Questões aos partidos e/​ou coligações • Eleições Legislativas de 2022

No con­tex­to das elei­ções le­gis­la­ti­vas do pró­xi­mo dia 30 de Janeiro, a ABIC pro­cu­ra in­for­mar e es­cla­re­cer de for­ma trans­pa­ren­te os seus as­so­ci­a­dos re­la­ti­va­men­te às po­si­ções po­lí­ti­cas das di­ver­sas can­di­da­tu­ras pa­ra a ci­ên­cia e o en­si­no su­pe­ri­or. Neste sen­ti­do, foi en­vi­a­do um con­jun­to de ques­tões aos vá­ri­os par­ti­dos e co­li­ga­ções, dos quais ob­ti­ve­mos res­pos­tas de CDS, PS, CDU, BE e LIVRE, es­tan­do or­ga­ni­za­das por or­dem de re­cep­ção. A res­pos­ta do PS es­ta­rá trans­cri­ta no fi­nal por se en­de­re­çar ao con­jun­to das perguntas:

 

1) O Estatuto do Bolseiro de Investigação (EBI) con­sis­te num sub­sí­dio de ma­nu­ten­ção que não dá aces­so aos mais bá­si­cos di­rei­tos la­bo­rais (13.º e 14.º mês, sub­sí­dio de de­sem­pre­go, aces­so à Segurança Social a não ser via Seguro Social Voluntário), exi­ge ex­clu­si­vi­da­de e, in­clu­si­ve, tem uma ti­po­lo­gia de bol­sa cu­ja re­mu­ne­ra­ção é in­fe­ri­or ao Salário Mínimo Nacional. Em 2019, ex­tin­gui­ram-se al­gu­mas ti­po­lo­gi­as de bol­sa (co­mo a de ges­tão de ci­ên­cia) e pas­sou a es­tar ins­cri­ta a obri­ga­to­ri­e­da­de de ins­cri­ção em cur­so con­fe­ren­te ou não con­fe­ren­te de grau co­mo con­di­ção pa­ra con­tra­tu­a­li­zar uma bol­sa de in­ves­ti­ga­ção, ten­do le­va­do a que mui­tos bol­sei­ros pas­sas­sem a pa­gar pro­pi­nas em cur­sos que não pre­ten­di­am fre­quen­tar pa­ra po­de­rem con­ti­nu­ar a tra­ba­lhar. Várias ins­ti­tui­ções cri­a­ram in­clu­si­va­men­te cur­sos não con­fe­ren­tes de grau co­mo for­ma de ga­ran­tir a ma­nu­ten­ção da con­tra­ta­ção atra­vés de bol­sas de in­ves­ti­ga­ção e, as­sim, con­ti­nu­ar a as­se­gu­rar tra­ba­lho al­ta­men­te qua­li­fi­ca­do a bai­xo cus­to. Deste mo­do, a re­vi­são do EBI não veio aca­bar com o abu­so do re­cur­so a bol­sas de in­ves­ti­ga­ção, ao con­trá­rio do su­ge­ri­do pe­la tu­te­la. Esta re­a­li­da­de é ex­clu­si­va da in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca, uma vez que a for­ma­ção es­tá pre­vis­ta nou­tras for­mas de con­tra­ta­ção e que tra­ba­lha­do­res de ou­tras áre­as – por exem­plo da me­di­ci­na – têm con­tra­to de tra­ba­lho mes­mo em pe­río­do de for­ma­ção. A re­a­li­da­de eu­ro­peia é tam­bém bas­tan­te dis­tin­ta, ten­do os in­ves­ti­ga­do­res em for­ma­ção con­tra­tos de tra­ba­lho em di­ver­sos paí­ses (p. ex.: Espanha, Suécia, Dinamarca). A pró­pria Comissão Europeia ad­vo­ga que to­dos os in­ves­ti­ga­do­res te­nham os mes­mos di­rei­tos la­bo­rais e so­ci­ais que qual­quer ou­tro tra­ba­lha­dor, atra­vés do Código de Conduta pa­ra o Recrutamento de Investigadores e da Carta Europeia do Investigador, pu­bli­ca­do em 2005, mas nun­ca ra­ti­fi­ca­do pe­la Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT).

Qual a vos­sa po­si­ção acer­ca das al­te­ra­ções efec­tu­a­das em 2019 ao Estatuto do Bolseiro de Investigação e ao Regulamento de Bolsas de Investigação da FCT? São fa­vo­rá­veis à re­vo­ga­ção des­te ins­tru­men­to que sem­pre per­mi­tiu, e con­ti­nu­a­rá a per­mi­tir, o re­cur­so à uti­li­za­ção de tra­ba­lho al­ta­men­te qua­li­fi­ca­do sob a for­ma de sub­sí­di­os de ma­nu­ten­ção (bol­sas) e não de con­tra­tos de tra­ba­lho? Que pro­pos­tas têm pa­ra a dig­ni­fi­ca­ção des­tes pro­fis­si­o­nais, no­me­a­da­men­te in­ves­ti­ga­do­res, ges­to­res e co­mu­ni­ca­do­res de ci­ên­cia e téc­ni­cos de laboratório?

 

CDS • Somos fa­vo­rá­veis a que pos­sa ha­ver lu­gar a bol­sas de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca no pós- dou­to­ra­men­to por tem­po li­mi­ta­do Concordamos com a ins­cri­ção em cur­sos de for­ma­ção, mes­tra­do ou dou­to­ra­men­to, pa­ra a atri­bui­ção de bol­sas, mas sem que se­jam co­bra­das pro­pi­nas. Para ha­ver con­tra­tos te­rá que ha­ver con­cur­sos ou ou­tro ins­tru­men­to de se­le­ção adap­ta­do ao or­ga­nis­mo que abre o procedimento.

