Bolseiros lutam por mais direitos

Bolseiros lu­tam por mais di­rei­tos

In Jornal de Noticias, 18 Julho 2007

H á cer­ca de 10 mil bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção que não são con­si­de­ra­dos tra­ba­lha­do­res, não ten­do por es­sa ra­zão di­rei­to ao sub­sí­dio de de­sem­pre­go (ape­sar de mui­tos pres­ta­rem ser­vi­ço efec­ti­vo ao lon­go de anos), nem a qual­quer ou­tro apoio da Segurança Social. Hoje, al­gu­mas cen­te­nas con­cen­tram-se fren­te ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) pa­ra pro­tes­tar e en­tre­gar pro­pos­tas con­cre­tas à tutela.

A Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) já não é re­ce­bi­da no MCTES des­de Junho do ano pas­sa­do, ape­sar de a pro­pos­ta de al­te­ra­ção do es­ta­tu­to dos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção (PAEBI) ter si­do en­vi­a­da em Março, jun­ta­men­te com um pe­di­do de au­di­ção, ao MTCES, à Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT) e ao Ministério do Trabalho e Solidariedade Social, as­sim co­mo à Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura e Comissão Parlamentar de Trabalho e Segurança Social. De acor­do com Pedro Lévy, pre­si­den­te da ABIC, a Associação foi re­ce­bi­da pe­las co­mis­sões par­la­men­ta­res em Abril e Maio, mas “só ob­te­ve res­pos­ta da tu­te­la na pas­sa­da sex­ta-fei­ra”, quan­do se re­a­li­zou um en­con­tro do Painel Consultivo com o se­cre­tá­rio de Estado Manuel Heitor. Pedro Lévy con­si­de­ra que o en­con­tro em cau­sa não subs­ti­tui o diá­lo­go di­rec­to com a ABIC.

Em Novembro do ano pas­sa­do, João Sentieiro, pre­si­den­te da FCT ad­mi­tia a ne­ces­si­da­de de re­a­jus­tes no es­ta­tu­to de bol­sei­ro, sem pre­ci­sar a sua opi­nião nes­sa ma­té­ria, e avan­ça­va com um pos­sí­vel au­men­to do va­lor das bol­sas. Tudo de­via ter si­do con­cluí­do em Abril úl­ti­mo. Pedro Lévy não es­con­de que o va­lor das bol­sas é im­por­tan­te, mas a pas­sa­gem do in­ves­ti­ga­dor a tra­ba­lha­dor com con­tra­to a ter­mo com­por­ta­ria por si só um sal­to no ren­di­men­to. Actualmente, a FCT, que não é a úni­ca en­ti­da­de fi­nan­ci­a­do­ra em Portugal, pa­ga 980 eu­ros por mês (a mul­ti­pli­car por 12 me­ses) no ca­so de um dou­to­ran­do. Um pós-dou­to­ra­men­to é pa­go a 1500 eu­ros men­sais e um téc­ni­co in­ves­ti­ga­dor, ads­tri­to a de­ter­mi­na­do pro­jec­to, re­ce­be 750 eu­ros por mês.

A ABIC pro­põe ao MCTES que se crie um es­ta­tu­to es­pe­cí­fi­co pa­ra in­ves­ti­ga­do­res em for­ma­ção (IF), so­men­te re­ser­va­do àque­les que es­tão em iní­cio de car­rei­ra ou se en­con­tram a de­sen­vol­ver pro­jec­tos com vis­ta a ob­ter um grau aca­dé­mi­co. Mais con­cre­ta­men­te, a ABIC quer aca­bar com as bol­sas, subs­ti­tuin­do-as por con­tra­tos in­di­vi­du­ais de tra­ba­lho. As bol­sas po­de­ri­am ser apli­ca­das so­men­te no pe­río­do cur­ri­cu­lar dos dou­to­ra­men­tos, pas­san­do os alu­nos a con­tra­ta­dos na fa­se se­guin­te do pro­gra­ma de estudos.

Os IF e en­ti­da­des em­pre­ga­do­ras pas­sa­ri­am a pa­gar à Segurança Social, po­den­do os tra­ba­lha­do­res usu­fruir de to­dos os di­rei­tos con­ce­di­dos no âm­bi­to do re­gi­me ge­ral. As pro­pos­tas da ABIC vi­sam tam­bém com­ba­ter o aban­do­no do país por par­te de mui­tos in­ves­ti­ga­do­res, fre­quen­te­men­te con­de­na­dos a vi­ver de bol­sa em bol­sa pa­ra subsistirem.