Estatuto dos bolseiros vai ser revisto até Abril de 2007

Estatuto dos bol­sei­ros vai ser re­vis­to até Abril de 2007

 In DN on­li­ne, 13 de Novembro 2006

    O es­ta­tu­to dos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca “tem de­fi­ci­ên­ci­as que não sal­va­guar­dam al­gu­mas si­tu­a­ções” e que, por is­so, vão ser cor­ri­gi­das “até fi­nal de Abril de 2007”. A ga­ran­tia é de João Sentieiro, pre­si­den­te da Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT), o or­ga­nis­mo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) que fi­nan­cia bol­sas e pro­jec­tos de investigação.

    O pre­si­den­te da FCT ad­mi­te as­sim que há coi­sas a me­lho­rar na vi­da dos bol­sei­ros, co­mo eles pró­pri­os rei­vin­di­cam há vá­ri­os anos, e não dei­xa­rá de o afir­mar ho­je em Braga, na 2.ª Conferência Nacional so­bre Emprego Científico, pro­mo­vi­da pe­la Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC).

    Que al­te­ra­ções vão ser in­tro­du­zi­das no Estatuto do Bolseiro, o pre­si­den­te da FCT não quer, no en­tan­to, adi­an­tar. “Isso vai ser dis­cu­ti­do com os par­cei­ros, as ins­ti­tui­ções e os re­pre­sen­tan­tes dos bol­sei­ros, e só de­pois dis­so po­de­re­mos in­tro­du­zir as al­te­ra­ções que fo­rem con­si­de­ra­das ne­ces­sá­ri­as”, afir­mou ao DN. Por ou­tro la­do, o que pre­ten­de anun­ci­ar na con­fe­rên­cia da ABIC é a cons­ti­tui­ção do Painel Consultivo e “o iní­cio ime­di­a­to” do seu funcionamento.

    Este pai­nel, cu­jo pa­pel é o de acom­pa­nha­men­to e fis­ca­li­za­ção da apli­ca­ção das bol­sas, es­ta­va pre­vis­to há mais de dois anos, mas nun­ca foi le­va­do à prá­ti­ca, o que tem si­do, aliás, uma das ra­zões de quei­xa re­cor­ren­tes da ABIC.

    Bolsas em vez de contratos

    Mas se há vá­ri­os pro­ble­mas pa­ra os quais os bol­sei­ros ci­en­tí­fi­cos têm cha­ma­do sis­te­ma­ti­ca­men­te a aten­ção nos úl­ti­mos anos, um dos que eles sen­tem com mai­or agu­de­za é o da fal­ta de saí­das pro­fis­si­o­nais no País, com­pa­tí­veis com as su­as qua­li­fi­ca­ções. E es­sa é a ra­zão por que pro­mo­vem o de­ba­te de ho­je em Braga.

    “Há dois anos, fi­ze­mos a pri­mei­ra con­fe­rên­cia so­bre o te­ma, em que par­ti­ci­pa­ram uma sé­rie de es­pe­ci­a­lis­tas”, ex­pli­ca João Ferreira, da di­rec­ção da ABIC, su­bli­nhan­do que “nes­sa al­tu­ra fi­ca­ram iden­ti­fi­ca­dos vá­ri­os pro­ble­mas e blo­quei­os no sis­te­ma científico”.

