A FENPROF e a ABIC protestaram junto do presidente do Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social e da Administração e Direção de Informação da RTP por os responsáveis do programa “É ou Não É” não terem convidado as organizações mais representativas dos docentes e investigadores em Portugal para participar na emissão desta terça-feira, dia 6 de abril, sobre o tema “Vale a pena ser cientista em Portugal”.
Refere o texto:
Na terça-feira dia 6 de abril irá para o ar um episódio do Programa É ou Não É? Neste caso, a resposta parece fácil: Não é!
Não é aceitável que a direção de programas da RTP convide para um programa dedicado a debater se “Vale a pena ser cientista em Portugal” o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, o professor Carlos Fiolhais, as cientistas Elvira Fortunato (Prémio Pessoa 2020) e Mónica Bettencourt-Dias (Diretora do Instituto Gulbenkian de ciência) e o Presidente da Associação Nacional de Investigadores em Ciência e Tecnologia, o investigador principal, Nuno Cerca, e exclua quem mais tem procurado e produzido conhecimento sobre a realidade de todo o trabalho científico em Portugal: a Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), a associação mais representativa do setor, ou a FENPROF, que tem desenvolvido imenso trabalho neste domínio. Dificilmente o debate da RTP deixará de reproduzir uma visão monolítica e elitista do trabalho científico, dando voz a representantes das áreas científicas historicamente com mais financiamento, que representam não mais que 1%.
Não é aceitável que a RTP deixe de fora duas das organizações mais representativas da Ciência e dos cientistas em Portugal, duas das organizações que melhor conhecem o Sistema Científico e Tecnológico Nacional, como atesta, por exemplo, o estudo recentemente promovido pela FENPROF sobre Precariedade no Ensino Superior e na Ciência, comunicado a todos os media, incluindo à RTP, e amplamente divulgado por uma grande parte destes. Trata-se de um trabalho com 2726 respostas e com uma secção especificamente dedicada a caracterizar a satisfação dos cientistas com as diversas dimensões do seu trabalho, precisamente o tema deste episódio do Programa É ou Não É.
Não é aceitável que a RTP, de quem se esperava isenção no serviço público que é suposto prestar, assuma uma posição declaradamente política e exclua do debate aqueles que trabalham especificamente sobre este tema em Portugal. Não é aceitável que a RTP exclua as visões de 99% dos cientistas. A linguagem da ciência é plural e diversificada e o serviço público de televisão, instrumento fundamental para o esclarecimento e a elevação do nível cultural e científico dos portugueses, deveria espelhar essa realidade. Persistir neste erro aprofundará uma vez mais as desigualdades na ciência em Portugal e tornará ainda mais obscuro o que supostamente o programa propõe clarificar, se “Vale a pena ser cientista em Portugal”.
A FENPROF
A ABIC