 

CDU • A CDU con­si­de­ra que o Estatuto do Bolseiro de Investigação (EBI) ur­ge ser re­vo­ga­do. Entendemos que tra­ba­lho ci­en­tí­fi­co é tra­ba­lho, in­de­pen­den­te­men­te da fa­se da car­rei­ra em que o tra­ba­lha­dor se en­con­tra. Esta é uma ques­tão que não te­ria de ser co­lo­ca­da ca­so o Estatuto da Carreira de Investigação Científica, da­ta­do de 1999, es­ti­ves­se a ser apli­ca­do, pre­ven­do es­te na sua for­mu­la­ção ini­ci­al ca­te­go­ri­as pa­ra os in­ves­ti­ga­do­res em for­ma­ção (Estagiário e Assistente de Investigação). É en­ten­di­men­to da CDU que, exis­tin­do uma car­rei­ra que sal­va­guar­da os di­rei­tos dos pro­fis­si­o­nais da ci­ên­cia e que se ade­qua à es­pe­ci­fi­ci­da­de da pro­fis­são, en­tão es­ta de­ve­ria ser a prin­ci­pal for­ma de con­tra­ta­ção. A re­a­li­da­de ex­pos­ta pe­la ABIC é a con­fir­ma­ção de que a re­vi­são do EBI de 2019 não veio al­te­rar o qua­dro de ex­tre­ma pre­ca­ri­e­da­de vi­vi­do pe­los in­ves­ti­ga­do­res, ges­to­res de ci­ên­cia e téc­ni­cos de la­bo­ra­tó­rio, nem tam­pou­co col­ma­tar a au­sên­cia de di­rei­tos que ca­rac­te­ri­zam o vín­cu­lo de bol­sa. Por is­so, a CDU as­su­me co­mo com­pro­mis­so elei­to­ral “Substituir o re­gi­me de bol­sas de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca por con­tra­tos de tra­ba­lho, re­vo­gan­do o Estatuto do Bolseiro de Investigação e as­se­gu­rar o de­sen­vol­vi­men­to de um sis­te­ma pú­bli­co de I&D”. Este com­pro­mis­so tem es­ta­do pre­sen­te nas an­te­ri­o­res le­gis­la­tu­ras, ten­do o Grupo Parlamentar do PCP apre­sen­ta­do di­ver­sas pro­pos­tas nes­te sen­ti­do, das quais des­ta­ca­mos o Projecto de Lei n.º 758/XIV/2.ª que es­ta­be­le­cia o re­gi­me ju­rí­di­co da con­tra­ta­ção do pes­so­al de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca em for­ma­ção (re­jei­ta­do com vo­tos con­tra do PS, PSD, CDS-PP, CH e IL), o qual pro­cu­ra­va pôr fim ao EBI e subs­ti­tuir to­das as bol­sas por con­tra­tos de tra­ba­lho. O fim de ca­te­go­ri­as de bol­sas co­mo as de ges­tão de ci­ên­cia ou de téc­ni­co de la­bo­ra­tó­rio sem o de­vi­do en­qua­dra­men­to pa­ra a con­tra­ta­ção des­tes pro­fis­si­o­nais, ali­a­do ao fra­cas­so do PREVPAP na ci­ên­cia por boi­co­te do Governo e do CRUP, veio tor­nar cla­ra a ne­ces­si­da­de de cri­a­ção de uma car­rei­ra pa­ra es­tes tra­ba­lha­do­res que de­sem­pe­nham fun­ções fun­da­men­tais no tra­ba­lho ci­en­tí­fi­co e que são con­ti­nu­a­men­te se­cun­da­ri­za­dos quan­do es­tão em cau­sa di­rei­tos laborais.

 

BE • As pri­mei­ras bol­sas de dou­to­ra­men­to fo­ram atri­buí­das no iní­cio dos anos 90 ain­da no âm­bi­to da JNICT (Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica), as bol­sas de pós-dou­to­ra­men­to sur­gi­ram quan­do os pri­mei­ros bol­sei­ros ob­ti­ve­ram o grau de dou­tor. Em 1997 a JNICT é subs­ti­tuí­da pe­la FCT (Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia). Só ao abri­go do fi­nan­ci­a­men­to dos pri­mei­ros Laboratórios Associados, já em 2003, é fi­nal­men­te pos­sí­vel con­tra­tar in­ves­ti­ga­do­res (em­bo­ra em nú­me­ro mui­to li­mi­ta­dos). Em 2006, com o as­su­mir de um no­vo com­pro­mis­so pa­ra com a Ciência e o Emprego Científico, o or­ça­men­to da FCT au­men­ta subs­tan­ci­al­men­te e sur­ge pro­gra­ma Ciência 2007 que vi­sa con­tra­tar 1000 in­ves­ti­ga­do­res. Desde en­tão o nú­me­ro de dou­to­ra­dos não pa­rou de cres­cer, vi­mos pas­sar su­ces­si­vos pro­gra­mas de con­tra­ta­ção a pra­zo, o ní­vel de in­ves­ti­men­to pú­bli­co em Ciência es­tag­nou e a pre­ca­ri­e­da­de de lon­ga du­ra­ção tor­nou-se a úni­ca re­a­li­da­de pos­sí­vel. Um dos prin­ci­pais ins­tru­men­tos de pre­ca­ri­e­da­de é jus­ta­men­te as bol­sas de in­ves­ti­ga­ção e por is­so, o Bloco propõe:

