In Público, 20 de Março 2008
Estudo encomendado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia revela que bolsas de estudo portuguesas são das mais elevadas
No ano passado, Portugal era dos países europeus com uma maior percentagem de trabalhadores altamente qualificados no escalão etário dos 25 aos 34 anos. Segundo dados constantes de um estudo comparativo realizado pela Deloitte Consultores para a Fundação da Ciência e Tecnologia (FCT), a percentagem de doutorados naquele grupo era de 38,3 por cento (média na UE – 20,6 por cento), o que coloca Portugal num lugar que lhe é pouco habitual – no pelotão da frente: no caso à frente da Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Noruega, Reino Unido, Suécia e Suíça.
São os “primeiros frutos” de um esforço de duas décadas pela qualificação, comentou o presidente da FCT, João Sentieiro, frisando que este é um trabalho que não se pode interromper, de modo a que a partir de agora se “propague de geração em geração”. Mas por agora o resultado é indicador de um país com profundas fracturas geracionais. O Portugal “altamente qualificado” dos 25 aos 34 anos sucumbe quando o universo escolhido é mais amplo. Por exemplo, pegando no total da população activa conclui-se que o país tem das mais baixas percentagens de trabalhadores altamente qualificados da Europa – 9,8 por cento (a média na UE é de 15,4) contra 16,6 em Espanha ou 23,6 na Dinamarca.
Segundo o responsável da FCT, será aberta em breve uma nova fase de concursos com vista à prossecução de uma das metas do Governo: empregar mil doutorados até 2009. Até agora foram colocados cerca de 600.
Outra característica marcante que sobressai : em Portugal, grande parte do investimento em investigação é pago pelo Estado – 60,1 por cento (média da UE – 34,8). Em Espanha, a quota estatal neste esforço é de 41 por cento, na Alemanha 30,4 e na Suécia 23,5.
Por outro lado, Portugal continua a ser dos países onde o Estado menos gasta no que se convencionou chamar Investigação e Desenvolvimento (I&D). Em 2005, a despesa neste sector representou 0,81 por cento do PIB ( menos de metade da média gasta nos países da UE – 1,84 por cento).
Estes resultados confirmam, segundo Sentieiro, a necessidade de um duplo esforço: por um lado, da parte do Estado (o objectivo é chegar em 2009 a 1 por cento do PIB); por outro, do sector económico, que terá de aumentar a sua contribuição e aproximar-se dos valores europeus.
Segundo o estudo divulgado terça-feira, a FCT é uma das instituições que melhor pagam aos bolseiros. Por exemplo, no que se refere a doutoramentos no próprio país despende anualmente por bolseiro 15.448 euros (a média é de 14.414). Nas bolsas de doutoramento no estrangeiro gasta 34.808 euros anuais por bolseiro (a média é de 21.511).
Da contabilidade feita estão excluídos outros oito tipos de financiamento, entre eles as chamadas Bolsas de Investigação. André Levi, dirigente da Associação de Bolseiros de Investigação Científica, lembra que os seus detentores ganham à volta de 750 euros mensais: tendo em conta as horas de trabalho que lhes são pedidas, em média ganharão por hora menos do que uma mulher a dias, adianta.