Alarga-se o uso de bolseiros como docentes não remunerados

A di­rec­ção da ABIC vol­ta aqui a re­no­var o com­pro­mis­so de apoi­ar os bol­sei­ros, de­fen­der me­lho­res con­di­ções, e lu­ta por uma me­lhor e mais jus­to Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia.

Em bre­ve te­re­mos in­for­ma­ções so­bre ou­tras ques­tões, mas gos­ta­ría­mos nes­te mo­men­to de di­vul­gar o se­guin­te co­mu­ni­ca­do e cha­mar a aten­ção pa­ra um abai­xo as­si­na­do a ele as­so­ci­a­do: http://​www​.pe​ti​ti​o​non​li​ne​.com/trabpago/petition.html

O co­mu­ni­ca­do es­tá dis­po­ní­vel em : http://​www​.abic​-on​li​ne​.org/documentos/​comunicados/​comunicadodocencia.pdf

1. A Direcção da ABIC vem de­nun­ci­ar pu­bli­ca­men­te a ten­dên­cia que se ob­ser­va nas Universidades Portuguesas de con­sa­grar, em Regulamentos Universitários ou Regulamentos de Bolsas de Investigação das Universidades, o re­cur­so a bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção pa­ra pres­ta­ção de ser­vi­ço do­cen­te não re­mu­ne­ra­do. Tal já se en­con­tra em prá­ti­ca em al­gu­mas Universidades, e tem si­do pro­pos­to em edi­ções re­cen­tes de Regulamentos in­ter­nos de al­gu­mas des­tas Instituições, co­mo é o ca­so da Universidade de Aveiro. Esta ten­dên­cia vi­sa abran­ger não só os bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção mas tam­bém ou­tros in­ves­ti­ga­do­res, no­me­a­da­men­te os que fo­ram con­tra­ta­dos ao abri­go dos pro­gra­mas Ciência.

2. Na opi­nião da di­rec­ção da ABIC es­ta prá­ti­ca, que apro­vei­ta a pre­ca­ri­e­da­de dos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção e o seu in­te­res­se em for­ta­le­cer o seu cur­ri­cu­lum e as su­as pos­si­bi­li­da­des de um fu­tu­ro mais es­tá­vel, cons­ti­tuiu uma for­ma de ex­plo­ra­ção da com­pe­tên­cia in­te­lec­tu­al dos bol­sei­ros ao pre­ver tra­ba­lho qua­li­fi­ca­do não remunerado.

3. Sendo evi­den­te que a prá­ti­ca do­cen­te po­de cons­ti­tuir uma com­po­nen­te da for­ma­ção de um in­ves­ti­ga­dor, não é acei­tá­vel que as uni­ver­si­da­des ve­nham por mais es­ta via col­ma­tar ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes ou oca­si­o­nais dos seus qua­dros atra­vés do re­cur­so a bol­sei­ros. Consideramos, por­tan­to, que:

a) No ca­so de pro­gra­mas de dou­to­ra­men­to, em que a prá­ti­ca do­cen­te se­ja en­ca­ra­da co­mo uma com­po­nen­te ne­ces­sá­ria pa­ra o cum­pri­men­to dos re­qui­si­tos pa­ra a ob­ten­ção do grau, de­ve ser con­sa­gra­do um mo­do de com­pen­sa­ção pe­la ac­ti­vi­da­de do­cen­te (e.g., re­mu­ne­ra­ção con­so­an­te o nú­me­ro de ho­ras, re­du­ção de pro­pi­nas, ver­bas pa­ra a in­ves­ti­ga­ção re­a­li­za­da pe­lo bol­sei­ro, etc.) e as ho­ras de ser­vi­ço do­cen­te de­vem ser tam­bém tra­du­zi­das em uni­da­des de cré­di­to do pro­gra­ma dou­to­ral. Neste con­tex­to, a do­cên­cia de­ve ser en­ca­ra­da co­mo ex­cep­ci­o­nal e o nú­me­ro de uni­da­de cur­ri­cu­la­res de­ve ser limitado.

b) Nos res­tan­tes ca­sos, a prá­ti­ca do­cen­te nun­ca de­ve­rá ser con­si­de­ra­da obri­ga­tó­ria: o bol­sei­ro de­ve ter a pos­si­bi­li­da­de de op­tar pe­la sua prá­ti­ca. No ca­so de exer­cí­cio de do­cên­cia, os bol­sei­ros de­vem ser con­tra­ta­dos, re­mu­ne­ra­dos, e, en­qua­dra­dos no âm­bi­to do Estatuto de Carreira Docente aplicável.

4. A ABIC con­si­de­ra que, além de um abu­so da con­di­ção do bol­sei­ro de in­ves­ti­ga­ção, es­ta prá­ti­ca cons­ti­tui um ata­que ao Estatuto de Carreira de Docente Universitária, Estatuto de Carreira do Pessoal Docente do Ensino Superior Politécnico, e Estatuto de Carreira de Investigador Científico, pro­ven­do a de­gra­da­ção des­tas Carreiras e dos seus mem­bros, e con­tri­buin­do pa­ra, na prá­ti­ca, li­mi­tar as efec­ti­vas opor­tu­ni­da­des de in­gres­so nes­tas Carreiras. Salientamos a es­te res­pei­to o pa­re­cer do SNESup: “O de­sem­pe­nho de fun­ções [do­cen­tes] a tí­tu­lo gra­tui­to não es­tá abran­gi­do pe­la pre­vi­são do Artigo 32º-A do ECDU, sen­do por­tan­to ilegal”.

5. Alertamos tam­bém pa­ra o fac­to de es­ta pra­ti­ca con­tri­buir pa­ra a de­gra­da­ção da qua­li­da­de pe­da­gó­gi­ca das ca­dei­ras uni­ver­si­tá­ri­as e do ser­vi­ço pres­ta­do aos dis­cen­tes; pa­ra a fal­ta de trans­pa­rên­cia no cri­té­rio de es­co­lha do do­cen­te de uma ca­dei­ra; e pa­ra di­mi­nuir a ca­pa­ci­da­de do bol­sei­ro ga­ran­tir a re­a­li­za­ção do seu pla­no de tra­ba­lhos de bol­sa, que de­ve cons­ti­tuir a pri­o­ri­da­de em ter­mos da sua actividade.

6. Apelamos aos bol­sei­ros que se­jam ins­ta­dos a exer­cer fun­ções de do­cên­cia não-re­mu­ne­ra­das, na ba­se do vo­lun­ta­ri­a­do, que não te­nham ape­nas em con­si­de­ra­ção a pers­pec­ti­va ilu­só­ria de me­lho­ria do seu cur­rí­cu­lo, e con­tac­tem a ABIC. A anuên­cia a es­te ti­po de prá­ti­cas, sob a más­ca­ra de uma opor­tu­ni­da­de, além de cons­ti­tuir uma for­ma de ex­plo­ra­ção, con­du­zi­rá a mé­dio pra­zo ao agra­va­men­to das su­as pos­si­bi­li­da­des de em­pre­go docente.

7. A ABIC lan­çou um abai­xo as­si­na­do pú­bli­co (http://www.petitiononline.com/trabpago/petition.html), ape­lan­do a to­dos mem­bros do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia que subs­cre­vam de­mons­tran­do a sua so­li­da­ri­e­da­de e a re­jei­ção des­te abuso.