- Revogação do Estatuto de Bolseiro de Investigação Científica e obri­ga­to­ri­e­da­de de con­tra­ta­ção de in­ves­ti­ga­do­res e in­ves­ti­ga­do­ras ao abri­go do Estatuto da Carreira de Investigação Científica atra­vés de um rá­cio mí­ni­mo de pes­so­al na car­rei­ra pa­ra ace­der a fi­nan­ci­a­men­to es­ta­tal e/​ou comunitário;

 

Livre • Sim, es­ta­mos de acor­do quan­to à ten­dên­cia pa­ra a eli­mi­na­ção de bol­sas co­mo for­ma de pa­ga­men­to e que ge­ram pre­ca­ri­e­da­de. Seguindo a pro­pos­ta 6.11 do nos­so pro­gra­ma, temos:
Rever o Estatuto do Bolseiro de Investigação li­mi­tan­do a atri­bui­ção de bol­sas de in­ves­ti­ga­ção a pro­gra­mas de tra­ba­lho com a du­ra­ção má­xi­ma de dois anos (por exem­plo pa­ra ca­sos de bol­sas de ini­ci­a­ção à in­ves­ti­ga­ção de cur­ta du­ra­ção) pa­ra quais­quer tra­ba­lhos de in­ves­ti­ga­ção, in­de­pen­den­te­men­te de se des­ti­na­rem ou não à ob­ten­ção de graus aca­dé­mi­cos. Para pro­gra­mas de tra­ba­lhos su­pe­ri­o­res a dois anos, que in­clu­em os pro­gra­mas de dou­to­ra­men­to, o fi­nan­ci­a­men­to de­ve pas­sar a ser fei­to atra­vés de con­tra­tos a ter­mo cer­to e não de bol­sas de in­ves­ti­ga­ção, de for­ma a que os es­tu­dan­tes de dou­to­ra­men­to e os in­ves­ti­ga­do­res em for­ma­ção avan­ça­da, se ve­jam re­co­nhe­ci­dos co­mo tra­ba­lha­do­res de fac­to, usu­fruin­do dos mes­mos di­rei­tos la­bo­rais que os res­tan­tes tra­ba­lha­do­res, co­mo o sub­sí­dio de fé­ri­as, de na­tal e de de­sem­pre­go. Manter os va­lo­res das bol­sas atu­a­li­za­das de acor­do com a inflação.”

 

 

2) Com o Decreto Lei 57/​2016, al­te­ra­do pe­la Lei 57/​2017, foi da­do um pas­so re­le­van­te pa­ra a dig­ni­fi­ca­ção dos in­ves­ti­ga­do­res dou­to­ra­dos, ago­ra con­tra­ta­dos atra­vés de con­tra­tos de tra­ba­lho ao in­vés de bol­sas de in­ves­ti­ga­ção. Não obs­tan­te, es­te di­plo­ma cons­ti­tuiu na prá­ti­ca uma car­rei­ra ex­clu­si­va­men­te pre­cá­ria, pa­ra­le­la à Carreira de Investigação Científica, e in­tro­du­ziu uma ca­te­go­ria cu­ja re­mu­ne­ra­ção es­tá abai­xo do pri­mei­ro ní­vel do ECIC. Além dis­so, os Concursos de Estímulo ao Emprego Científico (CEEC) têm apre­sen­ta­do ta­xas de apro­va­ção a ron­dar os 8%, de­no­tan­do uma es­tra­té­gia de con­ti­nu­ar a ali­cer­çar vir­tu­al­men­te to­da a in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca na pre­ca­ri­e­da­de. Paralelamente, no Programa de Regularização de Vínculos Precários na Administração Pública (PREVPAP), rei­to­res e go­ver­no uni­ram es­for­ços pa­ra blo­que­ar a in­te­gra­ção de qua­se 90% dos re­que­ren­tes, de­mons­tran­do as­sim que no en­si­no su­pe­ri­or e na ci­ên­cia a efec­ti­va in­te­gra­ção dos tra­ba­lha­do­res ci­en­tí­fi­cos não tem lugar.

Qual a vos­sa po­si­ção pe­ran­te os ele­va­dos ní­veis de pre­ca­ri­e­da­de no sec­tor e que pro­pos­tas têm pa­ra a dig­ni­fi­ca­ção das car­rei­ras ci­en­tí­fi­cas e do­cen­tes nas ins­ti­tui­ções de en­si­no su­pe­ri­or e ciência?

 

CDS • Qualquer mo­de­lo de tra­ba­lho pre­cá­rio de­ve ser evi­ta­do. A ci­ên­cia é fun­da­men­tal pa­ra o avan­ço do País. Sabe-se que o or­ça­men­to pa­ra a ci­ên­cia, em Portugal, é uni­ca­men­te “fi­nan­ci­a­men­to com­pe­ti­ti­vo” en­quan­to na­da dis­to for al­te­ra­do tor­na-se di­fí­cil al­te­rar o mo­de­lo atu­al­men­te exis­ten­te. Concordamos no en­tan­to que as Universidades de­vem equa­ci­o­nar uma car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção pa­ra­le­la à car­rei­ra do­cen­te de mo­do a dar mais es­ta­bi­li­da­de aos in­ves­ti­ga­do­res. A ta­xa de apro­va­ção da FCT não tem a ver com o mé­ri­to das can­di­da­tu­ras nem se­quer com a von­ta­de de man­ter a pre­ca­ri­e­da­de mas ape­nas com o fi­nan­ci­a­men­to bai­xo da in­ves­ti­ga­ção. Os di­fe­ren­tes or­ça­men­tos de es­ta­do nun­ca se de­bru­ça­ram so­bre es­te as­sun­to, sem re­for­ço da ver­ba pa­ra a ci­ên­cia é di­fí­cil qual­quer al­te­ra­ção. Uma al­te­ra­ção de­se­já­vel se­ria que con­tra­tos per­ma­nen­tes pu­des­sem ser im­pu­ta­dos a pro­je­tos FCT ou ou­tros em que is­so não é pos­sí­vel atu­al­men­te. Quanto ao PREVPAP o úni­co gran­de cons­tran­gi­men­to à rein­te­gra­ção foi o fac­to de por se­rem con­tra­tos, na sua mai­o­ria, in­de­xa­dos a pro­je­tos de in­ves­ti­ga­ção, lo­go não per­ma­nen­tes não se­rem con­si­de­rá­veis no re­gi­me que foi es­ta­be­le­ci­do. A ques­tão não se co­lo­ca­ria nun­ca se jun­to com a con­so­li­da­ção dos vín­cu­los hou­ves­se re­for­ço de or­ça­men­to. O di­plo­ma es­ta­va mal fei­to e não pre­ten­dia atin­gir o re­sul­ta­dos “apre­go­a­dos”. Pode (e de­ve) ha­ver uma car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção nas uni­ver­si­da­des, com per­me­a­bi­li­da­de com a car­rei­ra do­cen­te mas pa­ra tal é, ob­vi­a­men­te, ne­ces­sá­rio dis­cu­tir o mo­de­lo de fi­nan­ci­a­men­to da mesma.