    A ine­xis­tên­cia de lu­ga­res no sec­tor pú­bli­co (uni­ver­si­da­des e Laboratórios de Estado), que per­mi­tam no­vas en­tra­das de qua­dros ou de con­tra­tos tem­po­rá­ri­os, e um sec­tor em­pre­sa­ri­al pra­ti­ca­men­te fe­cha­do à con­tra­ta­ção de dou­to­ra­dos emer­gi­ram nes­sa al­tu­ra co­mo o es­sen­ci­al des­ses blo­quei­os. “Muito do cres­ci­men­to do sis­te­ma ci­en­tí­fi­co nas ins­ti­tui­ções pú­bli­cas fez-se à cus­ta de bol­sei­ros”, diz João Ferreira. “Há mui­tas fal­sas bol­sas, no­me­a­da­men­te nos Laboratórios de Estado, que na ver­da­de de­vi­am ser con­tra­tos de tra­ba­lho, uma vez que os bol­sei­ros já não es­tão em for­ma­ção, mas a as­se­gu­rar fun­ções ci­en­tí­fi­cas e téc­ni­cas es­pe­ci­a­li­za­das, que de ou­tra ma­nei­ra não po­de­ri­am ser re­a­li­za­das nes­sas ins­ti­tui­ções”. E é por is­to, e por­que afi­nal o seu es­ta­tu­to não lhes dá as con­di­ções de vi­da com­pa­tí­veis com as su­as fun­ções al­ta­men­te qua­li­fi­ca­das, que se sen­tem “mão-de-obra ba­ra­ta”. Tanto mais que, con­tas fei­tas, os cer­ca de oi­to mil bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca que se cal­cu­la exis­ti­rem em Portugal as­se­gu­ram al­go co­mo um ter­ço dos re­cur­sos hu­ma­nos do sis­te­ma ci­en­tí­fi­co nacional.

    Dois anos de­pois da pri­mei­ra con­fe­rên­cia da ABIC, a si­tu­a­ção não es­tá mui­to di­fe­ren­te, mas pa­re­ce ha­ver coi­sas a acon­te­cer e, pe­lo me­nos, uma pro­mes­sa de mudança.

    Apostar na formação

    O em­pre­go ci­en­tí­fi­co “tam­bém é uma pre­o­cu­pa­ção da FCT”, diz o seu pre­si­den­te, João Sentieiro, su­bli­nhan­do que é nes­se sen­ti­do que a fun­da­ção “es­tá a lan­çar uma sé­rie de me­di­das”. É o ca­so do fi­nan­ci­a­men­to à con­tra­ta­ção, por um pe­río­do de cin­co anos, de mil no­vos in­ves­ti­ga­do­res dou­to­ra­dos até fi­nal da pre­sen­te le­gis­la­tu­ra (Setembro de 2009). Os con­cur­sos in­ter­na­ci­o­nais pa­ra os pri­mei­ros 500 se­rão aber­tos em Fevereiro ou Março de 2007.

    “São con­tra­tos, não são bol­sas, e até fi­nal da le­gis­la­tu­ra, de­pen­den­do da qua­li­da­de dos can­di­da­tos, po­de­mos ul­tra­pas­sar os mil”, ex­pli­ca o mi­nis­tro da Ciência, Mariano Gago, que su­bli­nha o in­ves­ti­men­to fi­nan­cei­ro que o Governo es­tá a fa­zer no sec­tor da ci­ên­cia. “Por is­so, é na­tu­ral que nos pró­xi­mos anos cres­ça o em­pre­go ci­en­tí­fi­co no País”, pre­vê o mi­nis­tro. Com a re­for­ma dos Laboratórios de Estado, fi­na­li­za­da du­ran­te o pró­xi­mo ano, Mariano Gago con­si­de­ra ain­da que eles “vão ser tam­bém, a par­tir daí, uma fon­te sig­ni­fi­ca­ti­va de re­cru­ta­men­to de jo­vens investigadores”.

    E se a ABIC põe a tó­ni­ca na fal­ta de saí­das pro­fis­si­o­nais e con­si­de­ra que o nú­me­ro de mil in­ves­ti­ga­do­res con­tra­ta­dos até 2009 “é in­su­fi­ci­en­te, até por­que não há quais­quer ga­ran­ti­as pa­ra além dos cin­co anos do con­tra­to”, o mi­nis­tro pre­fe­re acen­tu­ar “o es­for­ço que es­tá a ser fei­to, e que é ne­ces­sá­rio con­ti­nu­ar”. Nomeadamente na for­ma­ção, com ver­bas pa­ra mais bol­sas. “As que exis­tem ain­da não são su­fi­ci­en­tes pa­ra re­cu­pe­rar o atra­so do País”, diz.