Bolseiros de investigação não recebem bolsas pontualmente

Bolseiros de in­ves­ti­ga­ção não re­ce­bem bol­sas pontualmente

 In Jornal de Notícias, 19 de Abril 2006

    Bolseiros de in­ves­ti­ga­ção do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas (INIAP) es­tão sem re­ce­ber as res­pec­ti­vas bol­sas, em al­guns ca­sos o atra­so re­mon­ta a mais de dois me­ses. A de­nún­cia foi fei­ta pe­la Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), su­bli­nhan­do que “es­ta si­tu­a­ção não é iné­di­ta. Já em anos an­te­ri­o­res se ve­ri­fi­ca­ram atra­sos aos bol­sei­ros do INIAP, tal co­mo acon­te­ce nou­tros la­bo­ra­tó­ri­os do Estado”.

    A ABIC aler­tou, há cer­ca de um mês, a di­rec­ção do INIAP pa­ra o atra­so de pa­ga­men­to, ape­lan­do a uma rá­pi­da in­ter­ven­ção bem co­mo ao re­em­bol­so de des­pe­sas de Seguro Social Voluntário. De re­fe­rir que a mai­or par­te dos bol­sei­ros des­te ins­ti­tu­to re­ce­be de acor­do com os pro­jec­tos de in­ves­ti­ga­ção que es­tão a de­sen­vol­ver, o que sig­ni­fi­ca um pa­ga­men­to men­sal de pou­co mais de 700 euros.

    “Esta é uma ques­tão re­cor­ren­te, os bol­sei­ros qua­se po­dem pre­ver atra­sos dos pa­ga­men­tos nos me­ses de Janeiro e Fevereiro, al­tu­ra da ro­ta­ção or­ça­men­tal”, ex­pli­cou André Levy da ABIC. Por ou­tro la­do, acres­cen­tou, as ins­ti­tui­ções on­de es­tão co­lo­ca­dos os bol­sei­ros de­ve­ri­am ser ca­pa­zes de adi­an­tar es­ses pa­ga­men­tos, “mas vi­vem com or­ça­men­tos tão re­du­zi­dos que qua­se só che­gam pa­ra pa­gar os sa­lá­ri­os, o que os im­pe­de de col­ma­tar a situação”.

    André Levy sa­li­en­tou, ain­da, o re­ceio de mui­tos bol­sei­ros de de­nun­ci­a­rem a si­tu­a­ção, “uma vez que não têm co­lo­ca­ções e te­mem que não lhes se­ja re­no­va­da a bol­sa”. Aliás, acres­cen­tou a atri­bui­ção de bol­sas é uti­li­za­da de uma for­ma “abu­si­va, por­que mui­tas ve­zes os bol­sei­ros ape­nas es­tão a ocu­par lu­ga­res es­sen­ci­ais pa­ra o fun­ci­o­na­men­to das ins­ti­tui­ções, mas pa­ra os quais não são aber­tas va­gas pa­ra o quadro”.

    Trata-se de uma for­ma “efi­caz de pou­par nas fi­nan­ças. Em vez de abrir um lu­gar de qua­dro, que im­pli­ca uma re­mu­ne­ra­ção mais ele­va­da e en­car­gos com a Segurança Social, é atri­buí­da mais uma bol­sa, que não tem en­car­gos e é mais um in­ves­ti­ga­dor que não fi­ca na car­rei­ra, ou se­ja é mais uma for­ma de pre­ca­ri­za­ção da car­rei­ra de in­ves­ti­ga­dor”, re­fe­riu André Levy. Por es­se mo­ti­vo a Associação de Bolseiros re­ce­be­ram com al­gu­ma apre­en­são a no­tí­cia de au­men­tar pa­ra cin­co mil as bol­sas de in­te­gra­ção na in­ves­ti­ga­ção. “Não se tra­ta de uma no­vi­da­de, ex­cep­to o nú­me­ro. No en­tan­to, são tam­bém es­tas bol­sas as que mais têm si­do uti­li­za­das pa­ra col­ma­tar as ne­ces­si­da­de per­ma­nen­tes do sistema”.

    No en­ten­der da ABIC a apos­ta de­ve­ria ser na cri­a­ção de lu­ga­res de qua­dro, pa­ra que os in­ves­ti­ga­do­res, in­clu­si­ve os de pós-dou­to­ra­men­to pos­sam de­sen­vol­ver a sua carreira.