Comunicado – Protesto de trabalhadores científicos – 16 de abril de 2021

No pas­sa­do dia 16 de abril de 2021, mais de uma cen­te­na de tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos ma­ni­fes­ta­ram-se fren­te ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES). Na ba­se des­te pro­tes­to es­te­ve um con­jun­to de rei­vin­di­ca­ções e a en­tre­ga de um abai­xo-as­si­na­do pe­la pror­ro­ga­ção de to­das as bol­sas, lan­ça­do pe­la ABIC, que con­ta­bi­li­za­va à da­ta 2709 as­si­na­tu­ras. Entre ou­tras rei­vin­di­ca­ções, que po­dem ser li­das na re­so­lu­ção apro­va­da no pro­tes­to, des­ta­cam-se: a re­vo­ga­ção do Estatuto do Bolseiro de Investigação (EBI), a in­te­gra­ção dos tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos nas res­pe­ti­vas car­rei­ras e a de­mo­cra­ti­za­ção das Instituições de Ensino Superior (IES). No âm­bi­to de me­di­das ime­di­a­tas, des­ta­ca-se a pror­ro­ga­ção de to­das as bol­sas de in­ves­ti­ga­ção em vir­tu­de do ce­ná­rio epi­dé­mi­co vi­vi­do no país, o fim das ta­xas de en­tre­ga de te­se, o cum­pri­men­to da ex­ten­são dos pra­zos de en­tre­ga de te­se e a aber­tu­ra de no­vas edi­ções dos con­cur­sos de Estímulo ao Emprego Científico Individual (CEEC) e de Projetos de IC&DT em 2021.

Esta re­so­lu­ção es­te­ve na ba­se da au­di­ên­cia da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) e da Federação Nacional dos Professores (FENPROF) com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor. Nesta au­di­ên­cia, ABIC e FENPROF de­nun­ci­a­ram a re­a­li­da­de la­bo­ral pre­cá­ria da in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca, rei­vin­di­ca­ram a ur­gen­te apli­ca­ção de me­di­das de mi­ti­ga­ção do im­pac­to da pan­de­mia no tra­ba­lho e na vi­da dos tra­ba­lha­do­res com vín­cu­los pre­cá­ri­os (e em par­ti­cu­lar dos que têm vín­cu­los de bol­sa e vín­cu­los pon­tu­ais), bem co­mo a ca­da vez mais ne­ces­sá­ria re­vo­ga­ção do EBI, subs­ti­tui­ção de to­das as bol­sas por con­tra­tos de tra­ba­lho e a in­te­gra­ção dos tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos nas res­pe­ti­vas carreiras.

Desta au­di­ên­cia re­sul­ta­ram as se­guin­tes conclusões:

1. Sobre a apli­ca­ção do acrés­ci­mo de 2% nas trans­fe­rên­ci­as di­re­tas do Orçamento de Estado (OE) pa­ra as IES pa­ra o re­for­ço da car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca e da car­rei­ra do­cen­te, tal co­mo ins­cri­to no OE de 2021, e so­bre a in­te­gra­ção de to­dos os tra­ba­lha­do­res pro­pos­tos pa­ra re­gu­la­ri­za­ção no pro­gra­ma de re­gu­la­ri­za­ção ex­tra­or­di­ná­ria dos vín­cu­los pre­cá­ri­os na Administração Pública (PREVPAP), tan­to nos Laboratórios de Estado, on­de se ve­ri­fi­cam ho­mo­lo­ga­ções há mais de 2 anos sem que te­nham ocor­ri­do as res­pe­ti­vas in­te­gra­ções, co­mo nas res­tan­tes ins­ti­tui­ções aca­dé­mi­cas e científicas.

