Currículo vale menos que nota de licenciatura

Currículo va­le me­nos que no­ta de licenciatura

 In Correio da Manhã, 8 de Janeiro 2006

    Luís Tomé não se con­for­ma. O in­ves­ti­ga­dor con­cor­reu ao pro­gra­ma de bol­sas de dou­to­ra­men­to de Maio/​Junho 2005, mas não foi acei­te. “Fiquei es­tu­pe­fac­to com a clas­si­fi­ca­ção que me foi dada.”

    Licenciado em Relações Internacionais na Universidade Autónoma de Lisboa (UAL) – com a mé­dia de 14 va­lo­res, ob­ti­da aos 21 anos – e Mestre em Estratégia (Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas) – com 16 va­lo­res na par­te lec­ti­va e apro­va­do por Unanimidade e Louvor na dis­ser­ta­ção –, de­ci­diu avan­çar pa­ra o dou­to­ra­men­to em Relações Internacionais na Universidade de Coimbra. Concorreu a uma bol­sa, no va­lor de 980 euros/​mês e nem o vas­to cur­rí­cu­lo che­gou pa­ra que o jú­ri o con­si­de­ras­se me­re­ce­dor da bol­sa da Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT).

    INVESTIGADOR NATO

    Entre as su­as re­fe­rên­ci­as cur­ri­cu­la­res cons­tam mais de dez anos de do­cên­cia no en­si­no su­pe­ri­or. Mas há mais: in­ves­ti­ga­dor da NATO, as­ses­sor de Pacheco Pereira en­quan­to vi­ce-pre­si­den­te do Parlamento Europeu, de­ze­nas de ar­ti­gos e en­sai­os em pu­bli­ca­ções es­pe­ci­a­li­za­das em RI e cin­co mo­no­gra­fi­as, vá­ri­os pro­jec­tos de in­ves­ti­ga­ção e inú­me­ras con­fe­rên­ci­as e pa­les­tras em Portugal e no es­tran­gei­ro. Não chegou.

    “A co­mis­são de pe­ri­tos pa­re­ce que ava­li­ou o mé­ri­to do can­di­da­to qua­se ex­clu­si­va­men­te pe­la mé­dia de li­cen­ci­a­tu­ra “, cri­ti­ca. Tomé diz que, em 1996, te­ve di­rei­to a uma bol­sa de Mestrado, que re­cu­sou pois es­ta­va a dar au­las. “Na al­tu­ra, com me­nos cur­rí­cu­lo, con­se­gui uma bolsa.”

    Em 2004 não te­ve a mes­ma sor­te. “Houve ou­tros can­di­da­tos com mui­to me­nos cur­rí­cu­lo, ou ape­nas ten­do con­cluí­da ago­ra a li­cen­ci­a­tu­ra, a quem foi con­ce­di­da bol­sa, só por­que ti­ve­ram uma no­ta de li­cen­ci­a­tu­ra su­pe­ri­or. Que ex­pli­ci­tem de uma vez por to­das que é mais im­por­tan­te a mé­dia da li­cen­ci­a­tu­ra que o mé­ri­to do candidato.”

    As crí­ti­cas es­ten­dem-se à clas­si­fi­ca­ção da­da ao te­ma de dis­ser­ta­ção: dois em cin­co, um tra­ba­lho so­bre ‘A no­va pai­sa­gem es­tra­té­gi­ca da Ásia Oriental’. O jú­ri con­si­de­rou que o pro­jec­to não era “par­ti­cu­lar­men­te in­te­res­san­te”. Tomé re­cor­reu pa­ra o pre­si­den­te da FCT (na al­tu­ra, Ramôa Ribeiro), em 12 de Setembro, acres­cen­tan­do mais da­dos em 5 de Outubro. Nunca ob­te­ve resposta.

    CRITÉRIOS CRIAM INJUSTIÇAS

    André Levy, da di­rec­ção da Associação de Bolseiros de Investigação Científica, é tam­bém crí­ti­co quan­to aos cri­té­ri­os da FCT. “Não são os que pre­fe­ría­mos ter, pois em mui­tos ca­sos po­dem cri­ar in­jus­ti­ças, já que o tra­ba­lho aca­dé­mi­co e de in­ves­ti­ga­ção não é va­lo­ri­za­do convenientemente.”

    O CM ques­ti­o­nou a FCT so­bre os cri­té­ri­os de atri­bui­ção da bol­sa e qual a da­ta pre­vis­ta pa­ra uma res­pos­ta ao re­cur­so. Não foi da­do qual­quer es­cla­re­ci­men­to até ao fe­cho de edição.