Reunião com o MCTES

No dia 11 de Abril de 2017, a ABIC reu­niu com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), que se fez re­pre­sen­tar, na sua se­de, pe­la Secretária de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Fernanda Rollo. Juntaram-se ain­da à de­le­ga­ção da ABIC re­pre­sen­tan­tes do Núcleo de Bolseiros, Investigadores e Gestores da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas e da Rede de Investigadores con­tra a Precariedade Científica.
O prin­ci­pal pro­pó­si­to da ABIC foi a apre­sen­ta­ção do seu Caderno Reivindicativo 2017 e a ex­po­si­ção dos seus pon­tos es­tru­tu­ran­tes. Foi apon­ta­da a ne­ces­si­da­de de au­men­tar o fi­nan­ci­a­men­to do Sistema Científico e Tecnológico Nacional e de va­lo­ri­za­ção sa­la­ri­al dos in­ves­ti­ga­do­res, des­ta­can­do-se a pe­ti­ção da ABIC pe­la atu­a­li­za­ção do va­lor das bol­sas e a de­sa­de­qua­ção do ní­vel re­mu­ne­ra­tó­rio 28 no Decreto-Lei 57/​2016. A ABIC de­fen­deu a con­tra­tu­a­li­za­ção de to­dos os in­ves­ti­ga­do­res, su­bli­nhan­do os ca­sos que não são abran­gi­dos pe­lo DL57/​2016 e a fal­ta de ga­ran­ti­as pa­ra os atu­ais bol­sei­ros de dou­to­ra­men­to, as­sim co­mo a atri­bui­ção aos bol­sei­ros de to­dos os de­ve­res e di­rei­tos ine­ren­tes à con­di­ção de tra­ba­lha­do­res. Neste pon­to, fo­ram re­al­ça­dos al­guns dos pro­ble­mas con­cre­tos de in­ves­ti­ga­do­res (tais co­mo a ine­xis­tên­cia de sub­sí­dio de de­sem­pre­go ou o es­cas­so apoio em ca­so de do­en­ça, en­tre mui­tos ou­tros), re­sul­tan­tes da fal­ta de en­qua­dra­men­to pro­fis­si­o­nal, que che­gam di­a­ri­a­men­te ao co­nhe­ci­men­to da ABIC.
O MCTES, na pes­soa da Secretária de Estado, ale­gou que pe­la pri­mei­ra vez hou­ve co­ra­gem pa­ra cri­ar um en­qua­dra­men­to pa­ra o em­pre­go ci­en­tí­fi­co. O MCTES afir­ma que a sua ma­triz é a pro­cu­ra de mais fi­nan­ci­a­men­to pa­ra a ci­ên­cia e que o or­ça­men­to de es­ta­do não de­ve ser a úni­ca fon­te, de­fen­den­do que atu­al­men­te não exis­tem fun­dos dis­po­ní­veis pa­ra a atu­a­li­za­ção do va­lor das bol­sas nem pa­ra o au­men­to do ní­vel re­mu­ne­ra­tó­rio 28. O MCTES diz es­tar a ten­tar in­cluir o mai­or nú­me­ro de bol­sei­ros no sis­te­ma atra­vés do Projeto de Regularização Extraordinária dos Vínculos Precários na Administração Pública e que, por ser a fa­vor do mé­ri­to, não ha­ve­rá con­tra­ta­ções em mas­sa. Por fim, a Secretária de Estado afir­mou que se as ins­ti­tui­ções cum­pri­rem a sua par­te na con­tra­ta­ção de dou­to­ra­dos, a FCT te­rá uma pre­pon­de­rân­cia me­nor no sis­te­ma de in­ves­ti­ga­ção e as bol­sas pa­ra dou­to­ra­dos te­rão ten­dên­cia pa­ra desparecer.