No que diz res­pei­to ao PREVPAP, o Ministro Manuel Heitor in­di­cou que as trans­fe­rên­ci­as de ver­bas pa­ra as ins­ti­tui­ções na de­pen­dên­cia do MCTES já fo­ram efe­tu­a­das. No que diz res­pei­to ao acrés­ci­mo de 2% nas trans­fe­rên­ci­as di­re­tas do OE, o Ministro in­di­cou que as IES já ti­nham con­tra­ta­do 664 tra­ba­lha­do­res em 2021. A ABIC e a FENPROF re­for­ça­ram que ain­da as­sim há mui­tos co­le­gas que con­ti­nu­am à es­pe­ra de ser in­te­gra­dos ao abri­go do PREVPAP e que no que diz res­pei­to às ver­bas adi­ci­o­nais do OE, não bas­ta efe­tu­ar a trans­fe­rên­cia, é pre­ci­so ga­ran­tir que as ver­bas são efe­ti­va­men­te ca­na­li­za­das pa­ra o re­for­ço das car­rei­ras de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca e de do­cên­cia. Impõe-se, de res­to, es­ta mo­ni­to­ri­za­ção de ver­bas ten­do em con­ta que os mem­bros do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) têm vin­do a dei­xar bem cla­ro em di­ver­sos mo­men­tos (ten­do o PREVPAP si­do dis­so o ex­po­en­te má­xi­mo) que não só não pre­ten­dem con­tra­tar in­ves­ti­ga­do­res ao abri­go do Estatuto da Carreira de Investigação Científica (ECIC) pa­ra as IES, co­mo mui­tos não pre­ve­em se­quer abrir os con­cur­sos pa­ra as car­rei­ras que a Lei n.º 57/​2017 (L57) obri­ga no ca­so das ins­ti­tui­ções públicas.

2. Sobre a pror­ro­ga­ção de to­das as bol­sas de investigação.

A ABIC e a FENPROF re­for­ça­ram que os ter­mos da pror­ro­ga­ção ins­cri­tos no Art.º 4 do 
Decreto-Lei n.º 22-A/2021, de 17 de mar­ço, ape­nas se apli­cam em ca­sos mui­to es­pe­cí­fi­cos e, de mo­do al­gum, res­pon­dem às re­ais di­fi­cul­da­des com que se têm de­pa­ra­do mi­lha­res de bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção. Nesse sen­ti­do, não só se­ria ne­ces­sá­rio que as bol­sas fos­sem pror­ro­ga­das in­de­pen­den­te­men­te da fa­se em que o bol­sei­ro se en­con­tras­se, co­mo es­sa pror­ro­ga­ção de­ve­ria abran­ger to­dos os bol­sei­ros e não ape­nas os bol­sei­ros de dou­to­ra­men­to di­re­ta­men­te fi­nan­ci­a­dos pe­la FCT.

O Ministro, em­bo­ra re­ti­cen­te, aca­bou por su­ge­rir que um qua­dro de pror­ro­ga­ção das bol­sas fos­se pos­sí­vel me­di­an­te de­cla­ra­ção de pre­juí­zo emi­ti­da pe­lo ori­en­ta­dor dos tra­ba­lhos. No que diz res­pei­to aos bol­sei­ros de pro­je­to, e fa­ce à bai­xa exe­cu­ção or­ça­men­tal dos pro­je­tos em cur­so, Manuel Heitor propôs que fos­se even­tu­al­men­te pos­sí­vel o alar­ga­men­to do pe­río­do de con­tra­ta­ção, me­di­an­te jus­ti­fi­ca­ção do Investigador Principal do pro­je­to, com pa­ga­men­to pre­fe­ren­ci­al atra­vés de ver­bas não exe­cu­ta­das dos pro­je­tos, re­cor­ren­do a uma even­tu­al trans­fe­rên­cia en­tre ru­bri­cas. Quando o pa­ga­men­to da pror­ro­ga­ção das bol­sas de pro­je­to não se­ja pos­sí­vel atra­vés da trans­fe­rên­cia en­tre ru­bri­cas de ver­bas não exe­cu­ta­das, Manuel Heitor com­pro­me­teu-se a es­tu­dar a pos­si­bi­li­da­de de atri­bui­ção de mais ver­bas des­ti­na­das a es­te pro­pó­si­to e com­pro­me­teu-se em con­ser­tar um qua­dro le­gal pa­ra es­tas me­di­das jun­ta­men­te com a Fundação pa­ra a Ciência e a Tecnologia (FCT). A ABIC e a FENPROF re­for­ça­ram que, a exis­tir pror­ro­ga­ção me­di­an­te jus­ti­fi­ca­ção, en­tão es­ta jus­ti­fi­ca­ção tem de ser ape­nas um re­qui­si­to for­mal e não uma bar­rei­ra pa­ra a FCT usar co­mo ar­gu­men­to pa­ra in­de­fe­rir os re­que­ri­men­tos. A dis­cus­são des­tas pro­pos­tas com os par­cei­ros so­ci­ais de­cor­re­rá até ao pró­xi­mo dia 5 de maio.

