Diminui o número de bolsas para I&D
In Semana Informática, 19 de Setembro 2003
Segundo a ABIC, registou-se um corte de 23 por cento relativamente a 2002
“A atribuição de bolsas por parte da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), destinadas à Investigação e Desenvolvimento (I&D) e referentes a Janeiro/Maio de 2003, atingiu o valor mais baixo dos últimos seis anos.” A garantia é da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), que em comunicado de imprensa refere ainda o facto de, “relativamente a 2002, se ter registado um corte de 23 por cento no número de bolsas atribuídas”.
A redução foi classificada pela ABIC como “profundamente negativa, até porque contraria o compromisso assumido pela própria FCT”. Ainda de acordo com o mesmo comunicado, “a percentagem de bolsas concedidas em relação ao total de candidatos foi igualmente a mais baixa desde 1998, tendo passado de 44% para apenas 32%”.
Conforme disse Nuno Castro, membro da direcção da ABIC, ao Semana, os cortes agora efectuados confirmam, “de forma nítida, uma tendência verificada nos últimos anos para a diminuição da percentagem de bolsas atribuídas relativamente ao número de candidatos”. Este responsável chama a atenção para o facto de que, “em 2000, o número de novos doutores em C&T entre os 25 e os 34 anos era em Portugal inferior a menos de metade da média da UE (0,26 e 0,56 respectivamente)”.
Perante este cenário, Castro refere que a política da FCT continua a pautar-se “pelo desinvestimento irracional na investigação científica portuguesa e na necessária formação de recursos humanos”. Acredita a ABIC que cortar nestas duas áreas “não equivale a poupar dinheiro mas sim a abdicar de uma possibilidade real de desenvolvimento e de progresso”.
Questionado sobre as razões que terão levado ao corte agora verificado, o membro da direcção da ABIC refere que “não cabe à associação apresentar justificações para este facto”, embora refira que se torna “claro que os cortes efectuados são consequência de uma política de desinvestimento na formação avançada de recursos humanos em ciência e tecnologia”.
Nuno Castro chama a atenção para o facto de este corte nas bolsas de investigação científica, embora seguindo uma tendência dos últimos anos, “ocorra aquando da passagem dos concursos de semestrais a anuais”.
Confirmaram-se assim os piores receios da Associação dos Bolseiros “quanto à verdadeira motivação desta mudança, ou seja, a existência de um único concurso anual não correspondeu a um direccionamento dos recursos financeiros no sentido da atribuição de bolsas”.
Segundo o interlocutor da ABIC, a actual situação só poderá ser ultrapassada com a implementação de “uma política científica e tecnológica que encare como fundamental o investimento em C&T”. Para tanto, a formação avançada de recursos humanos e o emprego científico e tecnológico têm de ser encarados não como um luxo, mas como uma necessidade vital para o desenvolvimento nacional”, defende ainda Nuno Castro.