 

CDU • A CDU com­ba­te to­das as for­mas de pre­ca­ri­e­da­de, ba­ten­do-se pe­la efec­ti­va integração de to­dos os tra­ba­lha­do­res que su­prem ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes no Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN) e no en­si­no su­pe­ri­or, no­me­a­da­men­te in­ves­ti­ga­do­res e do­cen­tes, mas man­têm vínculo la­bo­ral precário ou bol­sa; pe­lo res­pei­to e va­lo­ri­za­ção das car­rei­ras dos tra­ba­lha­do­res das Instituições de Ensino Superior e Ciência; e, de­sig­na­da­men­te, pe­la va­lo­ri­za­ção sa­la­ri­al e pe­lo di­rei­to à progressão e ao aces­so à pro­mo­ção; pe­la explicitação da com­po­nen­te in­ves­ti­ga­ção e de­sen­vol­vi­men­to (I&DE) na fórmula de fi­nan­ci­a­men­to do en­si­no su­pe­ri­or público e o efec­ti­vo res­pei­to da au­to­no­mia científica e fi­nan­cei­ra das su­as instituições na formulação e execução de pro­jec­tos; e pe­la valorização dos di­ver­sos tra­ba­lha­do­res da Ciência, no­me­a­da­men­te téc­ni­cos e ges­to­res de ci­ên­cia, com a aprovação de car­rei­ras específicas. Muito con­cre­ta­men­te, o Projeto de Resolução n.º 1500/XIV/3.ª que re­co­men­da­va a ado­ção de me­di­das pa­ra a di­na­mi­za­ção do Sistema Científico e Tecnológico Nacional, com­ba­ten­do a pre­ca­ri­e­da­de e o sub­fi­nan­ci­a­men­to (re­jei­ta­do a 19 de Novembro de 2021 com os vo­tos con­tra do PSD, CDS e IL, abs­ten­ção do PS e a au­sên­cia do CH), pro­pu­nha, en­tre ou­tros pon­tos, a apli­ca­ção de um re­gi­me transitório de integração de in­ves­ti­ga­do­res que pre­en­cham ne­ces­si­da­des per­ma­nen­tes das instituições do SCTN e dos bol­sei­ros de investigação científica; a va­lo­ri­za­ção da Carreira de Investigação Científica, pro­mo­ven­do a sua aber­tu­ra e a integração dos tra­ba­lha­do­res; a mul­ti­pli­ca­ção por três da des­pe­sa per ca­pi­ta de in­ves­ti­ga­dor ETI (Equivalente Tempo Integral) no sec­tor público, até 2024, reforçando as ver­bas das instituições na me­di­da do au­men­to dos efe­ti­vos de pes­so­al in­ves­ti­ga­dor que se ve­ri­fi­car; a cri­a­ção de condições ob­jec­ti­vas pa­ra pre­en­cher pe­lo me­nos 8500 lu­ga­res de técnico nas instituições e gru­pos de investigação ac­ti­vos no sec­tor público, até 2024; e a pro­mo­ção da discussão so­bre o fun­ci­o­na­men­to e ob­jec­ti­vos da Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT), de­sig­na­da­men­te, ao nível do fim da promoção da pre­ca­ri­e­da­de, da ins­ta­bi­li­da­de do fi­nan­ci­a­men­to da Ciência, e da limitação ao mo­de­lo di­to com­pe­ti­ti­vo de fi­nan­ci­a­men­to por es­ta praticados.

 

BE • O Programa de Estímulo ao Emprego Científico, a de­cor­rer nos úl­ti­mos dois pe­río­dos le­gis­la­ti­vos, fa­lhou os seus prin­ci­pais ob­je­ti­vos, não ten­do si­do ca­paz de re­for­çar o em­pre­go ci­en­tí­fi­co, nem de po­ten­ci­ar o im­pac­to da in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca no en­si­no su­pe­ri­or. Pelo con­trá­rio, alar­gou o fos­so en­tre a Ciência e o Ensino Superior, per­mi­tiu que a em­pre­sa­ri­a­li­za­ção da ges­tão aca­dé­mi­ca fos­se ins­tru­men­ta­li­za­da pa­ra fa­ci­li­tar a pre­ca­ri­e­da­de, e agu­di­zou o dé­fi­ce de­mo­crá­ti­co nas ins­ti­tui­ções de Ensino Superior.

