Novos institutos podem travar “fuga” e atrair “cérebros”
In Público, 3 de Fevereiro de 2010
Que não restem dúvidas: a “fuga” continua a verificar-se. Portugal está em terceiro lugar na lista da OCDE que apresenta os países mais afectados pelo fenómeno com quase 15 por cento da população qualificada a viver no estrangeiro. Porém, no capí- tulo dos “cérebros” que se dedicam à investigação, há alguns factores, como a instalação de novos institutos no país, que podem ajudar a contrariar esta tendência.
“Podemos confirmar que todos os indicadores objectivos apontam no sentido de que não existe fuga de cérebros”, afirma João Sentieiro, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). O responsável argumenta: foram integrados nas instituições científicas e académicas nacionais, nos anos de 2007, 2008 e 2009, cerca de 700 doutorados portugueses (58 por cento dos 1200 contratos financiados pela FCT) e entre 2003 e 2008 o número de doutorados integrados em Unidades de Investigação e Laboratórios Associados cresceu de 8035 para 12.063. João Sentieiro sublinha ainda: o número de doutorados estrangeiros nas universidades públicas portuguesas aumentou mais de 50 por cento nos últimos dois anos.
Mas há outras possíveis influências. A Fundação Champalimaud, o Instituto Fraunhofer, o Instituto Gulbenkian de Ciência, o Laboratório Ibérico de Nanotecnologia (INL), e os recém-criados clusters são alguns dos novos “lares de acolhimento” para cientistas no país. São poucas “vagas” em aberto – no caso do INL, há lugar para cerca de 300 investigadores e no núcleo de neurociências da Champalimaud são 67 -, mas serão números capazes de abrandar um cenário de fuga e equilibrar a balança de quem entra e sai. Porém, para quem fica fora destes “oásis” continua a ser difícil ficar no país e, por vezes, a única solução é a fuga lá para fora. Certo é que os bolseiros não calam os protestos sobre as condições de trabalho e ainda se ouvem muitos investigadores “seniores” que se queixam da extrema dificuldade que têm em conciliar a investigação com a carreira académica que são forçados a cumprir nas universidades. Fora do terreno dos “cérebros” da ciência, os dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional revelam que todos os meses mais de 100 licenciados (sobretudo das áreas de Gestão, Marketing, Engenharia Civil, Economia, Direito e Ensino) abandonam o país.