Bolseiros de investigação “vão saltitando de bolsa em bolsa”

Bolseiros de in­ves­ti­ga­ção “vão sal­ti­tan­do de bol­sa em bol­sa”


In Jornalismo do Porto Net, 28 de Março 2008

A Associação de Bolseiros de Investigação Científica lu­ta por con­tra­tos de tra­ba­lho pa­ra os in­ves­ti­ga­do­res e pe­la ac­tu­a­li­za­ção do va­lor das bolsas.

A Fundação pa­ra a Ciência e Tecnologia (FCT), or­ga­nis­mo do Ministério do Ensino Superior, en­co­men­dou à con­sul­to­ra Deloitte um es­tu­do com­pa­ra­ti­vo so­bre os bol­sei­ros de dou­to­ra­men­to e pós-dou­to­ra­men­to em al­guns paí­ses eu­ro­peus e no Canadá. O re­sul­ta­do do es­tu­do [PDF] re­ve­la que os bol­sei­ros por­tu­gue­ses ga­nham em mé­dia mais do que os de­mais paí­ses analisados.

O Estado por­tu­guês atri­bui 15.448 eu­ros por ano a um es­tu­dan­te que fa­ça o dou­to­ra­men­to no país, um va­lor aquém do que é atri­buí­do no Canadá ou no Reino Unido, mas pró­xi­mo do que é pra­ti­ca­do na Finlândia e bas­tan­te aci­ma dos 11.085 atri­buí­dos em Espanha ou dos 10.671 na Alemanha. No ca­so das bol­sas no es­tran­gei­ro, os apoi­os da FCT che­gam aos 34.800, li­de­ran­do a mes­ma lista.

“A ra­zão por­que de­ci­di­mos tor­nar pú­bli­co o es­tu­do é por­que te­mos por nor­ma que os es­tu­dos que se­jam pa­gos com di­nhei­ros pú­bli­cos de­vem ter obri­ga­to­ri­a­men­te di­vul­ga­ção pú­bli­ca”, re­ve­la ao JPN o pre­si­den­te da FCT, João Sentieiro.

O pre­si­den­te da Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC), André Levy, diz que “Portugal pa­re­ce que es­tá bem si­tu­a­do” no uni­ver­so do es­tu­do, mas re­cla­ma a não exis­tên­cia de con­tra­tos de tra­ba­lho pa­ra os dou­to­ran­dos e pós-dou­to­ran­dos, tal co­mo acon­te­ce nos ou­tros paí­ses pre­sen­tes no es­tu­do, co­mo Espanha, em que um dou­to­ran­do re­ce­be uma bol­sa nos pri­mei­ros dois anos e nos úl­ti­mos dois já tem um con­tra­to de tra­ba­lho.
Novo con­cur­so pú­bli­co es­te ano

Confrontado com as crí­ti­cas da ABIC, João Sentieiro afir­mou que “a FCT lan­çou em 2006 um con­cur­so pa­ra o apoio à con­tra­ta­ção pe­las ins­ti­tui­ções do Sistema Científico e Tecnologico Nacional de mil dou­to­ra­dos até ao fim da pre­sen­te legislatura”.

O pre­si­den­te da FCT rei­te­rou ain­da que “des­ses mil lu­ga­res já fo­ram atri­buí­dos cer­ca de 630, cu­jos con­cur­sos de pro­vi­men­to já fo­ram qua­se to­dos con­clui­dos” e que em 2008 vai ser aber­to um no­vo con­cur­so pú­bli­co pa­ra atri­bui­ção dos res­tan­tes lugares.

André Levy re­fe­riu ao JPN que exis­tem bol­sas de dou­to­ra­men­to e de pro­jec­to­bol­sas de dou­to­ra­men­to e de pro­jec­to [Ouvir] des­ti­na­das ao “gros­so dos jo­vens in­ves­ti­ga­do­res. “Os bol­sei­ros vão sal­ti­tan­do de bol­sa em bol­sa”, di­fi­cul­tan­do-lhes o aces­so aos con­tra­tos de tra­ba­lho, rei­te­ra o pre­si­den­te da ABIC.

Outra quei­xa apre­sen­ta­da pe­la ABIC con­sis­te no fac­to do va­lor das bol­sas­va­lor das bol­sas [Ouvir] não ser ac­tu­a­li­za­do des­de 2002, não acom­pa­nhan­do o rit­mo da in­fla­ção. Este ti­po de bol­sas é o fi­nan­ci­a­men­to de jo­vens li­cen­ci­a­dos, mas tam­bém “de pes­so­as com vá­ri­os anos de ex­pe­ri­ên­cia”, lem­bra Levy.
Um em ca­da 50 gra­du­a­dos por­tu­gue­ses é doutorado

O es­tu­do ela­bo­ra­do pe­la Deloitte, além de apre­sen­tar o mon­tan­te dos sub­sí­di­os atri­buí­dos aos dou­to­ran­dos e pós-dou­to­ran­dos, re­fe­re ain­da os sub­sí­di­os com­ple­men­ta­res (di­rec­ci­o­na­dos pa­ra col­ma­tar as des­pe­sas com pro­pi­nas, vi­a­gens, alojamentos).

A atri­bui­ção de bol­sas po­de ser re­a­li­za­da de du­as for­mas: por con­cur­so pú­bli­co ou por can­di­da­tu­ra ao in­ves­ti­ga­dor res­pon­sá­vel e pos­te­ri­or acei­ta­ção do mes­mo. O pa­ga­men­to das bol­sas po­de ser fei­to anu­al, se­mes­tral ou tri­mes­tral­men­te. A quan­tia po­de não ser di­rec­ta­men­te atri­buí­da ao bol­sei­ro, mas sim à pro­pria uni­ver­si­da­de, de­pen­den­do de ca­so pa­ra caso.

O es­tu­do en­co­men­da­do pe­la FCT à Deloitte in­di­ca ain­da que em Portugal 1 em ca­da 51 gra­du­a­dos é dou­to­ra­do, en­quan­to em Espanha o rá­cio si­tua-se em 1 em ca­da 30 e na Alemanha é de 1 em ca­da 7.