Nota de Esclarecimento aos Bolseiros de Investigação Científica

A Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) vem aler­tar to­dos os in­ves­ti­ga­do­res a de­sem­pe­nhar fun­ções ao abri­go do Estatuto do Bolseiro de Investigação (EBI) e do Regulamento de Bolsas de Investigação (RBI) da Fundação pa­ra a Ciência e a Tecnologia (FCT) so­bre os cui­da­dos que de­ve­rão ter em ca­so de aci­den­te no exer­cí­cio das su­as funções.

Esta no­ta de es­cla­re­ci­men­to de­cor­re da apre­ci­a­ção de al­gu­mas si­tu­a­ções con­cre­tas re­por­ta­das à ABIC, nas quais os bol­sei­ros de in­ves­ti­ga­ção se vi­ram sem qual­quer pro­te­ção so­ci­al em ca­so de do­en­ça de­cor­ren­te de aci­den­te no exer­cí­cio das su­as ati­vi­da­des de in­ves­ti­ga­ção, por for­ça da inob­ser­vân­cia dos pro­ce­di­men­tos cor­re­tos de for­ma­li­za­ção do pe­di­do de sub­sí­dio de do­en­ça ao Instituto de Segurança Social, I.P ao abri­go do Seguro Social Voluntário de que eram subscritores.

Assim, é im­por­tan­te ob­ser­var que:
- Ao abri­go do nº. 3 do ar­ti­go 10º do EBI “a even­tu­a­li­da­de de do­en­ça é re­gu­la­da nos ter­mos do re­gi­me dos tra­ba­lha­do­res in­de­pen­den­tes”.
- Nos ca­sos em que os aci­den­tes ocor­ri­dos no exer­cí­cio da ati­vi­da­de de in­ves­ti­ga­ção se­jam clas­si­fi­ca­dos, ora pe­lo mé­di­co ora pe­lo bol­sei­ro, no for­mu­lá­rio de re­qui­si­ção de sub­sí­dio de do­en­ça da Segurança Social, co­mo “aci­den­te de tra­ba­lho” se­rá, do pon­to de vis­ta le­gal, ex­pec­tá­vel que a Segurança Social dê in­ter­pre­ta­ção le­gal e sub­se­quen­te tra­ta­men­to do pe­di­do ao abri­go do dis­pos­to no ar­ti­go 10º do EBI e, por es­sa via, ve­nha a re­me­ter a res­pon­sa­bi­li­da­de do pa­ga­men­to de sub­sí­dio de do­en­ça pa­ra um se­gu­ro de aci­den­tes de tra­ba­lho.
- Esta in­ter­pre­ta­ção de­cor­re, pre­ci­sa­men­te, do fac­to de os con­tra­tos de bol­sa não con­te­rem uma na­tu­re­za ju­rí­di­co-la­bo­ral e de o EBI re­me­ter, no seu ar­ti­go 10º, pa­ra o re­gi­me dos tra­ba­lha­do­res in­de­pen­den­tes, que por sua vez re­me­te pa­ra o Decreto-Lei 159/​99 que re­gu­la­men­ta o se­gu­ro de aci­den­tes de tra­ba­lho pa­ra os tra­ba­lha­do­res in­de­pen­den­tes e im­pu­ta es­sa obri­ga­to­ri­e­da­de ao pró­prio Trabalhador Independente, de­pre­en­den­do a Segurança Social daí que se­ria o bol­sei­ro obri­ga­do a um se­gu­ro de aci­den­tes de tra­ba­lho.
- Nestes ca­sos, o Seguro de Acidentes Pessoais ofe­re­ci­do pe­la FCT a to­dos os seus bol­sei­ros, em­bo­ra cu­bra des­pe­sas mé­di­cas e de tra­ta­men­to de­cor­ren­tes de aci­den­tes ocor­ri­dos na ati­vi­da­de de in­ves­ti­ga­ção, não tem co­ber­tu­ra de per­da de ga­nho por via de sus­pen­são de bol­sa por in­ca­pa­ci­da­de tem­po­rá­ria pa­ra o tra­ba­lho ou de ou­tro sub­sí­dio de do­en­ça, fi­can­do o bol­sei­ro des­pro­te­gi­do de am­bas as par­tes (Segurança Social e Seguro de Acidentes Pessoais da FCT).

