Bolseiros de Investigação perderam 20 por cento de poder de compra em sete anos

Associação exi­ge au­men­to ao Ministério da Ciência

Bolseiros de Investigação perderam 20 por cento de poder de compra em sete anos

 

 

 

In Público 07 de Abril 2009

A Associação de Bolseiros de Investigação Científica exi­giu ho­je ao Ministério da Ciência um au­men­to das bol­sas, rei­te­ran­do que os bol­sei­ros não são au­men­ta­dos há se­te anos, pe­lo que já per­de­ram qua­se 20 por cen­to de po­der de compra.

A Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) es­te­ve ho­je reu­ni­da com o se­cre­tá­rio de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, pa­ra en­tre­gar um abai­xo-as­si­na­do com cin­co mil as­si­na­tu­ras a pe­dir um au­men­to do va­lor das bolsas.

“Desde 2002 que os bol­sei­ros em Portugal não têm qual­quer au­men­to, nem mais pro­tec­ção so­ci­al, nem mais coi­sa ne­nhu­ma e, se­gun­do as nos­sas con­tas, em 2008 já tí­nha­mos per­di­do 20 por cen­to do po­der de com­pra”, dis­se à Lusa a pre­si­den­te da ABIC, Luísa Mota, de­pois da reu­nião com o se­cre­tá­rio de Estado.

Se uma bol­sa de dou­to­ra­men­to, que em 2002 che­ga­va aos 980 eu­ros, ti­ves­se si­do ac­tu­a­li­za­da to­dos os anos ao va­lor da in­fla­ção, atin­gi­ria em 2008 os 1155 eu­ros, o que re­pre­sen­ta uma per­da efec­ti­va de qua­se 176 eu­ros men­sais, des­ta­ca a ABIC.

Este va­lor é ain­da mais ele­va­do quan­do se tra­ta de uma bol­sa de pós-dou­to­ra­men­to, que em 2002 era de 1450 eu­ros por mês. Como não so­fre al­te­ra­ções des­de es­sa al­tu­ra, a ABIC cal­cu­la, ten­do por ba­se o va­lor da in­fla­ção, que em 2008 es­ses bol­sei­ros de­ve­ri­am ga­nhar 1.709,50 eu­ros, o que re­pre­sen­ta­ria mais qua­se 260 eu­ros por mês.

Abrir dis­cus­são

“Tendo em con­ta a si­tu­a­ção eco­nó­mi­ca do país, é evi­den­te que não es­ta­mos a exi­gir nes­te mo­men­to a re­po­si­ção ou um au­men­to de 20 por cen­to nos va­lo­res das bol­sas e não pro­pu­se­mos va­lor ne­nhum, pa­ra abrir es­pa­ço a es­sa dis­cus­são”, re­ve­lou Luísa Mota.

A pro­tec­ção so­ci­al é ou­tra das rei­vin­di­ca­ções da ABIC, já que no en­ten­der da as­so­ci­a­ção es­ta “é mínima”.

“Temos ape­nas di­rei­to a uma coi­sa cha­ma­da se­gu­ro so­ci­al vo­lun­tá­rio, que é a pro­tec­ção so­ci­al, por exem­plo, de uma do­na de ca­sa ou de um bom­bei­ro vo­lun­tá­rio, em que os des­con­tos são fei­tos não so­bre aqui­lo que se ga­nha, mas so­bre o sa­lá­rio mí­ni­mo na­ci­o­nal”, adi­an­tou a pre­si­den­te da ABIC.

Como con­sequên­cia, ex­pli­cou Luísa Mota, os bol­sei­ros sa­em “al­ta­men­te pre­ju­di­ca­dos” na al­tu­ra da reforma.

“Numa al­tu­ra em que já se con­si­de­ra pa­ra efei­tos de pen­são ou de re­for­mas to­da a car­rei­ra con­tri­bu­ti­va, es­tar­mos anos a des­con­tar so­bre o sa­lá­rio mí­ni­mo é al­ta­men­te pe­na­li­za­dor”, apontou.

Sem sub­sí­dio de desemprego

Descontentamento que ain­da se es­ten­de ao sub­sí­dio de do­en­ça, que só têm ao fim do pri­mei­ro mês, e ao sub­sí­dio de de­sem­pre­go, ao qual não têm direito.

Para que es­tas al­te­ra­ções se­jam fei­tas, ex­pli­cou Luísa Mota, é ain­da pre­ci­so que se­ja con­cluí­da a re­vi­são do Estatuto de Bolseiros de Investigação, que re­ge to­dos os bol­sei­ros, e que es­tá de­pen­den­te da re­vi­são do Estatuto da car­rei­ra dos do­cen­tes uni­ver­si­tá­ri­os e dos po­li­téc­ni­cos, apro­va­da na se­ma­na pas­sa­da pe­lo Governo.

Ainda as­sim, a ABIC saiu sa­tis­fei­ta da reu­nião com o se­cre­tá­rio de Estado Manuel Heitor: “Do que per­ce­be­mos, o se­nhor se­cre­tá­rio de Estado es­tá in­te­res­sa­do em reu­nir con­nos­co pro­xi­ma­men­te nu­ma reu­nião só pa­ra dis­cu­tir es­ta ques­tão do au­men­to das bol­sas, o que já é mui­to positivo.”

A ABIC es­ti­ma que em Portugal ha­ja cer­ca de dez mil bol­sei­ros, po­den­do o nú­me­ro por ve­zes os­ci­lar en­tre os oi­to mil e os 12 mil, já que não há da­dos ri­go­ro­sos, sa­ben­do-se ape­nas que, pe­la Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT), são cer­ca de cin­co mil.