Foi ain­da re­fe­ri­do que, à luz do no­vo EBI, da­do to­do o bol­sei­ro tem ne­ces­sa­ri­a­men­te de es­tar ins­cri­to num grau ou di­plo­ma, e por is­so tem de pa­gar pro­pi­nas que con­ti­nu­am sen­do, in­jus­ta­men­te, a ser uma des­pe­sa não ele­gí­vel pe­los Projetos de IC&DT que atri­bu­em es­sas bol­sas, e que tal de­ve­ria ser al­te­ra­do. O Ministro ale­gou des­co­nhe­ci­men­to, ad­mi­tin­do, po­rém, a pos­si­bi­li­da­de le­gal des­sa des­pe­sa ser di­re­ta­men­te cus­te­a­da pe­los pró­pri­os cen­tros de investigação.

3. Sobre a ex­ten­são dos pra­zos de en­tre­ga de te­se em cum­pri­men­to do ar­ti­go 259.º da Lei n.º 75-B/2020.

A ABIC e a FENPROF de­nun­ci­a­ram o não cum­pri­men­to da lei pe­la mai­o­ria das IES. O Ministro con­cor­da que o es­pí­ri­to da lei vai no sen­ti­do da mai­or abran­gên­cia pos­sí­vel (à se­me­lhan­ça do que ha­via es­cla­re­ci­do na au­di­ção par­la­men­tar de 19 de ja­nei­ro) e que as IES de­vem cum­prir a lei de acor­do com es­sa abran­gên­cia. De res­to, o es­pí­ri­to da lei foi cla­ri­fi­ca­do no pas­sa­do dia 8 de abril em se­de de Plenário na Assembleia da República. A ABIC con­si­de­ra que, sen­do a lei cla­ra pa­ra to­das as par­tes ex­ce­to pa­ra as pró­pri­as IES, en­tão que a tu­te­la ga­ran­ta que es­tas es­tão a cum­prir a lei. A au­to­no­mia das IES não foi es­ta­be­le­ci­da, por for­ma a ga­ran­tir que os di­ri­gen­tes das IES pos­sam não cum­prir a le­gis­la­ção. IES co­mo a UPorto, o ISCTE, a ULisboa ou a UCoimbra, en­tre ou­tras, es­tão a obri­gar à ins­cri­ção num no­vo ano le­ti­vo e a co­brar pro­pi­nas, o que cons­ti­tui um gra­ve apro­vei­ta­men­to da si­tu­a­ção de des­pro­te­ção dos dou­to­ran­dos e mes­tran­dos que, em cir­cuns­tân­ci­as nor­mais, não ne­ces­si­ta­ri­am, na sua mai­o­ria, de mais um ano le­ti­vo pa­ra con­cluir as su­as te­ses e dissertações.

4. Sobre a atri­bui­ção das va­gas do CEEC Institucional pa­ra con­tra­tos sem ter­mo e com a res­pe­ti­va in­te­gra­ção na car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca, a re­vo­ga­ção do EBI e a in­te­gra­ção de tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos nas res­pe­ti­vas car­rei­ras, com con­tra­tos de tra­ba­lho sem termo.

