a vi­da de mui­tos bol­sei­ros es­tá ho­je mui­to pi­or do que an­tes – sem bol­sa, sem con­tra­to, sem ren­di­men­tos. Um em ca­da qua­tro bol­sei­ros ele­gí­veis na Norma Transitória es­tá sem tra­ba­lho à es­pe­ra da aber­tu­ra dos concursos. 

A Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) re­pu­dia ve­e­men­te­men­te es­te va­zio a que o MCTES, a FCT e as ins­ti­tui­ções têm vo­ta­do a vi­da de mui­tos tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos. A ABIC con­ti­nua a fa­zer tu­do ao seu al­can­ce e ga­ran­te que es­ta lu­ta só ces­sa­rá quan­do se cor­ri­gir es­ta ver­go­nho­sa in­jus­ti­ça. Para is­so pe­di­mos uma au­di­ên­cia ur­gen­te ao Senhor Primeiro Ministro e a to­dos os gru­pos par­la­men­ta­res na Assembleia da República.

Para que se fi­que a co­nhe­cer cla­ra­men­te, dis­po­ni­bi­li­za­mos aqui a cro­no­lo­gia do vazio:

29 agos­to 2016:  foi pu­bli­ca­do o Decreto (DL57) des­ti­na­do a es­ti­mu­lar o em­pre­go científico e tecnológico.

11 maio 2017: fi­nal da re­a­pre­ci­a­ção do di­plo­ma na Assembleia da República. 

19 de ju­lho: pu­bli­ca­ção da Lei 57/​2017, que al­te­ra o DL57, com as al­te­ra­ções pro­pos­tas na apre­ci­a­ção par­la­men­tar. Daqui de­ve­ria ter re­sul­ta­do a aber­tu­ra de con­cur­sos pa­ra a con­tra­ta­ção de dou­to­ra­dos até 31 de­zem­bro 2017.

14 no­vem­bro 2017: na Assembleia da República, o Ministro Manuel Heitor, dis­se que deu “ori­en­ta­ções ex­pres­sas à FCT [Fundação pa­ra a Ciência e a Tecnologia] que no qua­dro do fi­nan­ci­a­men­to plu­ri­a­nu­al às Unidades de Investigação de­ve­ria re­sol­ver to­dos os ca­so de even­tu­ais bol­sei­ros que aca­bas­sem as bol­sas, en­tre­tan­to, e pe­lo fac­to de os con­cur­sos não es­ta­rem aber­tos, pa­ra te­rem o fi­nan­ci­a­men­to ne­ces­sá­rio pa­ra não se­rem de for­ma al­gu­ma afe­ta­dos por atra­sos pon­tu­ais na aber­tu­ra dos concursos”.

27 no­vem­bro 2017: a ABIC pe­diu um es­cla­re­ci­men­to ao Ministro, que res­pon­de, no pró­prio dia, com có­pia do des­pa­cho des­sas “ori­en­ta­ções ex­pres­sas”, com da­ta de 27 de no­vem­bro e as­si­na­tu­ra di­gi­tal do Ministro. O des­pa­cho é pu­bli­ca­do no dia se­guin­te no si­te da FCT.

13 de­zem­bro 2017: cum­prem-se 100 di­as de va­zio. Cem di­as sem um úni­co con­cur­so pa­ra que os bol­sei­ros pos­sam pas­sar a tra­ba­lhar com um con­tra­to de tra­ba­lho. Marcam-se, tam­bém, os 321 di­as des­de a en­tra­da em vi­gor do “re­gi­me de contratação de dou­to­ra­dos des­ti­na­do a es­ti­mu­lar o em­pre­go científico e tecnológico”.

 

Outros va­zi­os na ci­ên­cia em Portugal que ur­ge pre­en­cher pa­ra que ha­ja mais investigação:

- a ine­xis­tên­cia de no­vos projetos; 

- a au­sên­cia de no­vas con­tra­ta­ções de dou­to­ra­dos — 2017 é o pri­mei­ro ano, em mui­tos, em que não hou­ve ne­nhum con­cur­so pa­ra a con­tra­ta­ção de doutorados; 

- o va­zio da ava­li­a­ção das Unidades de Investigação de cu­jos re­sul­ta­dos de­pen­de o fi­nan­ci­a­men­to das ins­ti­tui­ções nos pró­xi­mos anos;

- atra­sos (sis­te­má­ti­cos) no en­vio de con­tra­tos de bol­sa e res­pe­ti­vo pa­ga­men­to por par­te da FCT.

- per­sis­tên­cia do sis­te­ma de bol­sas de in­ves­ti­ga­ção em de­tri­men­to de con­tra­tos de trabalho.

É ur­gen­te  que o es­tí­mu­lo ao em­pre­go científico e tecnológico se con­cre­ti­ze por­que, até ago­ra, ape­nas te­mos as­sis­ti­do à su­ces­são de um va­zio re­ple­to de ca­os, in­jus­ti­ça e de­ses­pe­ran­ça. Promessa fei­ta tem de ser pro­mes­sa cumprida!