Sobre a Marcha pela Ciência anunciada para o dia 22 de Abril
Num quadro em que a Ciência se afirma como indispensável para o desenvolvimento económico mundial e para a resolução de muitos do problemas que afetam o mundo contemporâneo, é natural que muitas pessoas sintam que é seu dever, enquanto trabalhadores científicos ou ativistas, participar numa iniciativa de natureza global que mobilize e que chame a atenção para as contrariedades que Ciência e investigadores científicos hoje atravessam. De facto, entre questões mais antigas e outras mais recentes, é cada vez que mais claro que as ameaças à realização de uma ciência digna, estável, democrática, liberta de pressões, se agudizam em vários pontos de globo. Muitas destas ameaças são o resultado de acontecimentos recentes na política mundial, enquanto outras são o resultado de décadas de política científica assente num modelo em que os trabalhadores científicos são considerados descartáveis e contratados durante décadas em regimes de trabalho profundamente precários.
Da mesma forma, entidades supra-nacionais e governos nacionais têm em muitos casos limitado o financiamento à Ciência a valores residuais não permitindo o reforço dos sistemas científicos e tecnológicos. Portugal não é exceção. Por isto, não deixamos de estranhar o aproveitamento político que tem sido feito desta iniciativa por muitos dos responsáveis políticos, a nível das instituições mas também do Ministro da Ciência e do Ensino Superior, que tem responsabilidades diretas no atual estado da Ciência em Portugal. A sua política faz parte do problema a que ele, nesta marcha, só aparentemente se opõe.
Assim, para a ABIC a Marcha pela Ciência pode ser mais uma iniciativa em que os investigadores e trabalhadores científicos em Portugal, juntamente com outros pelo mundo fora, se mobilizem em nome de valores que se consideram justos, como aqueles que especificamente vêm descritos na página www.marchapelaciencia.pt onde constam os princípios que norteiam esta iniciativa e com os quais, genericamente, nos identificamos enquanto trabalhadores científicos.
De facto, a ABIC tem, ao longo da sua existência, afirmado a necessidade de se terem outras políticas para a Ciência em Portugal e no quadro mundial. Nomeadamente é para nós inaceitável que se continue a ponderar basear a ciência em trabalho precário e em financiamentos perenes. Assim, apelamos a que todos os que hoje sentem como natural a sua participação nesta iniciativa possam também acompanhar a ABIC no conjunto de iniciativas que estão também marcadas para o futuro próximo. Não podemos deixar passar a oportunidade para realçar a iniciativa promovida pela Federação Mundial dos Trabalhadores Científicos contra a precariedade científica, campanha que se iniciou no passado dia 15 de Março e que continuará ao longo deste ano.
Antes e depois de dia 22 de Abril continuaremos sempre a defender melhores condições para os cientistas e a ciência!