A ABIC e a FENPROF des­cons­truí­ram o ar­gu­men­to de que as bol­sas ga­ran­tem li­ber­da­de ci­en­tí­fi­ca e re­for­ça­ram, en­tre ou­tros as­pe­tos, que o mo­de­lo de con­tra­ta­ção é já o que pre­va­le­ce nou­tros paí­ses mes­mo pa­ra os in­ves­ti­ga­do­res em for­ma­ção. A bol­sa de in­ves­ti­ga­ção re­sul­ta nu­ma das si­tu­a­ções de mai­or pre­ca­ri­e­da­de que exis­te nes­te mo­men­to em Portugal, não pre­ven­do qual­quer me­ca­nis­mo de pro­te­ção so­ci­al ou os mais bá­si­cos di­rei­tos la­bo­rais. Tem, por is­so, de aca­bar. Além dis­so, ABIC e FENPROF rei­te­ra­ram que a ideia de que o mo­de­lo atu­al de em­pre­go ci­en­tí­fi­co com­ba­teu a pre­ca­ri­e­da­de é uma fa­lá­cia. O em­pre­go ci­en­tí­fi­co exis­te ape­nas en­quan­to “car­rei­ra pre­cá­ria pa­ra­le­la”, com con­tra­tos a ter­mo e, na mai­o­ria dos ca­sos, com ín­di­ces re­mu­ne­ra­tó­ri­os abai­xo da ba­se da car­rei­ra com a in­ven­ção da fi­gu­ra do in­ves­ti­ga­dor jú­ni­or. Estando os con­tra­tos ce­le­bra­dos ao abri­go da Norma Transitória – Decreto-Lei nº 57/​2016, al­te­ra­do pe­la Lei nº 57/​2017 – (DL57) a che­gar ao fim, tor­na-se por de­mais evi­den­te que uma gran­de per­cen­ta­gem dos atu­ais in­ves­ti­ga­do­res con­tra­ta­dos irá pa­ra o de­sem­pre­go, ten­do as IES já dei­xa­do cla­ro que não pre­ten­dem con­tra­tar ao abri­go da car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção. Injustificável é ain­da a exis­tên­cia de um con­cur­so de es­tí­mu­lo ao em­pre­go ci­en­tí­fi­co ins­ti­tu­ci­o­nal on­de é pos­sí­vel con­tra­tar in­ves­ti­ga­do­res (e do­cen­tes) a termo.

É en­ten­di­men­to do Ministro que as bol­sas de­vem con­ti­nu­ar a exis­tir no mo­de­lo atu­al e fi­cou cla­ro que na­da vai ser fei­to no sen­ti­do de al­te­rar o pa­ra­dig­ma de con­tra­ta­ção de in­ves­ti­ga­do­res em for­ma­ção. Sobre a con­tra­ta­ção de dou­to­ra­dos, Manuel Heitor não se mos­trou con­trá­rio a que as con­tra­ta­ções ao abri­go do CEEC Institucional se re­a­li­zas­sem ex­clu­si­va­men­te ao abri­go de con­tra­tos sem ter­mo. No que à L57 diz res­pei­to, o Manuel Heitor con­fir­mou que a in­ten­ção do le­gis­la­dor é a de que, nas ins­ti­tui­ções sob di­rei­to pú­bli­co, a re­no­va­ção do sex­to ano de um con­tra­to a ter­mo da­rá obri­ga­to­ri­a­men­te ori­gem à aber­tu­ra de um con­cur­so pa­ra a car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção ou pa­ra a car­rei­ra do­cen­te, e é a es­co­lha en­tre es­tas du­as car­rei­ras que es­tá su­jei­ta ao in­te­res­se es­tra­té­gi­co da ins­ti­tui­ção e não a es­co­lha en­tre a aber­tu­ra ou não do con­cur­so. Ou se­ja, te­rá sem­pre de ser aber­to um con­cur­so pa­ra um con­tra­to por tem­po in­de­ter­mi­na­do nu­ma das car­rei­ras. O Ministro en­ten­de ain­da que nos pró­xi­mos tem­pos de­ve exis­tir um Pacto pa­ra a Capacitação das Carreiras Científicas, que pas­sa­rá pe­la re­vi­são do Estatuto da Carreira de Investigação Científica, pe­la di­ver­si­fi­ca­ção das ins­ti­tui­ções ci­en­tí­fi­cas e pe­la obri­ga­to­ri­e­da­de de exis­tên­cia de car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção em ins­ti­tui­ções que, sen­do pri­va­das, au­fe­rem de fi­nan­ci­a­men­to pú­bli­co. Para es­te pac­to, o Ministro fi­cou de en­vi­ar até 15 de maio uma pro­pos­ta pa­ra o iní­cio das ne­go­ci­a­ções com a FENPROF e a ABIC.

