Bolseiros da investigação preferem o estrangeiro
In Jornal de Notícias, 13 de Julho 2004
Cerca de 30% dos jovens investigadores portugueses que beneficiam de bolsas de estudo atribuídas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência e do Ensino Superior, preferem estudar no estrangeiro do que em Portugal. Dos quatro mil bolseiros apoiados pela instituição, 1200 procuram “melhor sorte” fora do país alegando “melhores condições laborais e mais alternativas profissionais”.
“Há excelentes embaixadores de investigação portugueses no estrangeiro mas é preciso criar condições para fazer regressar ao país esses jovens”, disse, ao JN, Ramôa Ribeiro, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia, ontem, à margem da sessão inaugural do “IV Fórum Internacional de Investigadores Portugueses” (FIPP) que, amanhã, termina no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra.
Para evitar o “exôdo” dos jovens cientistas lusos, garante Ramôa Ribeiro, o novo Governo vai ter um papel essencial. “É preciso avançar com o programa Damião de Góis e negociar com Bruxelas a prorrogação do Programa Operacional de Ciência e Tecnologia de Investigação (POCTI) que, até ao final de 2006, permitirá um encaixe de 400 milhões de euros para a investigação nacional” defendeu.
“É preciso criar mais emprego científico, melhores condições de trabalho para os nossos investigadores para evitar a sua fuga para os grandes centros de investigação do estrangeiro”, defendeu Seabra Santos, reitor da Universidade de Coimbra. Uma opinião partilhada, ontem, pelo físico José Teixeira – que trabalha em França há quase 30 anos – para quem a criação de bolsas para os cientistas portugueses no estrangeiro regressarem ao país pode revelar-se “uma ilusão” se não lhes forem dadas condições de trabalho.
A necessidade de um reforço financeiro no investimento na área da investigação é “obrigatório”. O objectivo do programa “Agenda Lisboa” visa, até 2010, atingir investimentos em actividades de investigação num valor de 3,0% do PIB. “Esse valor ainda está longe de ser atingido na média da União Europeia (1,9%) e muito mais longe está em Portugal (0,8)” afirmou Seabra Santos.