A aber­tu­ra do Processo de Regularização Extraordinária de Vínculos Laborais Precários na Administração Pública (PREVPAP) expôs cla­ra­men­te a di­men­são des­te pro­ble­ma – na área da Ciência fo­ram re­ce­bi­dos 3200 pe­di­dos pa­ra re­gu­la­ri­za­ção de do­cen­tes e in­ves­ti­ga­do­res, dos quais ape­nas 10% ti­ve­ram pa­re­cer po­si­ti­vo.  De igual mo­do, é de pre­ver que o nú­me­ro de con­tra­ta­dos sem ter­mo no fi­nal do pro­ces­so que de­cor­reu ao abri­go da nor­ma tran­si­tó­ria do Decreto-Lei n.º 57/​2016 se­rá tam­bém re­du­zi­do, em fun­ção do mes­mo ti­po de obs­tá­cu­los ao re­co­nhe­ci­men­to do seu vínculo.

A opo­si­ção de mui­tos rei­to­res e a ina­ção do go­ver­no têm si­do fa­to­res crí­ti­cos pa­ra o fa­lhan­ço des­tes pro­gra­mas, so­bre­pon­do-se com frequên­cia à apli­ca­ção da lei e con­tri­buin­do pa­ra a ma­nu­ten­ção sis­te­má­ti­ca de fal­sos bol­sei­ros e bol­sei­ras, do­cen­tes con­tra­ta­dos e con­tra­ta­das de se­mes­tre em se­mes­tre pa­ra as­se­gu­rar ta­re­fas per­ma­nen­tes, e uso abu­si­vo da fi­gu­ra de “do­cen­te con­vi­da­do ou con­vi­da­da” pa­ra evi­tar a aber­tu­ra de con­cur­sos pa­ra lu­ga­res de car­rei­ra. A es­tes pro­ble­mas so­ma-se ain­da uma ten­dên­cia cres­cen­te de pri­va­ti­za­ção do en­qua­dra­men­to con­tra­tu­al do tra­ba­lho do­cen­te e de investigação.

Ao lon­go dos úl­ti­mos seis anos, fi­cou cla­ro que ape­nas as res­tri­ções ao aces­so a fi­nan­ci­a­men­to con­tri­buí­ram com su­ces­so pa­ra im­por os con­tra­tos de tra­ba­lho com vín­cu­lo nor­mal pa­ra o tra­ba­lho ci­en­tí­fi­co. É, por­tan­to, nes­tas me­di­das que de­ve­mos apos­tar. A obri­ga­to­ri­e­da­de de cum­prir uma per­cen­ta­gem cres­cen­te de in­ves­ti­ga­do­res nos qua­dros pa­ra aces­so a fi­nan­ci­a­men­to, pa­re­ce ser o ca­mi­nho. No en­tan­to, sem um au­men­to pro­gres­si­vo e sus­ten­ta­do do fi­nan­ci­a­men­to plu­ri­a­nu­al con­tra­tu­a­li­za­do com as ins­ti­tui­ções de en­si­no su­pe­ri­or e ci­ên­cia, o com­ba­te à pre­ca­ri­e­da­de se­rá sem­pre uma ba­ta­lha perdida.

É tam­bém im­pe­ra­ti­vo pro­mo­ver uma re­vi­são ar­ti­cu­la­da dos es­ta­tu­tos de car­rei­ra de in­ves­ti­ga­ção e do­cên­cia, de mo­do a per­mi­tir uma mai­or com­pa­ti­bi­li­za­ção en­tre am­bos, re­ven­do tam­bém os me­ca­nis­mos de pro­gres­são de for­ma jus­ta, trans­pa­ren­te e abran­gen­te, e pon­do fim ao re­cur­so a le­gis­la­ção avul­sa pa­ra be­ne­fí­cio ape­nas de alguns.

No que res­pei­ta ao sis­te­ma ci­en­tí­fi­co na­ci­o­nal, os úl­ti­mos seis anos pro­va­ram que o fun­ci­o­na­men­to da Fundação pa­ra a Ciência e a Tecnologia (FCT) é pau­ta­do por uma bu­ro­cra­ti­za­ção es­tru­tu­ral que, ali­a­da à fal­ta de mei­os e pes­so­al téc­ni­co, dei­xa o se­tor nu­ma im­pre­vi­si­bi­li­da­de e atra­sos cons­tan­tes. O au­men­to do or­ça­men­to pa­ra a ci­ên­cia, pro­pos­to nes­te Programa, de­ve­rá ser exe­cu­ta­do com ri­gor e acom­pa­nha­do de uma ava­li­a­ção con­se­quen­te dos pro­gra­mas de in­ves­ti­men­to an­te­ri­o­res. Também o fun­ci­o­na­men­to da FCT ca­re­ce de reavaliação.

As pro­pos­tas do Bloco de Esquerda so­bre es­ta ma­té­ria são:

- Financiamento pú­bli­co plu­ri­a­nu­al con­tra­tu­a­li­za­do com as ins­ti­tui­ções de en­si­no su­pe­ri­or, la­bo­ra­tó­ri­os e cen­tros de in­ves­ti­ga­ção, com a con­tra­par­ti­da de um me­ca­nis­mo ava­li­a­ti­vo so­bre im­ple­men­ta­ção de po­lí­ti­cas na me­lho­ria da ação so­ci­al es­co­lar e do com­ba­te à precariedade;

- Revisão dos es­ta­tu­tos das car­rei­ras do­cen­tes com de­fi­ni­ção de cri­té­ri­os cla­ros de ava­li­a­ção de de­sem­pe­nho e re­gras jus­tas de progressão;

- Alteração do mo­de­lo de fun­ci­o­na­men­to da FCT, atra­vés da con­tra­ta­ção de pes­so­al es­pe­ci­a­li­za­do, um mo­de­lo de go­ver­nan­ça que ga­ran­ta mais au­to­no­mia na de­ci­são e me­lhor li­ga­ção com o se­tor científico;

- Regulamentação das Carreira de Docente no Ensino Superior Privado, em ne­go­ci­a­ção com as or­ga­ni­za­ções re­pre­sen­ta­ti­vas da classe.

