Bolsas dependem da generosidade do orçamento do Estado

Bolsas de­pen­dem da ge­ne­ro­si­da­de do or­ça­men­to do Estado

 In Público, 11 de Outubro 2003

    Se o or­ça­men­to de 2004 pa­ra a Ciência não ti­ver for mais ge­ne­ro­so na com­po­nen­te na­ci­o­nal em re­la­ção aos anos an­te­ri­o­res, po­de­rão es­tar em cau­sa os pa­ga­men­tos de bol­sas de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca, os fi­nan­ci­a­men­tos plu­ri­a­nu­ais aos cen­tros de in­ves­ti­ga­ção, o fi­nan­ci­a­men­to dos la­bo­ra­tó­ri­os as­so­ci­a­dos do Estado en­tre ou­tras obri­ga­ções des­ta tu­te­la. Os res­pon­sá­veis de­fen­dem que a cul­pa é de uma ges­tão de­se­qui­li­bra­da, nos úl­ti­mos três anos dos fun­dos es­tru­tu­rais da União Europeia, que le­va a que os di­nhei­ros do III Quadro Comunitário de Apoio pa­ra a Ciência te­nham che­ga­do ao fim três anos an­tes do seu fim es­pe­ra­do, em 2006.
Fernando Ramôa Ribeiro, pre­si­den­te da Fundação pa­ra a Ciência e a Tecnologia (FCT), ins­ti­tui­ção res­pon­sá­vel pe­la ges­tão do fi­nan­ci­a­men­to da ci­ên­cia na­ci­o­nal, afir­mou on­tem ao PÚBLICO que, pa­ra o ano que vem, as bol­sas de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca te­rão de ser in­te­gral­men­te pa­gas pe­la com­po­nen­te na­ci­o­nal do or­ça­men­to de Estado, al­go que não acon­te­cia des­de 1990. “Vamos ter um pro­gra­ma de bol­sas com fi­nan­ci­a­men­to to­tal­men­te na­ci­o­nal e sem fun­dos es­tru­tu­rais, que já aca­ba­ram. Já viu o que era di­zer que não ha­via bol­sas até 2006?”
    Ramôa Ribeiro atri­bui es­te va­zio no sa­co dos di­nhei­ros eu­ro­peus a uma ges­tão de­se­qui­li­bra­da des­tes fun­dos, que diz se­rem, “er­ra­da­men­te, des­de 2000, o prin­ci­pal pi­lar de in­ves­ti­men­to da ci­ên­cia em Portugal”. O res­pon­sá­vel re­fe­re, prin­ci­pal­men­te, ao Programa Operacional pa­ra a Ciência Tecnologia e Inovação – POCTI, que fi­nan­ci­ou, até ago­ra o pa­ga­men­to aos bol­sei­ros, ou o Programa Ciência Viva.
    “Esta si­tu­a­ção de­ve-se ao fac­to de não se ter dis­tri­buí­do de uma for­ma equi­li­bra­da, os fun­dos es­tru­tu­rais. Começou-se por um or­ça­men­to com uma com­po­nen­te na­ci­o­nal mui­to pe­que­na em 2000, que te­ve obri­ga­to­ri­a­men­te de au­men­tar à me­di­da que a cur­va dos fun­dos es­tru­tu­rais se foi mos­tran­do de­cres­cen­te. E 2000 nem foi um ano tão mau co­mo is­so”, adi­an­ta. “E pa­ra 2006 a Alemanha, prin­ci­pal fi­nan­ci­a­dor do Quadro Comunitário de Apoio já fri­sou que es­tá mui­to mais in­te­res­sa­da em in­ves­tir nos no­vos paí­ses da União Europeia, do Leste eu­ro­peu”.
    Para o pre­si­den­te da FCT, é es­sen­ci­al que se­ja apro­va­do um au­men­to da com­po­nen­te na­ci­o­nal no or­ça­men­to pa­ra a ci­ên­cia, na pro­pos­ta de Orçamento do Estado que se­rá apre­sen­ta­da pe­lo Governo pa­ra a se­ma­na. Mas adi­an­ta que os pro­jec­tos de in­ves­ti­ga­ção es­tão as­se­gu­ra­dos, as­sim co­mo o fi­nan­ci­a­men­to do con­cur­so de pro­jec­tos das es­co­las no âm­bi­to do pro­gra­ma Ciência Viva, que es­te ano aca­bou por não se re­a­li­zar.
    João Ferreira, pre­si­den­te da Plataforma de Bolseiros, afir­ma que es­pe­ra­rá pe­los nú­me­ros de­fi­ni­ti­vos que fo­rem apre­sen­ta­dos no Orçamento de Estado: “Ainda é ce­do. Temos de aguar­dar pa­ra ver. Mas es­ta­re­mos cá pa­ra de­nun­ci­ar to­das as ir­re­gu­la­ri­da­des.”
    Por seu la­do, João Sentieiro, di­rec­tor do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico, em Lisboa, e re­pre­sen­tan­te do re­cen­te­men­te cri­a­do Conselho dos Laboratórios Associados (CLA), mos­tra-se mui­to pre­o­cu­pa­do com o fu­tu­ro des­tas ins­ti­tui­ções. “Os con­tra­tos com os Laboratórios Associados já não es­tão a ser cum­pri­dos. O Estado já es­tá em dí­vi­da pa­ra mais de três mi­lhões de eu­ros com os 13 la­bo­ra­tó­ri­os. A si­tu­a­ção é alar­man­te. Ou o Governo pas­sa a con­si­de­rar a ci­ên­cia co­mo um fac­tor pri­o­ri­tá­rio ou o país vai ter mui­tas di­fi­cul­da­des pa­ra fa­zer fa­ce aos de­sa­fi­os nu­ma União Europeia alar­ga­da”. E con­clui afir­man­do que o CLA es­pe­ra­rá pa­ra ver os nú­me­ros do Orçamento de Estado pa­ra 2004 pa­ra se pronunciar.