In O Primeiro de Janeiro, 30 de Setembro 2007
A Associação de Bolseiros de Investigação Científica e o grupo Fartos d’Estes Recibos Verdes promovem a iniciativa «Pedalada pela Ciência». Ao todo serão 193 quilómetros montados numa bicicleta, rumo a mais um protesto contra o trabalho precário.
Victor Melo
Pedalar é um desígnio natural para um ciclista. Mas, e se ele pedalasse sem ter direito à estrada, ao vento no cabelo, à revitalização anímica, aos benefícios físicos do exercício efectuado? Antítese digna de Schopenhauer?
Sete jovens arrancaram ontem do Porto, rumo a Braga, montados numa bicicleta. Todos vão ter tudo isso. Coincidentemente, todos eles trabalham e descontam para a segurança social. Mas não têm direito a baixa médica, reforma, subsídio de desemprego, férias ou de Natal.
«Pedalada pela Ciência». É esse o epíteto da iniciativa que vai levar sete bicicletas por entre uma odisseia de 193 quilómetros em três dias (Porto – Braga – Viana do Castelo – Porto). Organizada pela ABIC (Associação de Bolseiros de Investigação Científica) e o FERVE (Fartos/as d’ Estes Recibos Verdes), a iniciativa visa alertar e conter a precariedade dos trabalhadores científicos que, maioritariamente, exercem a sua actividade com um vínculo precário, sendo pagos contra recibos verdes ou financiados através de uma bolsa de investigação.
“Temos um mero subsídio de manutenção mensal, sem contrato trabalho ou qualquer benefício da Segurança Social”. O desabafo é de Mafalda Batista, 28 anos, doutorada em biologia pela Universidade do Porto. Membra do ABIC, pretende chamar a atenção do Governo e da Sociedade Civil para a injustiça vigente do “bolseiro fazer exactamente o mesmo trabalho que outros activos, sem ter as mesmas condições de empregabilidade”.
Neste momento há uma proposta de alteração ao estatuto de bolseiro de investigação, na assembleia da república. “Que haja vontade politica para corrigir essa injustiça e transformar esses subsídios no que eles acabam por ser na prática, ou seja, contratos de trabalho”.
João Pedro freire, 36 anos, engenheiro Florestal – a laborar no Instituto superior de agronomia – veio de Lisboa para aderir à iniciativa. “Sou bolseiro desde 1996, como será a minha reforma, sem direito a uma Segurança Social condigna?”