 

Livre • De acor­do com a pro­pos­ta 6.17 do nos­so programa:
Equiparar as car­rei­ras de do­cên­cia e in­ves­ti­ga­ção, atra­vés da re­vi­são do Estatuto da Carreira de Investigação Científica e da fu­são dos Estatutos da Carreira Docente Universitária (ECDU) e do Estatuto do Pessoal Docente do Ensino Superior Politécnico (ECPDESP) pa­ra que se­ja equi­pa­ra­do em ní­vel de exi­gên­cia, di­rei­tos e de­ve­res.. A in­te­gra­ção de am­bas as car­rei­ras num mes­mo es­ta­tu­to de­ve­rá in­cluir a pos­si­bi­li­da­de de mo­bi­li­da­de en­tre as car­rei­ras de in­ves­ti­ga­ção e do­cen­te, den­tro da mes­ma ins­ti­tui­ção ou en­tre ins­ti­tui­ções di­fe­ren­tes, per­mi­tin­do uma me­lhor ges­tão dos re­cur­sos e ne­ces­si­da­des das ins­ti­tui­ções e ga­ran­tin­do uma mai­or in­te­gra­ção en­tre as ati­vi­da­des de en­si­no su­pe­ri­or e in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca, per­mi­tin­do de­sen­vol­vi­men­to de ati­vi­da­des de in­ves­ti­ga­ção e de do­cên­cia, com fle­xi­bi­li­da­de na ges­tão de car­gas ho­rá­ri­as, den­tro dos li­mi­tes le­gal­men­te fi­xa­dos ou a fixar.”

Também de acor­do com a pro­pos­ta 6.20 do nos­so pro­gra­ma, propomos:
Assegurar a igual­da­de de di­rei­tos no en­si­no su­pe­ri­or pú­bli­co, par­ti­cu­lar e co­o­pe­ra­ti­vo, atra­vés da ado­ção pe­las ins­ti­tui­ções de en­si­no par­ti­cu­lar e co­o­pe­ra­ti­vo dos es­ta­tu­tos da car­rei­ra do­cen­te, ga­ran­tin­do a de­mo­cra­cia in­ter­na e a li­ber­da­de de en­si­no e in­ves­ti­ga­ção e re­for­çan­do as ga­ran­ti­as de re­pre­sen­ta­ção sin­di­cal nes­tas instituições.”

 

 

3) O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) es­tran­gu­lou a de­mo­cra­cia in­ter­na das ins­ti­tui­ções e abriu es­pa­ço à pri­va­ti­za­ção de uni­ver­si­da­des pú­bli­cas atra­vés da fi­gu­ra da fun­da­ção. A fal­ta de re­pre­sen­ta­ti­vi­da­de de in­ves­ti­ga­do­res, tra­ba­lha­do­res téc­ni­co-ad­mi­nis­tra­ti­vos e es­tu­dan­tes, con­cre­ti­za­da na to­tal ex­clu­são dos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção e dos in­ves­ti­ga­do­res con­tra­ta­dos ao abri­go de Instituições Privadas Sem Fins Lucrativos (IPSFL), tem um im­pac­to no­tó­rio ao ní­vel das to­ma­das de de­ci­são e de­fi­ni­ções es­tra­té­gi­cas das ins­ti­tui­ções. A pri­va­ti­za­ção des­tas ins­ti­tui­ções pú­bli­cas, se­ja atra­vés do re­gi­me fun­da­ci­o­nal, se­ja atra­vés das IPSFL, tem mos­tra­do que os in­ves­ti­ga­do­res só in­te­res­sam en­quan­to tra­ba­lha­do­res pa­ra a con­ta­bi­li­za­ção da sua pro­du­ção ci­en­tí­fi­ca, sen­do ex­cluí­dos em tu­do o que en­vol­ve di­rei­tos la­bo­rais e par­ti­ci­pa­ção democrática.

Tendo si­do ul­tra­pas­sa­do em vá­ri­os anos o pra­zo pre­vis­to pa­ra a ava­li­a­ção do RJIES, que pro­pos­tas têm pa­ra uma ava­li­a­ção do di­plo­ma no qua­dro da pró­xi­ma legislatura?

 

CDS • O RJIES já pas­sou o pra­zo de­ci­di­da­men­te. Tal co­mo pre­vis­to de­ve ser re­a­pre­ci­a­do. Tem vá­ri­os pro­ble­mas em si mes­mo mas não con­si­de­ra­mos que a exis­tên­cia do re­gi­me fun­da­ci­o­nal se­ja um deles.

