Redução de bolsas de investigação contestada
In Diário de Notícias, 3 de Setembro 2003
Os bolseiros de investigação científica estão descontentes com o número de 862 bolsas atribuído este ano, em concurso, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). Acusam aquele organismo do Ministério da Ciência e do Ensino Superior de não cumprir o compromisso assumido, no final do ano passado, da não redução daquele número em relação a 2002, em que foram aprovadas 1120 bolsas. O presidente da FCT, Ramoa Ribeiro, contesta a acusação.
Analisando os números dos últimos seis anos, a Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) conclui que houve uma diminuição progressiva e constante na atribuição das bolsas, “tendo este ano, pela primeira vez, ficado esse número abaixo de mil”.
Para a ABIC, “esta redução contraria o discurso da prioridade ao investimento na qualificação e inviabiliza uma política científica estável e sustentada de crescimento de meios e recursos”. A associação diz-se, por isso, “preocupada com o futuro do sistema científico e tecnológico nacional”, e afirma que “cortar na formação, na investigação científica e no desenvolvimento tecnológico”, num país como Portugal, “é abdicar de uma possibilidade real de desenvolvimento e progresso”.
Para o presidente da FCT, no entanto, “a análise feita pelos bolseiros está errada”, como afirmou ao DN, adiantando que poderão ser ainda aprovadas até final do ano mais algumas centenas de bolsas, dado que “o processo ainda não está concluído”.
Apesar de este ano ter decorrido, entre Janeiro e Maio, um único concurso para atribuição de bolsas de doutoramento, mestrado e pós-doutoramento _ até 2002 havia dois concursos anuais _ haverá “uma segunda avaliação para bolsas de pós-doutoramento em Novembro, que poderá resultar na atribuição de mais cerca de 200 destas bolsas”, explicou o presidente da FCT.
Os recursos que serão entretanto avaliados em Outubro (e que no ano passado resultaram em mais 250 bolsas aprovadas) deverão contribuir igualmente “para aumentar o número final de bolsas atribuídas em 2003”.
Ainda este mês será também anunciado mais um tipo de bolsa de formação avançada, destinado a jovens investigadores. Serão as Bolsas de Interacção Universidade-Empresa (BDE), cujo objectivo “é reforçar a inserção de jovens doutores no mercado empresarial”, adiantou Ramoa Ribeiro ao DN. Segundo o presidente da FCT, a atribuição, também por concurso, das BDE acontecerá ainda este ano e o seu número total “poderá chegar aos 200”.
O desenvolvimento da investigação no âmbito destas bolsas terá que resultar de uma coordenação comum entre empresas e universidades. “Tem havido grandes dificuldades de inserção destes recursos humanos mais qualificados nas empresas e acreditamos que esta nova bolsa vai contribuir para que mais quadros qualificados passem a integrar o mercado empresarial a partir daqui”, admite Ramoa Ribeiro.