Feira de emprego cancelada por falta de comparência das empresas
In Diário de Notícias, 13 de Novembro 2006
Uma das ideias que a Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) tinha para esta 2.ª conferência sobre emprego científico era a realização paralela de uma feira de emprego nesta área. Mas da ideia à prática as coisas acabaram por gorar-se. Conta Vera Domingues, da ABIC: “Mandámos convites para mais de cem empresas, e depois de muitas insistências, telefonemas e e-mails tivemos apenas duas respostas. Acabámos por cancelar a iniciativa.”
Este falhanço, sublinham os dirigentes da ABIC, é a imagem do desinteresse e da falta de investimento das empresas portuguesas em recursos humanos qualificados, nomeadamente para o desenvolvimento de actividades de investigação e desenvolvimento (I&D). E este também é um dos bloqueios ao emprego científico (e ao desenvolvimento económico do País) há muito identificados por todos.
“O Estado tem por missão apoiar a formação avançada de recursos humanos, como está a fazer, e não pode ser o único empregador”, sublinha a este propósito o presidente da FCT, João Sentieiro, notando que “o crescimento do emprego científico depende também do crescimento do próprio País”.
Apesar do sinal desencorajador que a falta de comparência das empresas na iniciativa da ABIC constitui, a leitura do ministro da Ciência sobre esta realidade é optimista: “Há algo que está a mudar aí”, garante. E refere como indicador positivo a adesão de duas dezenas de empresas portuguesas em vários sectores da indústria aos programas no âmbito dos acordos com o MIT e Carnegie Mellon – que lhes exige a duplicação de actividades de I&D, o aumento de registo de patentes e de contratação de um determinado número de doutorados.
Outro sinal idêntico, para Mariano Gago, é o aumento do número de pequenas empresas de base tecnológica lançadas em Portugal por jovens cientistas, nos últimos anos, à semelhança do que aconteceu com Manuel Rodrigues (ver depoimento). Mas, como diz o próprio Manuel Rodrigues, esta não pode ser a solução para todos e para quem, aos 30 e tal anos, continua a somar bolsas de pós-doc, ou outras situações precárias, porque não têm outra saída, esta acaba por ser uma situação frustrante.
“Houve um grande esforço na formação avançada de recursos humanos, mas com o bloqueio do sistema científico, muitos destes jovens não têm perspectivas para além da renovação de bolsas”, diz Margarida Fontes, investigadora no INETI, que tem estudado esta questão.
Margarida Fontes apresenta hoje, em Braga, um estudo preliminar sobre jovens doutorados portugueses que saíram do País (ou não regressaram) porque não encontraram aqui as condições necessárias para trabalhar em ciência.
“Não há números globais sobre esta questão e é pena, porque eles poderiam ajudar a conhecer a realidade e a perceber, por exemplo, se está a haver fuga de cérebros, como parece, e a orientar as políticas na ciência”, nota.
João Sentieiro admite que esses estudos são importantes e diz que a FCT vai passar a fazê-los.