 

CDU • O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) foi in­tro­du­zi­do com o ar­gu­men­to da ne­ces­si­da­de de mo­der­ni­za­ção e de agi­li­za­ção do sis­te­ma de go­ver­no e de ges­tão das Instituições. Na ver­da­de, tra­tou-se de uma al­te­ra­ção pro­fun­da do qua­dro vi­gen­te que foi apre­sen­ta­da co­mo so­lu­ção fe­cha­da e não te­ve em de­vi­da con­si­de­ra­ção pa­re­ce­res e re­fle­xões de di­ver­sas en­ti­da­des da co­mu­ni­da­de do en­si­no su­pe­ri­or. A CDU con­si­de­ra que as al­te­ra­ções in­tro­du­zi­das pe­lo RJIES cri­a­ram pro­fun­das e ne­ga­ti­vas trans­for­ma­ções no sis­te­ma de en­si­no su­pe­ri­or por­tu­guês, ata­can­do o seu ca­rác­ter pú­bli­co. Ao in­vés de re­sol­ver as pre­mis­sas que ser­vi­ram de pre­tex­to à sua cri­a­ção, o RJIES deu pas­sos de­ter­mi­na­dos no sen­ti­do da em­pre­sa­ri­a­li­za­ção e pri­va­ti­za­ção do en­si­no su­pe­ri­or pú­bli­co, in­tro­du­ziu gra­ves li­mi­ta­ções à au­to­no­mia das ins­ti­tui­ções, dan­do uma ma­cha­da­da na sua ges­tão de­mo­crá­ti­ca pre­vis­ta pe­la Constituição da República Portuguesa. Ao lon­go dos anos, o PCP tem afir­ma­do que es­te re­gi­me ju­rí­di­co tem um im­pac­to ne­ga­ti­vo ao ní­vel da ges­tão das ins­ti­tui­ções pú­bli­cas de en­si­no su­pe­ri­or, em­pur­ran­do-as pa­ra a de­pen­dên­cia de in­te­res­ses que lhes são alhei­os. A par do es­va­zi­a­men­to de­mo­crá­ti­co no­tó­rio, o RJIES acen­tu­ou o sis­te­ma bi­ná­rio do en­si­no su­pe­ri­or e im­ple­men­tou um re­gi­me fun­da­ci­o­nal que abre ca­mi­nho pa­ra a pri­va­ti­za­ção e mer­can­ti­li­za­ção das ins­ti­tui­ções pú­bli­cas, ob­jec­ti­vo que o PCP con­si­de­ra ser a ver­da­dei­ra ori­en­ta­ção es­tra­té­gi­ca de to­do o di­plo­ma. O re­gi­me fun­da­ci­o­nal e o im­pul­so da­do às ins­ti­tui­ções pri­va­das sem fins lu­cra­ti­vos (IPSFL) vi­e­ram tam­bém fa­ci­li­tar a con­tra­ta­ção de in­ves­ti­ga­do­res com vín­cu­los la­bo­rais pre­cá­ri­os e bol­sas, e pro­mo­ver a des­cri­mi­na­ção en­tre es­tes e os co­le­gas que exer­cem exac­ta­men­te as mes­mas fun­ções, mas que são con­tra­ta­dos di­rec­ta­men­te pe­las ins­ti­tui­ções de en­si­no su­pe­ri­or ao abri­go do re­gi­me de di­rei­to pú­bli­co. O blo­queio à par­ti­ci­pa­ção nos ór­gãos de ges­tão dos in­ves­ti­ga­do­res com bol­sa ou com con­tra­to de tra­ba­lho, que con­ti­nua ser a nor­ma em gran­de par­te das ins­ti­tui­ções, é uma das mai­o­res evi­dên­ci­as do ca­rác­ter an­ti-de­mo­crá­ti­co des­te di­plo­ma. Sem um re­gi­me ju­rí­di­co que ins­cre­va a par­ti­ci­pa­ção de­mo­crá­ti­ca pa­ra to­dos co­mo um di­rei­to, a con­ti­nu­a­da ex­clu­são dos in­ves­ti­ga­do­res dos pro­ces­sos de de­ci­são man­ter-se-á co­mo norma.

A es­te res­pei­to, o PCP apre­sen­tou pro­pos­tas co­mo o Projeto de Lei n.º 152/XIV/1.ª que re­vo­ga o re­gi­me fun­da­ci­o­nal e es­ta­be­le­ce um mo­de­lo de ges­tão de­mo­crá­ti­ca das ins­ti­tui­ções pú­bli­cas de en­si­no su­pe­ri­or. Opomo-nos a es­te ru­mo de mer­can­ti­li­za­ção e pri­va­ti­za­ção e, por is­so, de­fen­de­mos al­te­ra­ções pro­fun­das que com­ba­tam es­te ca­mi­nho e que pas­sam pe­la al­te­ra­ção do RJIES, pe­lo au­men­to do in­ves­ti­men­to nas ins­ti­tui­ções de en­si­no su­pe­ri­or por via de uma no­va Lei de Bases do Financiamento, bem co­mo de mais apoi­os ao ní­vel da Acção Social Escolar pa­ra os estudantes.

 

BE • O Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) in­tro­du­ziu uma ló­gi­ca mer­can­til no fun­ci­o­na­men­to do sis­te­ma, pa­ten­te na en­tra­da pa­ra os Conselhos Gerais dos re­pre­sen­tan­tes dos prin­ci­pais gru­pos eco­nó­mi­cos, ao mes­mo tem­po que re­me­teu pa­ra um ní­vel qua­se sim­bó­li­co a de­mo­cra­cia na ges­tão da aca­de­mia. O RJIES es­ta­be­le­ceu ain­da uma hi­e­rar­quia ina­cei­tá­vel en­tre uni­ver­si­da­des do mes­mo sis­te­ma, in­tro­du­zin­do in­cen­ti­vos fi­nan­cei­ros em fun­ção das es­co­lhas de mo­de­lo de ges­tão e con­di­ci­o­nan­do, por es­sa via, a au­to­no­mia das instituições.

