Bolseiros de investigação alertam para precariedade laboral

Bolseiros de in­ves­ti­ga­ção aler­tam pa­ra pre­ca­ri­e­da­de la­bo­ral


In Diário Digital, 10 de Dezembro 2008

Os bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca pro­mo­vem quin­ta-fei­ra uma sé­rie de ini­ci­a­ti­vas em Lisboa, Porto, Aveiro e Coimbra pa­ra ex­pli­ca­rem à opi­nião pú­bli­ca que não têm os di­rei­tos dos tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos, ape­sar de exer­ce­rem de fac­to es­sas funções.

Em Lisboa, por exem­plo, os bol­sei­ros vão en­ce­nar a par­tir das 18:00, jun­to ao Arco da Rua Augusta, um pe­di­tó­rio «pa­ra o sub­sí­dio de Natal que não re­ce­bem e pa­ra o fun­do de de­sem­pre­go a que não têm di­rei­to», ape­sar de se­rem tra­ba­lha­do­res e não es­tu­dan­tes em formação.

Segundo André Levy, res­pon­sá­vel pe­la Associação de Bolseiros de Investigação Científica, (ABIC), as ini­ci­a­ti­vas pre­ten­dem aler­tar «pa­ra o fac­to de não se­rem con­si­de­ra­dos tra­ba­lha­do­res, pa­ra o fac­to de, em­bo­ra tra­ba­lhem du­ran­te vá­ri­os anos em ins­ti­tui­ções, se dei­xa­rem de ter bol­sa, não te­rem di­rei­to ao sub­sí­dio de de­sem­pre­go, e o fac­to de não te­rem di­rei­to, co­mo os ou­tros tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos, a um re­gi­me de se­gu­ran­ça social».

André Levy con­si­de­rou que es­ta si­tu­a­ção «não só pre­ju­di­ca os pró­pri­os bol­sei­ros, co­mo de cer­ta ma­nei­ra des­pres­ti­gia a ci­ên­cia e tec­no­lo­gia em Portugal e cons­ti­tui um im­pe­di­men­to pa­ra que a ci­ên­cia e tec­no­lo­gia ve­nha a ser um pi­lar de de­sen­vol­vi­men­to da nos­sa economia».

Segundo es­te res­pon­sá­vel são cer­ca de 10 mil os bol­sei­ros por­tu­gue­ses nes­ta situação.

«Alguns es­tão ge­nui­na­men­te em for­ma­ção, mas a nos­sa pre­o­cu­pa­ção é que, pa­ra além des­tes bol­sei­ros em for­ma­ção, há mui­tos, mui­tos ou­tros que já não es­tão a apren­der, es­tão a pôr em prá­ti­ca co­nhe­ci­men­tos já ad­qui­ri­dos, a bol­sa é uti­li­za­da co­mo for­ma fal­se­a­da de tra­ba­lho», dis­se, de­fen­den­do a re­vi­são do ac­tu­al es­ta­tu­to do bol­sei­ro, «pa­ra evi­tar es­tas for­mas de abuso».

Embora con­si­de­re que em Portugal se pro­gre­diu mui­to nos úl­ti­mos anos em re­la­ção à for­ma­ção avan­ça­da, es­te bol­sei­ro tam­bém des­ta­cou que «fal­ta em­pre­go ci­en­tí­fi­co pa­ra es­ses doutorados».

«Temos de fa­zer pro­gres­sos nes­se sen­ti­do, pa­ra apro­vei­tar­mos es­se in­ves­ti­men­to fei­to na for­ma­ção. Tem de ha­ver mais em­pre­go no sec­tor pri­va­do e no sec­tor em­pre­sa­ri­al», dis­se, de for­ma a evi­tar que es­tes dou­to­res «aban­do­nem a car­rei­ra ou aca­bem por ir pa­ra o estrangeiro».

A ABIC reu­niu no mês pas­sa­do com o se­cre­tá­rio de Estado do Ensino Superior, que «mos­trou aber­tu­ra» pa­ra re­ver o es­ta­tu­to dos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção científica.

«A reu­nião foi mui­to cur­ta, du­rou cer­ca de meia ho­ra, e não foi pos­sí­vel en­trar em por­me­no­res, mas sen­ti­mos que o blo­queio es­tá ul­tra­pas­sa­do e que há von­ta­de de di­a­lo­gar», dis­se en­tão à Agência Lusa o pre­si­den­te da ABIC.

Para a di­rec­ção da ABIC, o ac­tu­al es­ta­tu­to «é de­ma­si­a­do abran­gen­te e per­mi­te mui­tos abu­sos» a que es­tão su­jei­tos nu­me­ro­sos in­ves­ti­ga­do­res e téc­ni­cos científicos.

André Levy de­fen­de que as bol­sas de in­ves­ti­ga­ção te­nham ca­rác­ter tem­po­rá­rio e se­jam só pa­ra for­ma­ção, e que o es­ta­tu­to des­tes bol­sei­ros de­ve ser re­vis­to ain­da nes­ta legislatura.

Estas bol­sas ou são fi­nan­ci­a­das di­rec­ta­men­te pe­la FCT ou atra­vés de pro­jec­tos ou uni­da­des de in­ves­ti­ga­ção. O uni­ver­so dos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca abran­ge 10.000 pes­so­as, tan­to den­tro co­mo fo­ra do país, in­cluin­do 7.000 fi­nan­ci­a­dos pe­la FCT e os res­tan­tes por ou­tras ins­ti­tui­ções, ten­do a ABIC cer­ca de 500 membros.