Associação de Bolseiros denuncia diminuição do apoio estatal
In Público, 3 de Setembro 2003
Pedidos de audiência ao ministro da Ci Pela primeira vez nos últimos seis anos, o número de bolsas de investigação científica diminuíram para menos de um milhar. A denúncia parte da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica, que acusam a Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) de estar a faltar às promessas feitas. Fernando Ramôa Ribeiro, presidente da FCT, garante que a aposta, a partir de agora, tem de ser cada vez mais na qualidade dos doutorados que formamos. Isto apesar dos números apresentados ainda não contarem com algumas bolsas de pós-doutoramento, com as bolsas de doutoramento empresarial e com os resultados dos recursos, sublinha.
No início do ano, a FCT anunciou que as candidaturas a bolsas de investigação científica seriam reunidas num só concurso, a terminar em Maio, e não em dois concursos anuais, em Fevereiro e Junho. Nessa altura, a Associação de Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) alertou para o facto de tal poder significar o decréscimo do número de bolsas atribuídas e o desinvestimento na massa cinzenta nacional. Mas Ramôa Ribeiro garantiu que o objectivo era redireccionar os recursos financeiros para a atribuição das próprias bolsas, minimizando os custos de avaliação, e que as bolsas não diminuiriam por isso.
Ontem, em comunicado, a ABIC anunciou, de acordo com dados fornecidos pela própria FCT, que o número de bolsas atribuídas baixou para 862. Pela primeira vez desde 1997, desceu-se este ano a fasquia das 1000 bolsas.
Apesar do número de candidatos, segundo a ABIC, também ter diminuído, a percentagem de bolsas, tendo em conta o número de candidaturas é também relativamente mais baixa – baixou de 44 por cento para 32 por cento.
“Fica assim claro, confirmando os piores receios da ABIC, a verdadeira intenção da supressão de um dos dois concursos para atribuição de bolsas, anunciada no início deste ano: a redução do número de bolsas, o mesmo é dizer, o desinvestimento na formação avançada de recursos humanos em ciência e tecnologia”, pode ler-se no comunicado.
João Ferreira, presidente da ABIC, afirma que o grupo está à espera de um pedido de audiência com o secretário de Estado adjunto do ministro da Ciência e do Ensino Superior, José Pinto Paixão, já pedida no início do mês, para pedir esclarecimentos. Quanto à reacção dos próprios bolseiros e candidatos, o representante afirma que ainda não houve tempo de reacção mas que a ABIC espera que lhe cheguem as mensagens de descontentamento.
Ramôa Ribeiro afirmou ontem ao PÚBLICO que a aposta tem de ser cada vez mais na qualidade das candidaturas e que, mesmo assim, os números já disponíveis ainda não contabilizam todas as bolsas deste ano: “De facto, tendo em conta os dados imediatos, o número de bolsas diminuiu, mas financiaram-se bolsas de qualidade. Só depois de se saber quantas bolsas de pós-doutoramento, ao todo, se vão entregar – o que se saberá só no final do ano -, e quantos pedidos de recurso vão ser deferidos, é que podemos saber ao certo quantas bolsas se atribuíram. Com toda a franqueza, acho que interpretaram mal os números, não há razão para alarme.”
O responsável da FCT, entidade afecta ao ministério da Ciência e do Ensino Superior, responsável pelo financiamento público do sistema científico nacional, acrescenta: “Estou certo que chegarão às 1000, se contarmos igualmente com as bolsas de doutoramento de interacção entre as universidades e as empresas”, refere, sobre as recentemente criadas bolsas de doutoramento empresarial, agora com uma nova denominação.