A di­re­ção da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) reu­niu na se­gun­da-fei­ra (11 – 07) com o Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, a pro­pó­si­to do es­tí­mu­lo ao em­pre­go ci­en­tí­fi­co. A ABIC, de­pois de ter en­vi­a­do o pa­re­cer so­bre a pro­pos­ta de con­tra­ta­ção de dou­to­ra­dos, co­me­çou por con­tex­tu­a­li­zar es­se pro­ces­so no sis­te­ma ci­en­tí­fi­co e tec­no­ló­gi­co, evi­den­ci­an­do que to­dos os bol­sei­ros, in­de­pen­den­te­men­te do grau e do ti­po de bol­sa, de­vem ter um con­tra­to de tra­ba­lho.
Para o Ministro Manuel Heitor, as bol­sas jus­ti­fi­cam-se nos ca­sos em que há for­ma­ção. Ou se­ja, um dou­to­ran­do ou al­guém que es­tá a mu­dar de área ou de ins­ti­tui­ção de­ve ter uma bol­sa (até pa­ra não com­pro­me­ter a sua li­ber­da­de aca­dé­mi­ca) e, nes­se sen­ti­do, de­vem con­ti­nu­ar a exis­tir bol­sas pa­ra es­tes ca­sos es­pe­cí­fi­cos. A ABIC con­si­de­ra que en­quan­to a lei pre­vir es­ta pos­si­bi­li­da­de, as ins­ti­tui­ções irão usar e abu­sar des­te re­gi­me pa­ra “con­tra­ta­rem” os in­ves­ti­ga­do­res en­quan­to bol­sei­ros e não atra­vés da atri­bui­ção de con­tra­tos de tra­ba­lho. Quanto a ou­tros ti­pos de bol­sas, (p. ex. em pro­je­tos e BGCT’s), em que é evi­den­te que são de­sem­pe­nha­das fun­ções de ca­rác­ter per­ma­nen­te, o mi­nis­tro re­ve­lou com­pre­en­são e, nas su­as pa­la­vras, to­dos es­tes bol­sei­ros de­vem ser con­tra­ta­dos pe­las ins­ti­tui­ções. A ex­ce­ção são, se­gun­do ele, os dou­to­ran­dos e, em al­guns ca­sos, mes­tres e in­ves­ti­ga­do­res de pós-dou­to­ra­men­to.
A li­nha de ação des­te mi­nis­té­rio vai pas­sar por du­as me­di­das: 1. uma equi­pa es­co­lhi­da pe­lo MCTES /​FCT es­tá a pre­pa­rar o guião de ava­li­a­ção das uni­da­des de in­ves­ti­ga­ção (que se­rá le­va­da a ca­bo em 2017) on­de exis­ti­rão ori­en­ta­ções cla­ras pa­ra “pu­nir” as ins­ti­tui­ções que re­cor­ram a bol­sei­ros de pós-dou­to­ra­men­to; e, 2. si­mul­ta­ne­a­men­te, o mi­nis­tro tam­bém as­su­miu o com­pro­mis­so de es­cre­ver às uni­da­des de I&D ape­lan­do à dig­ni­fi­ca­ção dos in­ves­ti­ga­do­res atra­vés da ce­le­bra­ção de con­tra­tos de tra­ba­lho e não de con­tra­tos de bol­sa, apro­vei­tan­do es­te no­vo di­plo­ma.
A ABIC sa­li­en­tou que, pa­ra que os ob­je­ti­vos se­jam cum­pri­dos e es­ta no­va lei po­nha fim à pre­ca­ri­e­da­de, é in­con­tor­ná­vel a al­te­ra­ção do Estatuto do Bolseiro de Investigação (EBI), que tem per­mi­ti­do abu­sos va­ri­a­dos. Apesar de ser­mos con­tra qual­quer ti­po de bol­sas, se es­tas fo­rem pa­ra man­ter no re­gi­me de­fen­di­do pe­lo pró­prio Ministro, mui­to tem de ser fei­to pa­ra que is­so se pos­sa efe­ti­var. Por exem­plo, no­vas nor­mas que im­pli­cas­sem que só quem es­ti­ves­se a fre­quen­tar um grau ou quem es­ti­ves­se nos pri­mei­ros 3/​6 me­ses nu­ma ins­ti­tui­ção ou pro­je­to é que po­de­ria ser abran­gi­do por es­ta ex­ce­ção. Ou se­ja, o EBI se­ria al­te­ra­do pa­ra que as bol­sas pas­sem a ser uma ex­ce­ção e não uma re­gra. Depois de mui­ta in­sis­tên­cia, o Ministro con­cor­dou com uma re­vi­são do EBI em 2017.

Sobre o va­lor das bol­sas, en­quan­to não hou­ver atu­a­li­za­ção dos sa­lá­ri­os da fun­ção pú­bli­ca, es­tas tam­bém não de­vem ser au­men­ta­das, se­gun­do o Ministro. A ABIC fez pres­são pa­ra que, pe­lo me­nos, os sub­sí­di­os re­ti­ra­dos na an­te­ri­or le­gis­la­tu­ra fos­sem re­pos­tos e o mi­nis­tro con­cor­dou in­cluir es­ta ques­tão na dis­cus­são do Orçamento de Estado pa­ra 2017. Chamámos ain­da a aten­ção pa­ra o Seguro Social Voluntário e pa­ra a fal­ta de uma se­gu­ran­ça so­ci­al dig­na a que os bol­sei­ros es­tão ex­pos­tos. Apelámos a que as bol­sas es­te­jam su­jei­tas ao re­gi­me ge­ral de se­gu­ran­ça so­ci­al pa­ra ha­ver mais pro­te­ção so­ci­al. O Ministro fi­cou de ava­li­ar tam­bém o im­pac­to or­ça­men­tal des­ta me­di­da pa­ra o Orçamento de 2017.

Dado que a can­di­da­tu­ra ao Concurso iFct ter­mi­nou a 15 de se­tem­bro de 2015, a ABIC ques­ti­o­nou o Ministro so­bre a da­ta de anún­cio dos re­sul­ta­dos. Foi-nos res­pon­di­do que a saí­da dos re­sul­ta­dos es­tá de­pen­den­te da ho­mo­lo­ga­ção por par­te do Ministro das Finanças, po­den­do sair a qual­quer momento.