A em­pre­sa­ri­a­li­za­ção da ges­tão aca­dé­mi­ca, com­bi­na­da com o dé­fi­ce de­mo­crá­ti­co, trans­for­mou o Ensino Superior nu­ma fá­bri­ca de gen­te pre­cá­ria: fal­sos bol­sei­ros e bol­sei­ras, do­cen­tes con­tra­ta­dos e con­tra­ta­das de se­mes­tre em se­mes­tre pa­ra as­se­gu­rar ta­re­fas per­ma­nen­tes, uso e abu­so da fi­gu­ra de “do­cen­te con­vi­da­do ou con­vi­da­da” pa­ra evi­tar a aber­tu­ra de con­cur­sos pa­ra lu­gar de car­rei­ra são ape­nas al­guns exem­plos do es­ta­do de de­gra­da­ção que o se­tor atin­giu. A aber­tu­ra do Processo de Regularização Extraordinária de Vínculos Laborais Precários na Administração Pública (PREVPAP) trou­xe lu­zes so­bre a di­men­são da pre­ca­ri­e­da­de na in­ves­ti­ga­ção e no en­si­no su­pe­ri­or. No en­tan­to, quer o PREVPAP quer a Lei 57/​2017 têm ti­do uma apli­ca­ção mui­to li­mi­ta­da, ten­do es­bar­ra­do na opo­si­ção de mui­tos rei­to­res e na ina­ção do governo.

Durante a pan­de­mia, o au­men­to do as­sé­dio la­bo­ral e a mai­or con­cen­tra­ção de po­der nos rei­to­res e pre­si­den­tes dos po­li­téc­ni­cos tor­na­ram ain­da mais de­si­gual es­ta re­la­ção que, na ver­da­de, de­ve­ria pau­tar-se por um res­pei­to pro­fis­si­o­nal e aca­dé­mi­co en­tre pares.

Para res­pon­der ao pro­ble­ma, a pro­pos­ta do Bloco pas­sa por:

- Revisão do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior, re­cu­pe­ran­do o prin­cí­pio da par­ti­ci­pa­ção pa­ri­tá­ria en­tre cor­pos e de gé­ne­ro nos ór­gãos de ges­tão e o prin­cí­pio da elei­ção do ou da reitora/​presidente por um co­lé­gio elei­to­ral alar­ga­do e representativo;

Acreditamos que só com Instituições de Ensino Superior res­pon­de­mos a uma ur­gên­cia dos nos­sos di­as, que é o de­sen­vol­vi­men­to ci­en­tí­fi­co ao ser­vi­ço do in­te­res­se pú­bli­co. Dado o pa­pel do co­nhe­ci­men­to ci­en­tí­fi­co e tec­no­ló­gi­co nos mais va­ri­a­dos as­pec­tos da so­ci­e­da­de, o Estado de­ve as­su­mir um pa­pel de­ci­si­vo no de­sen­vol­vi­men­to das po­lí­ti­cas pa­ra o Conhecimento e ga­ran­tir a sua de­mo­cra­ti­za­ção. Deve-se as­sim pro­cu­rar pro­mo­ver as for­mas de tec­no­lo­gia aber­ta e que se­jam re­gi­das por prin­cí­pi­os de es­pí­ri­to crí­ti­co e  uti­li­da­de pú­bli­ca. Este es­for­ço de­ve con­tri­buir tam­bém pa­ra ca­pa­ci­tar as res­pos­tas dos ser­vi­ços pú­bli­cos e re­for­çar a re­la­ção en­tre os de­ci­so­res po­lí­ti­cos e os ci­da­dãos. É pos­sí­vel fo­men­tar a li­ga­ção en­tre as Instituições de Ensino Superior, os seus Laboratórios e Centros de Investigação e os res­tan­tes ser­vi­ços da Administração Pública, pa­ra pro­mo­ver a sua mo­der­ni­za­ção e o de­sin­cen­ti­vo à con­tra­ta­ção de ser­vi­ços pri­va­dos de con­sul­to­ria; cri­a­ção de Pactos de Investigação e Desenvolvimento ori­en­ta­dos pa­ra a va­lo­ri­za­ção ci­en­tí­fi­ca e tec­no­ló­gi­ca da Administração Pública.

Por fim, ba­te­mo-nos por mais fi­nan­ci­a­men­to pú­bli­co pa­ra o se­tor, as­su­min­do o com­pro­mis­so de atin­gir, na pró­xi­ma le­gis­la­tu­ra, 3% do PIB em in­ves­ti­men­to em ci­ên­cia e in­ves­ti­ga­ção, fi­nan­ci­a­men­to es­se mai­o­ri­ta­ri­a­men­te pú­bli­co e que re­e­qui­li­bre a re­la­ção de in­ves­ti­men­to em ci­ên­cia bá­si­ca e ci­ên­cia aplicada.

 

Livre • A pro­pos­ta 6.19 do nos­so pro­gra­ma di­ta o seguinte:
Rever o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) de for­ma a ga­ran­tir a de­mo­cra­cia ple­na na elei­ção dos ór­gãos. Aumentando a re­pre­sen­ta­ti­vi­da­de dos es­tu­dan­tes, tra­ba­lha­do­res e do­cen­tes fa­ce a in­di­vi­du­a­li­da­des ex­ter­nas às instituições.”

 

Resposta do PS ao con­jun­to de questões:

O Programa Eleitoral pa­ra as elei­ções le­gis­la­ti­vas de 2022 que po­de ser con­sul­ta­do aqui, con­ti­nu­an­do e re­no­van­do o pro­gra­ma cu­ja exe­cu­ção foi in­ter­rom­pi­da, com­por­ta qua­tro de­sa­fi­os es­tra­té­gi­cos e é pre­ce­di­do por um re­qui­si­to ne­ces­sá­rio que es­tá sub­ja­cen­te às nos­sas políticas:

i)   Boa governação

 ii)  Alterações Climáticas

 iii) Demografia

 iv) Desigualdades

 v)  Sociedade Digital