Bolseiros exigem estatuto de trabalhadores
In Correio da Manhâ, 25 de Julho 2006
Cérebros ameaçam deixar País
A Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) exige ter acesso ao estatuto de trabalhadores e melhores condições de trabalho ou, ameaçam, vão exercer as funções de investigadores para o estrangeiro.
A ameaça foi encenada ontem, numa manifestação realizada à porta das partidas do Aeroporto de Lisboa, com o objectivo de chamar a atenção para a situação de precariedade da maioria dos investigadores portugueses. André Levy, membro da direcção da ABIC, explicou que “a falta de perspectivas de obter um emprego efectivo na área da investigação leva à emigração dos melhores cérebros nacionais para o estrangeiro”. “Enquanto bolseiros, nós não somos considerados trabalhadores e, quando acaba uma bolsa, não temos acesso às regalias que qualquer trabalhador tem, como Segurança Social, férias com direito a subsídio ou subsídio de desemprego”, acrescentou aquele cientista, de 34 anos, doutorado em Biologia Evolutiva.
Para André Levy, esta situação de precariedade dos jovens licenciados e doutorados portugueses “é consequência de muitos anos de governação sem qualquer investimento na área da ciência”.
Há pessoas com bolsas que não chegam a concluir o grau académico porque gastam o tempo, na maior parte das vezes, a exercer tarefas variadas nas unidades de investigação e nos laboratórios do Estado, como é o caso do Instituto Tecnológico e Nuclear”, criticou o porta-voz dos contestatários, afirmando que “muitos dos laboratórios do Estado não funcionariam sem os bolseiros”.
CERCA DE NOVE MIL AFECTADOS
A iniciativa da ABIC, denominada ‘Fuga de Cérebros com Talento’, teve como objectivo chamar a atenção para a situação de cerca de nove mil bolseiros que, apesar de vários anos de investigação, nunca chegam a adquirir o estatuto de trabalhadores.
A medida anunciada pelo ministro da Ciência, Mariano Gago, de que serão contratados mil doutorados com mais de três anos de experiência, é aplaudida por André Levy, mas não deixa de ser considerada insuficiente. A criação de mais cinco mil bolsas de investigação preocupa a ABIC, pois “é o reforço de uma situação de precariedade”. “Queremos ficar em Portugal, mas não sem condições”, afirmaram os manifestantes.