Bolseiros de investigação “acampam” frente à Assembleia da República
In Diário de Notícias, 29 de Outubro 2006
Dificuldades financeiras estão na origem dos protestos.
Os bolseiros de investigação vão concentrar-se segunda-feira em frente à Assembleia da República e montar tendas de campismo para protestar contra a difícil situação económica e laboral que vivem, anunciaram em comunicado.
A Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) vai promover pelas 17:00 uma iniciativa denominada “Cientistas nas Lonas”, durante a qual vão montar tendas de campismo em frente da Assembleia da República “para mostrar como estão nas lonas”.
As suas queixas prendem-se com diversas áreas, que vão da dificuldade de inserção profissional à falta de dinheiro, passando pela ausência de protecção social.
“A falta de perspectivas de inserção profissional uma vez terminadas as bolsas, a ausência de protecção social digna, com a manutenção à margem do regime geral de Segurança Social, uma deficiente assistência na doença e a falta de qualquer assistência na eventualidade de desemprego”, são algumas das queixas dos bolseiros.
A ABIC reclama também contra a “diminuição consecutiva” do valor real dos montantes das bolsas ao longo dos últimos quatro anos e contra os “vários incumprimentos do Estatuto do Bolseiro de Investigação, nomeadamente nas situações de doença, maternidade e pagamento pontual das bolsas”.
No comunicado, os bolseiros de investigação científica consideram que a situação por eles vivida é “o mais cabal desmentido das sucessivas declarações de aposta na ciência” no país.
Nesse contexto, os bolseiros querem dar a conhecer na sua iniciativa “a contradição entre as declarações de aposta e investimento na ciência” e a sua situação.
“Numa altura em que – em sede de discussão do Orçamento do Estado para 2007 – se anuncia novamente o crescimento sem precedentes do orçamento para a Ciência, cabe perguntar com clareza: quanto desse dinheiro que vem a mais para a Ciência vai ser usado para melhorar a situação daqueles que trabalham em Ciência?”, questionam.
Contudo, consideram que as perspectivas anunciadas “não são famosas”, com a contratação a termo de 500 investigadores, o que consideram “notoriamente insuficiente face às actuais necessidades do conjunto das instituições de Investigação e Desenvolvimento (I&D) e aos milhares de doutorados e pós-doutorados em condições de ingressar já hoje numa carreira”.
Além disso, acrescentam, não há garantia de prosseguimento da carreira terminado o período do contrato, independentemente do mérito do desempenho do investigador.
Por isso, no seu protesto de segunda-feira, a ABIC vai exigir que algum do dinheiro que a Ciência vai receber em 2007 seja usado na melhoria das condições de vida e de trabalho “dos que trabalham em ciência”.
No mesmo dia, vai decorrer uma reunião do Conselho dos Laboratórios do Estado para tentar obter da Fundação para a Ciência e a Tecnologia esclarecimentos quanto aos “problemas financeiros graves” que muitos dos laboratórios enfrentam, segundo um documento a que a Lusa teve acesso.