Fernandes Thomaz diz não a um novo EBIC

Fernandes Thomaz diz não a um no­vo EBIC

 In Público, 14 de Fevereiro 2003

    Secretário de Estado da Ciência reu­niu-se com os jo­vens in­ves­ti­ga­do­res e dis­se-lhes os seus pro­ble­mas não pas­sam pe­la fal­ta de em­pre­go ci­en­tí­fi­co
    A re­cen­te­men­te for­ma­da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) reu­niu on­tem pe­la pri­mei­ra vez com o se­cre­tá­rio de Estado da Ciência. Confrontado com as crí­ti­cas dos bol­sei­ros so­bre o fac­to do ac­tu­al Estatuto do Bolseiro não os be­ne­fi­ci­ar em ter­mos de re­ga­li­as so­ci­ais, e com a fal­ta de em­pre­go ci­en­tí­fi­co em Portugal, Fernandes Thomaz des­dra­ma­ti­zou e re­cu­sou pa­ra já a pos­si­bi­li­da­de de ela­bo­ra­ção de um no­vo es­ta­tu­to de bol­sei­ro.
    Os re­pre­sen­tan­tes dos bol­sei­ros, que cri­a­ram uma as­so­ci­a­ção a 1 de Fevereiro, ti­nham co­mo pri­o­ri­da­de a mar­ca­ção de uma reu­nião com o mi­nis­tro da ci­ên­cia e do Ensino Superior, Pedro Lynce. Mas o en­con­tro, mar­ca­do a pe­di­do do pró­prio mi­nis­té­rio, aca­ba­ria por se re­a­li­zar com o se­cre­tá­rio de Estado.
    João Ferreira, um dos re­pre­sen­tan­tes da ABIC, ain­da sem pre­si­den­te, ex­pli­cou ao PÚBLICO que es­ti­ve­ram so­bre a me­sa, prin­ci­pal­men­te, a ne­ces­si­da­de de re­for­mu­lar o es­ta­tu­to do bol­sei­ro de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca e a ur­gên­cia de cri­a­ção de em­pre­go ci­en­tí­fi­co. Estas são con­si­de­ra­das con­di­ções es­sen­ci­ais pa­ra que os bol­sei­ros, que em mui­tas das ins­ti­tui­ções ci­en­tí­fi­cas na­ci­o­nais são a fa­tia de leão dos re­cur­sos hu­ma­nos, pos­sam ser in­te­gra­dos nos qua­dros.
    “Não hou­ve res­pos­ta a ne­nhum dos pon­tos apre­sen­ta­dos no ca­der­no rei­vin­di­ca­ti­vo há seis me­ses [ao pre­si­den­te da Fundação pa­ra a Ciência e a Tecnologia]. O se­cre­tá­rio de Estado co­lo­cou a hi­pó­te­se de se po­der fa­zer um ou ou­tro adi­ta­men­to ao ac­tu­al es­ta­tu­to de bol­sei­ro, mas quan­to a cri­ar um no­vo, a res­pos­ta foi não”.
    Os bol­sei­ros quei­xam-se de que sa­tis­fa­zem, na mai­o­ria dos ca­sos, ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes dos ins­ti­tu­tos em que são in­se­ri­dos, mas que não têm os di­rei­tos dos tra­ba­lha­do­res do qua­dro, co­mo sub­sí­dio de fé­ri­as, 13º mês ou sub­sí­dio de de­sem­pre­go. E o se­gu­ro so­ci­al vo­lun­tá­rio, uma es­pé­cie de se­gu­ran­ça so­ci­al, pa­ra além de ser uma con­quis­ta re­cen­te, não é um des­con­to pro­por­ci­o­nal ao va­lor da bol­sa e dei­xa de fo­ra, por exem­plo, fal­tas por do­en­ça.
    A ABIC de­fen­de as­sim que os pro­ble­mas dos bol­sei­ros são pro­ble­mas es­tru­tu­rais da in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca em Portugal e que é pre­ci­so abrir lu­ga­res de tra­ba­lho nas ins­ti­tui­ções, que pre­ci­sam de mão-de-obra jo­vem, co­mo aliás re­fe­ri­ram as vá­ri­as co­mis­sões in­ter­na­ci­o­nais que ava­li­a­ram as uni­da­des de in­ves­ti­ga­ção em Portugal. “O se­cre­tá­rio de es­ta­do acha que a fal­ta de em­pre­go ci­en­tí­fi­co é um pro­ble­ma nos­so e não do Estado. Acha que as ins­ti­tui­ções não es­tão ca­ren­ci­a­das de mão de obra e que tal­vez acor­dos pon­tu­ais com em­pre­sas re­sol­vam as su­as ne­ces­si­da­des. Acabados os cur­sos, os bol­sei­ros de­vem ir à vi­da – a ex­pres­são foi de­le.”
    João Ferreira con­fes­sa que não es­pe­ra­va uma dis­cor­dãn­cia tão cla­ra por par­te do se­cre­tá­rio de Estado e afir­ma que a as­so­ci­a­ção con­ti­nu­a­rá a lu­tar. “A nos­sa pos­tu­ra não é a de pe­dir mui­to pa­ra con­se­guir pou­co. O que apre­sen­ta­mos é o mí­ni­mo que que­re­mos ver sa­tis­fei­to”. Na ter­ça-fei­ra, a ABIC reú­ne com os re­pre­sen­tan­tes do Presidente da República pa­ra as áre­as da Ciência e da Educação – João Caraça e Ana Maria Bettencourt -, e têm mar­ca­das ac­ções de in­for­ma­ção jun­to dos bol­sei­ros de nor­te a sul do país.