Estudo: Instituições preferem contratar investigadores

Estudo: Instituições pre­fe­rem con­tra­tar in­ves­ti­ga­do­res


In Diário Digital, 19 de Março 2008

Um es­tu­do com­pa­ra­ti­vo en­co­men­da­do pe­la Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT) e di­vul­ga­do ter­ça-fei­ra mos­tra que há uma ten­dên­cia in­ter­na­ci­o­nal pa­ra a ce­le­bra­ção de con­tra­tos de tra­ba­lho com os in­ves­ti­ga­do­res em de­tri­men­to da atri­bui­ção de bolsas.

De acor­do com o do­cu­men­to, no ca­so dos dou­to­ra­men­tos é mais fre­quen­te a atri­bui­ção de bol­sas do que o fi­nan­ci­a­men­to a dou­to­ran­dos com con­tra­to de tra­ba­lho, sen­do «a pro­por­ção, res­pec­ti­va­men­te, de 59 por cen­to (10 ins­ti­tui­ções) pa­ra 24 por cen­to (qua­tro instituições)».

«Outras du­as ins­ti­tui­ções, am­bas es­pa­nho­las, têm um sis­te­ma mis­to: a um dou­to­ran­do é-lhe atri­buí­da uma bol­sa nos dois pri­mei­ros anos e, nos dois úl­ti­mos anos, já tem um con­tra­to de tra­ba­lho», re­ve­la o estudo.

No ca­so dos pós-dou­to­ra­men­tos, a si­tu­a­ção mais fre­quen­te é o fi­nan­ci­a­men­to a pós-dou­to­ran­dos com con­tra­to de tra­ba­lho (si­tu­a­ção que se ve­ri­fi­ca em 59 por cen­to das ins­ti­tui­ções, ou se­ja, nu­ma de­ze­na de entidades).

Para André Levy, pre­si­den­te da Associação dos Bolseiros de Investigaçao Científica (ABIC), que te­ve aces­so ao re­la­tó­rio ter­ça-fei­ra à tar­de na se­de da Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia, a FCT «pre­ten­de acom­pa­nhar es­ta ten­dên­cia e pre­vê con­tra­tu­a­li­zar os pós-dou­to­ran­dos, sen­do as bol­sas ape­nas atri­buí­das a quem es­tá a fre­quen­tar o doutoramento».

De acor­do com o res­pon­sá­vel – ele pró­prio a fa­zer um se­gun­do pós-dou­to­ra­men­to des­de Fevereiro pas­sa­do – «a ABIC de­se­ja­va que os con­tra­tos de tra­ba­lho pas­sas­sem a abran­ger tam­bém os dou­to­ran­dos, em­bo­ra re­co­nhe­ça que nos dou­to­ra­men­tos, a bol­sa po­de jus­ti­fi­car-se por ain­da ha­ver uma com­po­nen­te de formação».

Segundo o es­tu­do – dis­po­ní­vel em http://​al​fa​.fct​.mc​tes​.pt/​d​o​c​u​m​e​n​t​o​s​/​Rel … 3_2008.pdf – em 2007 a FCT es­ta­va a fi­nan­ci­ar 5.497 bol­sas de dou­to­ra­men­to e 1.749 bol­sas de pós-doutoramento.

Em de­cla­ra­ções à agên­cia Lusa, André Levy, pós-dou­to­ran­do em Biologia, cri­ti­cou o fac­to de «as bol­sas se­rem mui­tas ve­zes atri­buí­das abu­si­va­men­te a quem já não es­tá em fa­se for­ma­ti­va», pre­ju­di­can­do os investigadores.

«Enquanto es­tá co­mo bol­sei­ro, sem con­tra­to de tra­ba­lho, o in­ves­ti­ga­dor não é con­si­de­ra­do um tra­ba­lha­dor», ex­pli­cou André Levy, as­si­na­lan­do que is­so tem efei­tos ao ní­vel da Segurança Social.

De qual­quer for­ma, se­gun­do o es­tu­do, des­de que o bol­sei­ro adi­ra ao Regime de Seguro Social Voluntário, a FCT as­su­me o pa­ga­men­to da res­pec­ti­va con­tri­bui­ção e o pe­río­do de bol­sa é con­si­de­ra­do pa­ra efei­tos de con­ta­gem do tem­po de re­for­ma, ao con­trá­rio do que é a prá­ti­ca corrente.

O es­tu­do re­fe­re tam­bém que, ape­sar do cres­ci­men­to do nú­me­ro de dou­to­ra­dos, Portugal ain­da es­tá «num pa­ta­mar de de­sen­vol­vi­men­to in­fe­ri­or à mé­dia eu­ro­peia» e re­fe­re que os paí­ses que mais be­ne­fí­ci­os con­ce­dem aos bol­sei­ros – no que diz res­pei­to à fa­mí­lia, à edu­ca­ção dos fi­lhos ou à de­fi­ci­ên­cia dos pró­pri­os bol­sei­ros – são a Alemanha, o Reino Unido e a Suíça.