A ABIC e FENPROF es­pe­ram que o Ministro cum­pra com os com­pro­mis­sos as­su­mi­dos – en­vio da pro­pos­ta do MCTES pa­ra ne­go­ci­a­ção e efe­tue a aná­li­se das pro­pos­tas efe­tu­a­das pe­la ABIC e pe­la FENPROF nes­ta reu­nião. Não es­que­ce­mos, e aqui re­lem­bra­mos, que o MCTES ain­da não en­tre­gou, ao con­trá­rio do que se ti­nha com­pro­me­ti­do com a FENPROF na reu­nião de 23 de no­vem­bro, qual­quer pro­pos­ta pa­ra uma ne­go­ci­a­ção, que de­ve­ria es­tar con­cluí­da no 1º tri­mes­tre do cor­ren­te ano.

A ABIC e a FENPROF en­ten­dem que a in­te­gra­ção na car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção de­ve ser fei­ta di­re­ta­men­te nas IES ou nas uni­da­des de in­ves­ti­ga­ção que não es­te­jam afe­tas a uma IES, e que o seu ca­rác­ter pú­bli­co de­ve ser as­se­gu­ra­do, não re­me­ten­do pa­ra as tris­te­men­te “fa­mo­sas” Instituições Privadas Sem Fins Lucrativos (IPSFL) – ver­da­dei­ros offsho­res – ou pa­ra fun­da­ções de di­rei­to pri­va­do a con­tra­ta­ção dos tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos. Tal co­mo os do­cen­tes uni­ver­si­tá­ri­os, tam­bém os in­ves­ti­ga­do­res de­vem ser con­tra­ta­dos em re­gi­me de di­rei­to pú­bli­co. Ficou tam­bém cla­ro, da par­te da ABIC e da FENPROF, que a re­vi­são do ECIC não po­de con­tar com a in­tro­du­ção da fi­gu­ra do in­ves­ti­ga­dor jú­ni­or, que se de­ve man­ter a ló­gi­ca de equi­pa­ra­ção do ECIC ao Estatuto da Carreira Docente Universitária (ECDU) e que as car­rei­ras de in­ves­ti­ga­ção e do­cên­cia se de­vem man­ter separadas.

5. Sobre o fim das ta­xas de en­tre­ga de tese.

A ABIC e a FENPROF de­nun­ci­a­ram o fac­to de, em mui­tas IES, es­ta­rem im­ple­men­ta­das ta­xas pa­ra as en­tre­gas de te­ses de dou­to­ra­men­to, em al­guns ca­sos atin­gin­do quan­ti­as su­pe­ri­o­res a 500€ (co­mo é o ca­so de, en­tre ou­tras, es­co­las da UPorto e al­gu­mas es­co­las da ULisboa). Esta ta­xa cons­ti­tui, mais uma vez, um apro­vei­ta­men­to gra­ve por par­te das IES e ur­ge ser proi­bi­da. O Ministro con­cor­dou que es­ta ta­xa de­ve­ria ser re­vo­ga­da e que o cus­to po­de­ria ser col­ma­ta­do via OE. Neste sen­ti­do, fi­cou acor­da­do que no qua­dro da dis­cus­são do pró­xi­mo OE, es­ta ques­tão se­ria le­van­ta­da. A ABIC e a FENPROF com­pro­me­tem-se em acom­pa­nhar de per­to os de­sen­vol­vi­men­tos em tor­no des­te as­sun­to, cer­tas de que es­ta cons­ti­tui­ria uma me­di­da com um im­pac­to mui­to sig­ni­fi­ca­ti­vo na vi­da dos atu­ais e fu­tu­ros dou­to­ran­dos, que não só já vi­ram as su­as aju­das de cus­to re­du­zi­das (no ca­so dos bol­sei­ros, de 750€ anu­ais, a FCT pas­sou a trans­fe­rir 750€ pa­ra os qua­tro anos), co­mo vi­ram as su­as pro­pi­nas au­men­ta­das (mui­tas ins­ti­tui­ções co­bram 2750€ de pro­pi­nas pa­ra ga­ran­tir que os bol­sei­ros não pe­dem o re­ma­nes­cen­te trans­fe­ri­do pe­la FCT, o que agra­va ain­da mais a si­tu­a­ção da­que­les que, não sen­do bol­sei­ros de dou­to­ra­men­to, têm de pa­gar pro­pi­nas; e mes­mo as que não pra­ti­cam es­tes va­lor ca­ti­vam o re­ma­nes­cen­te sem qual­quer jus­ti­fi­ca­ção), pa­ra além do au­men­to do pró­prio cus­to de vi­da não acom­pa­nha­do pe­lo au­men­to equi­va­len­te do va­lor das bol­sas de in­ves­ti­ga­ção, e da fal­ta de fi­nan­ci­a­men­to pa­ra o de­sen­vol­vi­men­to das su­as investigações.