Para evi­tar es­ta des­pro­te­ção, os bol­sei­ros de­vem as­se­gu­rar-se de que:
1. No for­mu­lá­rio pre­en­chi­do pe­lo mé­di­co de fa­mí­lia, que ates­ta a in­ca­pa­ci­da­de tem­po­rá­ria pa­ra o tra­ba­lho, a do­en­ça se­ja clas­si­fi­ca­da co­mo “do­en­ça di­re­ta” e nun­ca co­mo “aci­den­te de tra­ba­lho”, uma vez que, ao abri­go do ar­ti­go 4º do EBI, os con­tra­tos de bol­sa não ge­ram uma re­la­ção ju­rí­di­co-la­bo­ral en­tre o bol­sei­ro e a sua ins­ti­tui­ção con­tra­tan­te, pe­lo que nem o bol­sei­ro go­za de es­ta­tu­to ju­rí­di­co de tra­ba­lha­dor, nem a sua ati­vi­da­de no âm­bi­to da bol­sa é le­gal­men­te to­ma­da co­mo tra­ba­lho. Se no for­mu­lá­rio hou­ver ne­ces­si­da­de de ti­pi­fi­car o aci­den­te, de­ve­rá es­te ser clas­si­fi­ca­do co­mo “ou­tro ti­po de aci­den­te”.
2. Na Segurança Social, o for­mu­lá­rio pre­en­chi­do pa­ra so­li­ci­ta­ção de “bai­xa mé­di­ca” (i.e., sub­sí­dio de do­en­ça) de­ve­rá re­fle­tir o mes­mo cui­da­do na ti­pi­fi­ca­ção do aci­den­te: nun­ca de­ve­rá usar-se a clas­si­fi­ca­ção do aci­den­te de tra­ba­lho, mas sem­pre a de “ou­tro ti­po de aci­den­te”;
3. Ainda no for­mu­lá­rio da Segurança Social, a in­for­ma­ção so­li­ci­ta­da so­bre a exis­tên­cia de se­gu­ro de aci­den­tes de tra­ba­lho é de­vi­da­men­te pre­en­chi­da, ten­do o bol­sei­ro de es­tar ci­en­te da in­for­ma­ção mais fi­el à sua si­tu­a­ção. O bol­sei­ro de­ve­rá ve­ri­fi­car se es­tá efe­ti­va­men­te co­ber­to por al­gum se­gu­ro de aci­den­tes de tra­ba­lho ou se ape­nas go­za da co­ber­tu­ra de se­gu­ro de aci­den­tes pes­so­ais. Assim, se já te­ve um se­gu­ro de aci­den­tes de tra­ba­lho, por exem­plo no âm­bi­to de uma ati­vi­da­de in­de­pen­den­te, e pre­ten­de aci­o­ná-lo, cer­ti­fi­que-se se es­tá ati­vo an­tes de o men­ci­o­nar no for­mu­lá­rio. Se não é bol­sei­ro di­re­to da FCT, con­fir­me com a sua ins­ti­tui­ção de aco­lhi­men­to qual o ti­po de se­gu­ro (de aci­den­tes de tra­ba­lho ou de aci­den­tes pes­so­ais) dis­po­ni­bi­li­za­do aos bol­sei­ros. Se, tal co­mo o se­gu­ro dis­po­ni­bi­li­za­do pe­la FCT, se tra­tar de um se­gu­ro de aci­den­tes pes­so­ais, o bol­sei­ro não es­tá co­ber­to por se­gu­ro de aci­den­tes de tra­ba­lho e não de­ve­rá pre­en­cher es­sa par­te do formulário.

A ABIC su­bli­nha que é da au­sên­cia de um vín­cu­lo ju­rí­di­co-la­bo­ral que de­cor­rem com­ple­xos en­re­dos le­gais na re­gu­la­ção da ati­vi­da­de de in­ves­ti­ga­ção ci­en­tí­fi­ca. Destas si­tu­a­ções re­sul­ta que, por me­ras ques­tões ter­mi­no­ló­gi­cas, se­ja ve­da­do aos bol­sei­ros o aces­so a um tão bá­si­co di­rei­to co­mo o da pro­te­ção na do­en­ça. Continuaremos a lu­tar pe­la dig­ni­da­de la­bo­ral do tra­ba­lha­dor ci­en­tí­fi­co e pe­lo fim de um Estatuto do Bolseiro de Investigação que ve­da aos bol­sei­ros os mais bá­si­cos di­rei­tos sociolaborais.