PCP propõe actualização extraordinária das bolsas de investigação

Projecto de lei en­tre­gue ho­je no Parlamento

PCP propõe actualização extraordinária das bolsas de investigação

 
In Público 17 de Abril 2009
 

O PCP en­tre­gou ho­je no Parlamento um pro­jec­to de lei que vi­sa a ac­tu­a­li­za­ção ex­tra­or­di­ná­ria das bol­sas de in­ves­ti­ga­ção, que não são au­men­ta­das des­de 2002, o que cor­res­pon­de a uma des­va­lo­ri­za­ção do ren­di­men­to na or­dem dos 20 por cen­to, se­gun­do cál­cu­los da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC).

Para o par­ti­do is­to “pro­vo­ca uma ca­da vez mais sig­ni­fi­ca­ti­va ins­ta­bi­li­da­de na sua car­rei­ra e na sua vi­da [dos in­ves­ti­ga­do­res], par­ti­cu­lar­men­te ten­do em con­ta que gran­de par­te de­les é jo­vem” e “cons­ti­tui um im­por­tan­te fac­tor de per­da de atrac­ti­vi­da­de e com­pe­ti­ti­vi­da­de do Sistema Científico e Tecnológico Nacional”.

O ob­jec­ti­vo do di­plo­ma co­mu­nis­ta é mi­ni­mi­zar a “de­gra­da­ção da con­di­ção so­ci­al e pro­fis­si­o­nal do in­ves­ti­ga­dor” pois, “na ver­da­de, a es­ma­ga­do­ra mai­o­ria des­tes bol­sei­ros é efec­ti­va­men­te um in­ves­ti­ga­dor ou um téc­ni­co de in­ves­ti­ga­ção”. O PCP dá co­mo exem­plo a “dis­cre­pân­cia” en­tre o va­lor re­ce­bi­do por um in­ves­ti­ga­dor au­xi­li­ar (3191,82 eu­ros) e um bol­sei­ro de pós-dou­to­ra­men­to (1495 eu­ros), sen­do que o pri­mei­ro re­ce­be 14 me­ses por ano e o se­gun­do ape­nas 12.

Assim, o PCP pre­ten­de que as bol­sas até 1000 eu­ros so­fram um au­men­to ime­di­a­to de dez por cen­to e as bol­sas su­pe­ri­o­res a 1000 eu­ros se­jam já au­men­ta­das em cin­co por cen­to. No fu­tu­ro, que­rem que a ac­tu­a­li­za­ção se­ja fei­ta “na me­di­da mí­ni­ma dos au­men­tos de­cre­ta­dos anu­al­men­te pa­ra to­dos os tra­ba­lha­do­res da ad­mi­nis­tra­ção pú­bli­ca”. O PCP lem­bra, ain­da, o pro­jec­to de Estatuto do Investigador em Formação – ba­se­a­do na Carta Europeia do Investigador – e on­de pro­põe o di­rei­to des­tes tra­ba­lha­do­res a um sis­te­ma de se­gu­ran­ça social.

Degradação do pa­pel da ci­ên­cia na economia

Os co­mu­nis­tas sal­va­guar­dam que es­te pe­di­do ex­tra­or­di­ná­rio de au­men­to não sig­ni­fi­ca que dei­xem de pe­dir uma apro­xi­ma­ção dos ven­ci­men­tos e das con­di­ções dos bol­sei­ros às dos ou­tros in­ves­ti­ga­do­res. “Esta op­ção po­lí­ti­ca de des­va­lo­ri­za­ção do tra­ba­lho ci­en­tí­fi­co e de ori­en­ta­ção eco­no­mi­cis­ta no âm­bi­to do re­cru­ta­men­to de mão-de-obra al­ta­men­te es­pe­ci­a­li­za­da é, em si mes­ma, cau­sa de uma de­gra­da­ção da es­tru­tu­ra do Sistema Científico e Tecnológico Nacional e de mi­ni­mi­za­ção do seu pa­pel na eco­no­mia”, lê-se no preâm­bu­lo do pro­jec­to de lei.

E la­men­tam: “A es­tru­tu­ra ci­en­tí­fi­ca na­ci­o­nal es­tá ca­da vez mais dis­tan­te do cum­pri­men­to do seu de­ver e ca­da vez mais in­ca­pa­ci­ta­da de fa­zer fren­te às ne­ces­si­da­des do país. Ao in­vés de so­lu­ci­o­nar os pro­ble­mas com que nos de­fron­ta­mos, o Governo vai pre­fe­rin­do di­fun­dir a den­sa pro­pa­gan­da a que nos ha­bi­tu­ou em tor­no de pro­jec­tos de re­du­zi­do im­pac­to na­ci­o­nal, mas de efei­to me­diá­ti­co assinalável”.

Por ou­tro la­do, os co­mu­nis­tas de­nun­ci­am a “po­lí­ti­ca de sub-fi­nan­ci­a­men­to” em que se en­con­tram os la­bo­ra­tó­ri­os do Estado, as uni­ver­si­da­des e os cen­tros de in­ves­ti­ga­ção. “A con­di­ção de bol­sei­ro de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca li­mi­ta ob­jec­ti­va­men­te mui­tos di­rei­tos que de­vi­am es­tar à par­ti­da as­se­gu­ra­dos a es­tes tra­ba­lha­do­res, en­tre os quais o di­rei­to a um sa­lá­rio jus­to”, di­zem ain­da os co­mu­nis­tas, que as­se­gu­ram que “es­tas bol­sas são na re­a­li­da­de o sa­lá­rio de um vas­to con­jun­to de tra­ba­lha­do­res al­ta­men­te qualificados”.

Actualizações cons­tan­tes

De acor­do com o PCP “tor­na-se ur­gen­te cri­ar me­ca­nis­mos le­gais de ac­tu­a­li­za­ção do va­lor das bol­sas da Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia no que to­ca aos bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca”, o que “não po­de es­tar de­pen­den­te da boa-von­ta­de pon­tu­al de um Ministério, ou da dis­po­ni­bi­li­da­de fi­nan­cei­ra da FCT” e de­ve sim ba­se­ar-se em “prin­cí­pi­os e me­ca­nis­mos cons­tan­tes e negociáveis”.

Recorde-se que no iní­cio des­te mês a ABIC reu­niu com o se­cre­tá­rio de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, pa­ra en­tre­gar um abai­xo-as­si­na­do com cin­co mil as­si­na­tu­ras a pe­dir um au­men­to do va­lor das bol­sas e da pro­tec­ção so­ci­al, já que os seus des­con­tos são fei­tos so­bre o sa­lá­rio mí­ni­mo e não têm di­rei­to a sub­sí­dio de desemprego.

A ABIC es­ti­ma que em Portugal ha­ja cer­ca de dez mil bol­sei­ros, po­den­do o nú­me­ro por ve­zes os­ci­lar en­tre os oi­to mil e os 12 mil, já que não há da­dos ri­go­ro­sos, sa­ben­do-se ape­nas que, pe­la Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT), são cer­ca de cin­co mil.