6. Sobre a aber­tu­ra de no­vas edi­ções dos con­cur­sos CEEC e de Projetos de IC&DT em 2021, e a atri­bui­ção de um mai­or nú­me­ro de va­gas no CEEC Individual.

A ABIC e a FENPROF re­for­ça­ram a ne­ces­si­da­de de abrir uma no­va edi­ção dos con­cur­sos CEEC e de Projetos de IC&DT em 2021, bem co­mo de au­men­tar o nú­me­ro de va­gas. Esta rei­vin­di­ca­ção sur­giu no se­gui­men­to de, em fe­ve­rei­ro, tan­to a ABIC co­mo a FENPROF te­rem de­nun­ci­a­do à FCT a di­fi­cul­da­de que os in­ves­ti­ga­do­res com fi­lhos me­no­res em ca­sa – par­ti­cu­lar­men­te as in­ves­ti­ga­do­ras – es­ta­vam a ter pa­ra con­ci­li­ar tra­ba­lho, apoio à fa­mí­lia e can­di­da­tu­ras. A FCT, pa­ra além de ter fei­to ques­tão de re­for­çar pu­bli­ca­men­te que não iria pror­ro­gar os pra­zos das can­di­da­tu­ras, res­pon­deu em reu­nião com a ABIC que se­ria me­lhor as pes­so­as con­so­li­da­rem as su­as can­di­da­tu­ras e apre­sen­ta­rem-nas no ano se­guin­te. Esta po­si­ção da FCT, que re­pu­di­a­mos ve­e­men­te­men­te, vi­sa, no nos­so en­ten­der, au­men­tar ar­ti­fi­ci­al­men­te as re­du­zi­das ta­xas de apro­va­ção, ti­ran­do pro­vei­to da pan­de­mia e dos cons­tran­gi­men­tos que le­va­ram di­ver­sos in­ves­ti­ga­do­res a não con­se­gui­rem sub­me­ter as su­as can­di­da­tu­ras por ra­zões que não lhes po­dem ser imputadas.

Manuel Heitor, a pro­pó­si­to des­ta rei­vin­di­ca­ção, su­ge­riu a cri­a­ção de um gru­po de tra­ba­lho com vis­ta à re­vi­são dos re­gu­la­men­tos de pro­je­tos e ter­mos dos avi­sos de aber­tu­ra e pos­sí­vel aber­tu­ra de um con­cur­so pa­ra pro­je­tos ex­plo­ra­tó­ri­os ain­da em 2021. No que à pro­pos­ta de re­vi­são de re­gu­la­men­tos diz res­pei­to, fez-se no­tar que es­ta pro­pos­ta de re­vi­são dos re­gu­la­men­tos não res­pon­de à rei­vin­di­ca­ção, mas de uma ideia já avan­ça­da an­te­ri­or­men­te pe­la FCT na reu­nião de fe­ve­rei­ro com a ABIC. Em to­do o ca­so, a ABIC e a FENPROF es­ta­rão sem­pre dis­po­ní­veis pa­ra uma re­vi­são de­ta­lha­da de to­dos os re­gu­la­men­tos co­mo, de res­to, sem­pre fi­ze­ram por ini­ci­a­ti­va pró­pria em se­de de au­di­ção pú­bli­ca de qual­quer do­cu­men­to le­gal, mes­mo quan­do Ministério e FCT de­ter­mi­na­ram a re­vi­são de di­plo­mas sem con­vo­car a ABIC e a FENPROF pa­ra dis­cus­são pré­via. O Ministro com­pro­me­teu-se a en­tre­gar pa­ra ne­go­ci­a­ção a pro­pos­ta de re­vi­são até ao dia 5 de maio.

27 de Abril de 2021

A ABIC

A FENPROF